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𝗠𝗲𝘂 único 𝗮𝗺𝗼𝗿 𝗻𝗮𝘀𝗰𝗲𝘂
𝗱𝗼 𝗺𝗲𝘂 único 𝗼́𝗱𝗶𝗼!
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‹ 𝐏.refácio⸼
Com tantas tragédias acontecendo em minha humilde vida — brincadeira, acho que nunca estive tão bem —, por que não falar sobre uma tragédia de amor? E do cinema também, embora finja esquecer esse detalhe. "Romeu + Julieta" é uma releitura da obra criada por William Shakespeare — a famigerada história de dois jovens que ousaram amar em meio ao caos. O filme tinha tudo para ser perfeito: elenco afiado, direção estilizada, cenários visualmente impactantes e, claro, uma fonte clássica daquelas que dispensam apresentações. No entanto, preciso itir, deixou muito a desejar. E não por falta de potencial, mas talvez por excesso de pretensão.
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‹ 𝐒.obre a obra⸼
Durante uma reportagem investigativa transmitida nas televisões de Verona, é apresentada uma das maiores tragédias vividas entre duas famílias influentes da cidade: os Montecchio e os Capuleto. A rixa entre esses dois clãs, embora antiga, continuava inflamando as ruas com violência e escândalos públicos. Em meio a uma dessas confusões, conhecemos Romeu, um jovem dos Montéquio, que aparece melancólico, andando de terno aberto pela praia, com pensamentos profundos sobre amor e dor. Seu primo, Benvolio, tenta animá-lo, mas a tristeza do rapaz por Rosalina — que escolheu seguir a vida religiosa — o consome.
No mesmo cenário fervilhante de tensões e armas douradas com nomes de espadas gravados no cano, conhecemos Julieta Capuleto, uma jovem doce, sonhadora e oprimida pelo peso das tradições familiares e pela pressa de um casamento arranjado com o influente Dave Paris, apresentado como um bom partido por sua mãe e pelo severo pai Capuleto. Enquanto isso, Romeu, convencido por seus amigos a distrair-se, decide ir a uma festa organizada pela família rival, usando uma fantasia para não ser reconhecido. É durante essa festa grandiosa, embalada por luzes vibrantes, danças ao estilo das raves dos anos 90 e o canto angelical de um coral gospel, que Romeu e Julieta se veem pela primeira vez. Ele, vestido de cavaleiro; ela, de anjo. Os dois trocam olhares ao redor de um aquário, como se o mundo parasse por um instante. Sem saberem, a princípio, que pertencem a famílias rivais, trocam um beijo às escondidas atrás de uma cortina, e, mesmo quando a verdade vem à tona, isso não diminui a força da atração que sentem — apenas torna tudo mais dramático.
No dia seguinte, Romeu visita o padre Laurence, um homem calmo e reflexivo que cultiva plantas medicinais e metáforas poéticas. Ao saber do amor entre os dois jovens, o padre acredita que o casamento secreto deles poderia, talvez, reconciliar as famílias e concorda em uni-los. Com a ajuda da ama de Julieta, o plano é posto em prática, e Romeu e Julieta se casam numa singela cerimônia no altar da igreja em ruínas na qual o padre vive, entre vitrais quebrados e promessas silenciosas de paz. Mas a cidade continua fervendo, e a violência volta a eclodir. Teobaldo, o primo de Julieta, confronta Romeu enquanto estão pelas ruas. Romeu, agora parente de Teobaldo por casamento, recusa a briga, mas Mercúcio, o espirituoso e trágico amigo de Romeu, entra no confronto. Em meio a tiros e carros em chamas, Mercúcio é ferido mortalmente e amaldiçoa as duas famílias com sua última fala. Romeu, com raiva e se sentindo culpado, persegue Teobaldo num tiroteio e vinga seu companheiro. Como consequência, o chefe de polícia bane Romeu da cidade.
Ao saber do exílio do marido, Julieta desaba em choro. O padre, então, elabora um novo plano: dar a Julieta uma poção que a deixará em sono profundo por 24 horas, tempo suficiente para que todos pensem que ela morreu e Romeu possa retornar para resgatá-la. Julieta aceita. A cena de sua falsa morte é filmada com um drama pesado, enquanto todos na mansão Capuleto se desesperam ao vê-la "sem vida" e Paris se lamenta diante de seu caixão repleto de flores. Entretanto, a mensagem enviada a Romeu explicando o plano do padre e Julieta não chega a tempo. Ao saber da morte de sua amada pelos jornais, ele, desesperado, compra veneno de um farmacêutico e retorna a Verona. Vestido com um sobretudo preto, dirigindo seu carro em meio à chuva e luzes de neon, Romeu invade a cripta dos Capuleto. Lá, encontra Julieta adormecida. Depois de um último beijo, ingere o líquido dado pelo farmacêutico e morre ao lado de seu grande amor. Alguns segundos depois, Julieta desperta, vê Romeu morto e, desesperada, decide também acabar com a própria vida. O padre chega tarde demais para impedi-la e a tragédia abala todos os envolvidos. As famílias Montecchio e Capuleto, vestidas de preto, se encontram diante das câmeras em uma coletiva de imprensa sombria, carregando o peso de suas escolhas e inimizades.
Com os dois amantes estendidos lado a lado, o narrador anuncia que "nunca houve história de dor mais profunda do que a de Julieta e seu Romeu".
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‹ 𝐄 se...⸼
Talvez o mundo, com suas guerras, suas desilusões e suas tantas formas de separar aquilo que nasce para estar junto, merecesse uma segunda chance. E, quem sabe, Romeu e Julieta também.
Existe algo de eternamente inquietante em finais que nos tomam o fôlego sem ao menos dar tempo para o suspiro. Romeu e Julieta, como dois astros condenados ao eclipse, morreram jovens demais, cedo demais, intensos demais. Foram vítimas não apenas de um amor proibido, mas de um tempo que não soube ar o peso do afeto. Morreram não por fraqueza, mas por uma força tamanha que o mundo ao redor não comportou. E talvez seja justamente por isso que suas mortes doem tanto, ainda hoje — pois o que foi verdadeiro não teve tempo de ser vivido em plenitude.
Mas e se... e se, numa dessas manhãs que nascem com cheiro de esperança, eles voltassem?
Não mais tão jovens, talvez. Ou, ainda assim, presos ao tempo em que pararam, como quem é devolvido à terra sem nunca ter envelhecido. Poderiam caminhar de mãos dadas pelas ruas de Verona e descobrir que os Capuleto e os Montecchio já não se lembram mais por que começaram a se odiar. Poderiam enfim casar-se sob a luz do sol, sem pressa, sem veneno escondido sob o travesseiro, sem bilhetes que chegam tarde demais. Julieta poderia dançar — não como quem tenta escapar do destino, mas como quem o abraça com delicadeza. E Romeu talvez sorrisse pela primeira vez sem carregar o peso da culpa ou do medo. Eles teriam a chance de viver o que nunca viveram: o amor sem desespero, o toque sem despedida.
Ressuscitar Romeu e Julieta seria mais do que trazer de volta dois amantes — seria oferecer ao mundo um pouco de esperança. De que o amor pode vencer, sim. De que há tempo ainda para reparar o irremediável. De que nem toda história bonita precisa terminar em tragédia. E talvez, só talvez, se eles vivessem de novo, Shakespeare também sorriria, pois até mesmo o mais trágico dos poetas sonha, em silêncio, com um final no qual o amor, enfim, permanece.
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‹ 𝐏.osfácio⸼
Talvez o mundo não esteja pronto para Romeu e Julieta vivos; talvez o amor deles só faça sentido no limite entre o sonho e a perda, entre a beleza e a dor. Mas imaginar sua volta, mesmo que por um instante, é como abrir uma fresta na janela do impossível. É acreditar que, entre todas as tragédias inevitáveis, ainda há espaço para um “e se” carregado de esperança. Afinal, se a morte pôde ser vencida por Cristo, por que não permitir que dois corações jovens também escapem do fim e reencontrem, enfim, a paz que nunca tiveram em vida?
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