O Cemitério dos Sussurros

Na pequena cidade de Arvoredo, existe um cemitério esquecido pelo tempo: Santa Madrugada. Velho, tomado por ervas e silêncio, ele é evitado pelos moradores. A lenda diz que, à meia-noite, os mortos sussurram verdades que nenhum vivo deveria ouvir.

Lúcia, uma jovem obcecada por mistérios e lendas urbanas, decidiu desafiar o medo. Armou-se com lanterna, celular e coragem, determinada a gravar tudo para seu canal.

Chegou às 23h45. O portão do cemitério estava destrancado, como se a esperasse. Entrou. O vento uivava entre as lápides, e a escuridão parecia mais densa do que a noite permitia.

À meia-noite, vieram os sussurros.

Baixos. Repetitivos.

“Você voltou…”

“Já era seu destino…”

“Lúcia, por que fugiu da primeira vez?”

Assustada, ela tentou rir. Disse para a câmera que provavelmente era o vento. Até que viu um túmulo com seu nome. Uma lápide recém-colocada. Sua foto. Sua data de nascimento. E a de morte: aquela mesma noite.

O chão tremeu levemente. Vozes começaram a se sobrepor, ficando mais altas, mais urgentes.

“Volte ao lugar onde morreu.”

“Você nunca escapou, só esqueceu.”

Confusa, Lúcia gritou, correu até a entrada — mas o portão tinha desaparecido. Não estava fechado. Estava simplesmente ausente, como se jamais tivesse existido.

Lúcia caiu de joelhos, chorando. E então, seu próprio celular vibrou no bolso.

Era uma notificação do Amino:

“Nova publicação postada por Lúcia: 'Últimos minutos no cemitério. Ouçam as vozes comigo.’”

Mas ela não havia postado nada.

Na tela do celular, o vídeo mostrava ela entrando no cemitério. A câmera tremia... e então, virava para mostrar quem a estava filmando.

Não era ela.

Era uma versão pálida. Olhos negros. Sorriso largo. Usando as mesmas roupas.

Ela já estava morta. Só não sabia.

E agora, ela finalmente lembrava de tudo