Flor do Luto

Há coisas que nascem sem que a gente perceba.

Não fazem alarde. Não pedem licença. Simplesmente surgem, como uma flor teimosa que rompe o concreto das calçadas — ou, talvez, as rachaduras do peito. Crescem no silêncio, entre o que se perdeu e o que restou, preenchendo espaços que a gente nem sabia que estavam vazios.

Essas flores... não são bonitas no sentido convencional. Nem feias. São reais. Feitas de tudo aquilo que um dia fomos obrigados a deixar para trás.

Alguém me disse certa vez que há sentimentos que só nascem quando algo dentro da gente morre. E eu entendi. Não de imediato. Mas entendi.

Elas não nascem com pressa. Levam tempo. São lentas, curvas, cuidadosas. Como se compreendessem a delicadeza de existir onde a alegria já não habita mais. Elas não julgam. Apenas acolhem. Até mesmo aqueles que não sabem nomear a dor que carregam no peito.

Pétalas feitas de lembranças. Um caule frágil, mas firme, que ainda nos liga a tudo que não conseguimos soltar. E, às vezes, é sobre essa flor que nos sentamos — sem saber ao certo se estamos descansando... ou desistindo.

Mas ali, nesse silêncio cheio de folhas que murmuram verdades brandas, a gente entende. O luto não é ausência. É excesso. É a presença que não vai embora, que pesa, que insiste em lembrar. É amor, sim. Amor que ficou depois que tudo caiu.

E, mesmo quando o vento sopra forte, essa flor não se quebra. Ela balança, mas permanece. Porque entendeu que há força em ceder. Que há uma beleza sutil — quase esquecida — em continuar florescendo, mesmo quando tudo ao redor parece dizer o contrário.