Não tem momento mais propício que esse para trazer essa discussão! Hoje, dia 08 de Março, no dia internacional da mulher!
É claro que tinha que começar com esse monólogo, que definitivamente vai ficar para a história. Pois esse é o monólogo da atriz America Ferrera, feito no filme da Barbie, lançado aqui no Brasil no dia 20 de Julho de 2023.
E sim eu tinha que trazer ele na íntegra aqui para vocês. Pois esse é o tipo de texto que vale a pena ler e reler milhões de vezes.
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"É literalmente impossível ser uma mulher. Você é tão linda, tão inteligente, e me mata ver que não se acha boa o suficiente. Tipo, temos que sempre ser extraordinárias, mas de alguma forma estamos sempre agindo errado.
Você tem que ser magra, mas não muito. E você nunca pode dizer que quer ser magra. Tem que dizer que quer ser saudável, mas também tem que ser magra. Você tem que ter dinheiro, mas não pode pedir dinheiro porque é mal-educado.
Você tem que ser uma chefe, mas não pode ser má. Você tem que comandar, mas não pode arrasar as ideias dos outros. Você deve adorar ser mãe, mas não fale sobre seus filhos o tempo todo. Você deve ser uma mulher de carreira, mas também estar sempre cuidando dos outros.
Você tem que responder pelo mau comportamento dos homens, o que é uma loucura, mas se apontar isso é acusada de reclamar. Você deve estar sempre bonita para os homens, mas não tão bonita a ponto de tentá-los demais ou ameaçar outras mulheres, porque deve fazer parte da sororidade.
Mas sempre se destaque e sempre seja grata. Nunca se esqueça de que o sistema é manipulado. Portanto, encontre uma maneira de reconhecer isso, mas também seja sempre grata. Você nunca deve envelhecer, ou ser grosseira, se exibir, ser egoísta, cair, falhar, demonstrar medo, sair da linha.
É tão difícil! É muito contraditório e ninguém lhe dá uma medalha ou agradece! E acontece que, na verdade, você não apenas está fazendo tudo errado, como também é tudo sua culpa. Estou tão cansada de ver a mim mesma e a todas as outras mulheres se esforçando para que as pessoas gostem de nós. E se isso tudo também vale para uma boneca que apenas representa as mulheres, então nem sei."
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Escutar/Ler esse monólogo é um tapa na cara de qualquer mulher. É uma sensação que não dá pra explicar. É ver em palavras tudo que a gente ou, a e vai ar. É ter a consciência, é a energia de revolta acumulada, é a vontade de lutar. Mas é também saber que essa luta está longe de acabar. A luta no qual o único objetivo final é ser respeitada.
Quando vamos para a esfera do espiritual, quando olhamos para a religião, para as crenças. Percebemos que nem aí podemos deixar de lutar, nem naquilo que era para nos trazer paz de espírito, tranquilidade, calma. O machismo já está tão enraizado em todas as esferas da nossa sociedade, que a sensação é a de não ter para onde fugir, de não ter um minuto de descanso.
Percebemos que todo lugar é lugar de luta, é lugar de se posicionar. Não temos o privilégio de poder demonstrar fraqueza. Não temos o privilégio de poder parar para respirar. Nem na religião, nem na bruxaria. E esse trecho do texto da Júlia Otero retirado do Almanaque Wicca de 2023 demonstra muito bem isso.
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"Uma bruxa não pode ser ingênua. Do contrário é "queimada", não mais na fogueira, mas como mulher, em sua reputação, sendo excluída ou difamada, coisas tão comuns numa sociedade machista, patriarcal e misógina como a nossa.
Por trás do discurso vazio de uma espiritualidade moralista e opressora como a de muitas religiões tradicionais, vários estereótipos da "mulher ideal" e caixinhas de "tem que ser muitas vezes caem em cima de nossas cabeças. A transfobia vem disfarçada com "sermões gratiluz" com uma espécie de espiritualidade falsa e carregada de preconceitos, afastando mulheres trans, que já são excluídas da sociedade, e agora, novamente, nos círculos femininos, pois aqui só entra "quem sangra", como muitas vezes já escutei Isso tudo revela somente uma falta total de empatia e consciência social, que se mostra de todas as formas, menos espiritualizada.
O feminismo é uma luta política para que mulheres cheguem numa equidade com homens em todas as esferas - inclusive a religiosa."
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Bruxaria e feminismo caminham juntos. Hoje em dia não dá para falar "Eu sou brux@" sem se assumir também feminista.
Se olharmos para a história das religiões, quantas deusas tiveram suas imagens rebaixadas por causa do patriarcado? Quantas deusas levaram a culpa por causa das atitudes do homem? Quantas deusas são retratadas como vilãs? Quantos pecados são associados a mulheres por causa de atos dos homens?
A cantora Bea Duarte em seu novo EP, trás esse assunto de forma magistral nas músicas "Mulheres que correm" e na música "Lilith". Vale muito apena escutar e refletir com essas músicas.
Aí agora eu pergunto a vocês. Até quando vamos deixar eles falarem das nossas deusas assim? Até quando vamos deixar eles fazerem isso com nossas sacerdotisas, nossas mães e irmãs? Até quando vamos permitir isso?
É preciso se engajar. Ir além da conexão com plantas e animais. Espiritualidade também é consciência social. Espiritualidade também é lutar contra a misoginia, contra o preconceito, contra o machismo. Espiritualidade também é defender a liberdade de cada pessoa ser do jeito que quiser ser.
É nosso dever como bruxos, bruxas e principalmente como sere humanos, lutar para reverter esse quadro. É nosso dever criar um ambiente, uma sociedade, plural. É nosso dever lutar contra uma sociedade que exclui e que não inclui.
Falo isso como mulher, falo isso como bruxa.
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Eu não sou costela de Adão
Eu sou filha de Lilith
Eu sou filha de Hekate
Eu sou filha de Maria
Eu sou filha daquelas que a religião ignora, daquelas que foram rebaixadas, daquelas que foram endemoniadas, queimadas na fogueira e esquecidas.
E eu não nasci para agradar!
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Fonte: Autoral

Comments (2)
Tia Simone chora de alegria pela consciência que molda esse texto. :heart_eyes: 🤌
:white_check_mark: