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Capítulo 4 - O Quase beijo

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Capítulo 4 - O Quase beijo-[IMG=662]

O ar da noite estava carregado de uma energia vibrante, uma mistura intoxicante de músi

O ar da noite estava carregado de uma energia vibrante, uma mistura intoxicante de música pulsante, risos abafados e o doce aroma da pipoca que Clara segurava no colo. O concerto ao ar livre era um mar de rostos iluminados pela luz suave do palco, um caleidoscópio de emoções ecoando com a melodia envolvente que flutuava no ar.

Estavam ali, Clara e Inês, partilhando uma manta de lã xadrez estendida sobre a relva macia, como duas ilhas num oceano de desconhecidos.

Clara sentia-se incrivelmente confortável, uma sensação que já não experimentava há muito tempo. O divórcio havia deixado cicatrizes profundas, roubando-lhe a leveza e a espontaneidade. Mas Inês, com o seu sorriso fácil e a sua forma descomplicada de ver o mundo, estava a curar essas feridas, uma conversa agradável de cada vez.

Inês cantava baixinho a letra da música, a voz ligeiramente rouca misturando-se com a multidão. Clara observava-a, fascinada.

A luz suave do palco dançava no cabelo castanho de Inês, realçando os seus olhos verdes, que brilhavam com uma alegria contagiante. Inês tinha uma beleza natural, despida de artifícios, que a cativava.

- Adoro esta música - disse Inês, virando-se para Clara com um sorriso radiante - Lembra-me do verão ado, quando…

A frase ficou suspensa no ar. Clara não conseguiu ouvir o resto.

Estava demasiado ocupada a perder-se no olhar de Inês. O verde dos seus olhos parecia mais intenso do que nunca, como duas esmeraldas a brilhar na escuridão. Sentiu o coração acelerar, o sangue a correr mais depressa nas veias. Era uma sensação estranha, nova e excitante.

Inês parou de falar, percebendo a intensidade do olhar de Clara. O sorriso desvaneceu-se lentamente, substituído por uma expressão indecifrável. O silêncio entre elas tornou-se denso, palpável, abafando o som da música.

Clara sabia que devia desviar o olhar, dizer alguma coisa, quebrar o feitiço. Mas não conseguia. Estava paralisada, presa no magnetismo dos olhos de Inês. Era como se estivesse a cair num precipício, sem conseguir controlar a queda.

Lentamente, imperceptivelmente, os rostos começaram a aproximar-se. Clara sentiu a respiração leve de Inês na sua pele, o aroma suave do seu perfume, uma mistura floral e cítrica que lhe embriagava os sentidos. Cada milímetro de aproximação era uma tortura deliciosa, uma promessa silenciosa de algo que não se atrevia a imaginar.

O mundo à volta desapareceu. A música tornou-se um zumbido distante, a multidão uma miragem indistinta. Só existiam elas duas, naquele pequeno espaço da manta, suspensas num momento de pura magia.

Os lábios de Inês estavam entreabertos, convidando-a. Clara fechou os olhos, abandonando-se àquele impulso avassalador. Queria beijá-la, provar o sabor dos seus lábios, sentir o calor do seu corpo. Queria esquecer o ado, as mágoas, as inseguranças. Queria somente Inês.

Mas o beijo não aconteceu.

Um flash de realidade invadiu a mente de Clara, como um balde de água fria. O divórcio. Os filhos. A opinião da família. O medo. O medo de se magoar, de magoar Inês, de se desiludir novamente.

Abriu os olhos abruptamente, afastando-se de Inês. O choque foi tão repentino que quase perdeu o equilíbrio. Agarrou-se à manta, procurando desesperadamente um ponto de apoio.

O silêncio que se seguiu foi ensurdecedor, mais forte do que a música, mais pesado do que qualquer palavra.

Clara não conseguia olhar para Inês. Sentia as faces a arder, o coração a martelar no peito.

Finalmente, quebrou o silêncio com uma tosse nervosa - Desculpa… Eu… Acho que vou buscar mais pipocas.

Levantou-se rapidamente, tropeçando na manta. Saiu a os largos em direção à banca de comida, sentindo o olhar de Inês nas suas costas. Cada o era uma tortura, uma confissão silenciosa da sua cobardia.

Enquanto esperava na fila, sentia-se um caos por dentro. Arrependimento, alívio, confusão, medo. Tantas emoções conflitantes a lutarem por espaço. O que tinha acabado de acontecer? Havia colocado tudo a perder?

Quando voltou para a manta, com um saco de pipocas novo nas mãos trémulas, encontrou Inês sentada, a olhar para o palco com uma expressão imível. O silêncio entre elas era agora frio e distante, como uma barreira intransponível.

Clara sentou-se em silêncio, oferecendo-lhe o saco de pipocas. Inês aceitou, sem dizer uma palavra. Comeram em silêncio, evitando o o visual. A música continuava a tocar, mas já não tinha a mesma magia. O resto do concerto ou num borrão. Clara sentia-se desconfortável, culpada, miserável.

Não conseguia concentrar-se na música, nem nas pessoas à sua volta. A sua mente estava presa naquele momento, naquele beijo que não tinha acontecido.

Quando o concerto terminou e a multidão começou a dispersar, Inês levantou-se rapidamente - Eu vou para casa. Estou cansada.

Clara sentiu o pânico invadir o seu corpo. Não podia deixá-la ir assim.

- Inês, espera… Precisamos de falar.

Inês parou, virando-se para ela com os olhos frios e distantes.

- Não acho que haja muito para dizer, Clara.

- Por favor… Só uns minutos.

Inês suspirou, cedendo finalmente.

- Tudo bem. Mas tem de ser rápido.

Sentaram-se novamente na manta, agora com a escuridão da noite a envolvê-las. O silêncio era pesado, opressivo.

Clara respirou fundo, tentando encontrar as palavras certas - Inês, eu… Gostei muito de estar contigo hoje. Gosto muito de ti.

Os olhos de Inês suavizaram um pouco, mas mantiveram-se cautelosos - Eu também gosto de ti, Clara. Mas…

- Mas?

- Mas acho que estamos em momentos diferentes nas nossas vidas. Tu ainda estás a lidar com o teu divórcio, com as tuas inseguranças. Eu não quero ser mais uma complicação na tua vida.

Clara sentiu as lágrimas a picarem nos olhos.

- Mas eu quero estar contigo, Inês. Quero tentar.”

Inês sorriu tristemente.

- Eu sei, Clara. Mas o medo é um obstáculo muito grande. E eu não quero ser o motivo desse medo.

Levantou-se novamente, pronta para partir. Clara agarrou-lhe a mão, desesperada.

- Por favor, Inês… Não vás. Dá-me uma oportunidade.

Inês olhou para a sua mão, depois para os seus olhos. Viu a sinceridade, a vulnerabilidade, o desejo. Hesitou por um momento, dividida entre a razão e o coração.

- Clara - disse suavemente - precisas de tempo. Tempo para te cura, para te libertares dos teus medos. Quando estiveres pronta, se ainda quiseres, procura-me.

Soltou a sua mão e afastou-se na escuridão da noite, deixando Clara sozinha com o seu arrependimento. O silêncio que se seguiu disse mais que mil palavras: uma promessa de um futuro incerto, uma esperança tênue de um amor possível, e a dolorosa constatação de que, por vezes, o medo pode ser mais forte do que o desejo.

Clara sabia que tinha um longo caminho a percorrer, mas, pela primeira vez em muito tempo, sentia-se determinada a percorrê-lo.

Por si, e por Inês.

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