![:evergreen_tree: A Floresta Não Esquece-[C]
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[C]
Levei meu gravador por teimosia. Parte de um projeto pessoal: documentar sons d](https://image.staticox.com/?url=http%3A%2F%2Fpm1.aminoapps.vertvonline.info%2F9405%2Facdbc392decb217d30d8d27c2b65a06d5d4dfc4dr1-1536-1024_hq.jpg)
Levei meu gravador por teimosia. Parte de um projeto pessoal: documentar sons da natureza para um canal que ninguém assistia.
Era só isso. Som ambiente. Folhas, vento, talvez um pássaro raro.
O carro ficou na estrada. Andei quase uma hora mata adentro. O tipo de floresta que parece imóvel demais.
Nenhuma trilha aberta. Só vegetação alta, fechada — o tipo de verde que engole som.
No começo, tudo foi normal.
Sons abafados, galhos secos, silêncio úmido.
Mas depois, quando parei de andar... o silêncio também parou.
Comecei a ouvir vozes.
Não vindas do alto, nem de um ponto específico — vinham do ar ao meu redor.
Primeiro, eram sussurros sem sentido. Depois, risos infantis.
Então, os.
De alguém descalço. Atrás de mim.
Gravei tudo.
O instinto mandava correr, mas minhas pernas... não obedeciam.
Fiquei ali, parado, escutando. Até que uma voz chamou:
“Voltou.”
Eu me virei, mas não havia ninguém. Só árvores — retas, imóveis, observando.
Voltei para casa mais cedo.
Não dormi naquela noite.
Pela manhã, revisei o áudio.
Os risos estavam lá. As vozes também.
Mas havia algo a mais.
Uma parte que me fez gelar: uma gravação minha.
Minha voz.
Cantando baixinho, em um idioma que não conheço.
O problema?
Eu nunca cantei.
Em nenhum momento.
Mas minha voz… continuava cantando.
Sozinha.
E ao fundo, entre as folhas, uma outra voz sussurra:
“Agora você também é lembrança.”
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