Esta Não É Minha Casa

A herança chegou com uma carta.

Sem remetente, sem . Apenas as palavras:

"A casa é sua agora. Mas ela lembra de tudo."

Fui por curiosidade.

Uma casa no interior, de madeira antiga, cercada por árvores que pareciam entortar em direção a ela.

Por dentro, estava intacta.

Nada coberto de poeira.

Como se alguém ainda morasse ali.

As fotos nas paredes eram antigas. Mas uma delas — uma em preto e branco — me mostrou de costas, parado exatamente onde eu estava.

O mesmo casaco. O mesmo corte de cabelo.

A única diferença era o espelho ao fundo...

refletia outra pessoa.

Encontrei um diário no quarto.

Última página escrita à mão:

"Você veio. Achei que nunca mais voltaria. Agora posso descansar."

O resto da noite foi silêncio.

Mas um silêncio cheio.

Como se a casa me estivesse escutando.

Como se ela soubesse que eu nunca tive escolha.

Hoje tentei sair.

A estrada sumiu.

A carta queimei ontem — mas ela reapareceu no travesseiro, escrita com minha letra.

“A casa é sua agora. Mas ela lembra de tudo.”