Muito além de futebol. — Ted Lasso e seus ensinamentos sobre a vida.

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O conteúdo a seguir está

recheado de spoilers.

𝗘stética

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◌⃘݄⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀ֵ⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀──━━━

ᓕ⠀⠀⠀ᣳ⠀⠀⠀I know folks like to say,⠀⠀ᣳ⠀⠀⠀⠀ᓗ

⠀⠀⠀“There's no place like home.”

⠀⠀That's true. Man, there ain't a whole

⠀⠀lot of places like AFC Richmond either.

──━━━⠀⠀⠀⠀\ ៶ﾠ\ ៶⠀⠀⠀⠀⠀𝐁𝖾𝗅𝗂𝖾𝗏𝖾!

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⠀⠀━ﾠQuando sua terapeuta de casal diz que o melhor jeito de resolver as desavenças do seu casamento é dando espaço um ao outro, você decide dar 7.923 quilômetros de distância para sua esposa e se mudar para a Inglaterra, para treinar um time cujo o esporte você não sabe nada. Ted Lasso é o maluco que encara essa aventura nessa série de comédia e drama da Apple Tv+, lançada em agosto de 2020. Quando Ted Lasso, um treinador de futebol americano que recentemente levou seu time da segunda divisão a um título na NCAA, é contratado como novo técnico do AFC Richmond sob a nova liderança de Rebecca Welton, as pessoas estão cruzando os dedos para dar certo. Um time da primeira divisão com dificuldades na Premier League requer não só uma boa istração, mas um treinador com experiência, e Ted Lasso, superando toda e qualquer expectativa, é pintado pela mídia e pelos fãs, na sua primeira entrevista com a imprensa, como um completo fiasco. Acompanhamos a indignação dos torcedores e as perguntas dos jornalistas, a maioria delas simples sobre futebol, que Ted não sabe responder. Quando o perguntam quem é o goleiro do time, por exemplo, Ted responde que “é o cara com as mãos do Mickey Mouse”. Para qualquer personagem na série, a escolha de Ted Lasso como novo técnico do time é absurda, quase insana. Quando a trama se desenrola, no entanto, fica claro que essa escolha não foi tão maluca quanto podemos pensar; pelo contrário, ela foi totalmente consciente de sua falta de habilidade e costume, porque Ted não só vai falhar miseravelmente, como Rebecca, a dona do clube, está esperando ansiosamente por esse momento. Mas Ted possui algo que qualquer filme e desenho da Disney se orgulharia: a filosofia do poder da amizade.

⠀⠀━ﾠO AFC Richmond não é instável apenas em campo, mas fora dele também. O time não é nada unido e Ted encara esse como um dos grandes problemas, senão o maior, ali dentro. Quando Ted é questionado por Roy Kent, o capitão que vive irritado, se ele está ciente do assédio que o faz-tudo Nathan sofre pelos outros jogadores, Ted diz que sim e que não irá fazer nada sobre isso. A princípio, a cena pode ser um tanto confusa, já que, do pouco que conhecemos do personagem, é surpreendente ouvir que ele não fará nada; mas, assim que Roy sai da sala, Ted diz que se eles querem mudar algo ali, a primeira barreira que tem que cair é a de Roy. Junto a Kent, somos apresentados a Jamie Tartt, jogador emprestado do Manchester City, a estrela do Richmond e, dentre todos ali, o maior babaca – como todos, incluindo ele próprio, o intitulam. Os dois estão sempre brigando e é nítido como Jamie tem grande influência negativa sobre os outros jogadores. Ted acredita que fazer vários homens de idades diferentes deixarem suas desavenças de lado e trabalharem juntos como uma família é tão difícil quanto parece, mas, entre “biscoitinhos com a chefe”, uma festa de aniversário para um dos jogadores no vestiário e livros de presente, com histórias com as quais os jogadores irão se identificar, ele prepara seu terreno para derrubar muralhas de ego e parar de vez com comportamentos inaceitáveis, enquanto ainda precisa se preocupar com os resultados na tabela e as táticas de jogo para impedir um futuro rebaixamento.

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⠀⠀━ﾠCom piadas e trocadilhos, humor inabalável e frases de efeito que, sinceramente, em breve estarei com várias tatuadas, Ted alcança o coração e a mente dos jogadores e funcionários do clube. Ao decorrer dos episódios, vemos como Ted é um personagem que transborda empatia por onde a, o que eventualmente se torna um ponto muito importante para personagens que não estão acostumados a receber as gentilezas de Ted, ou, indo ainda mais a fundo, não sabiam que precisavam desse apoio até o surgimento do técnico em suas vidas. Ted não apenas se entrega como um amigo empático e preocupado, mas como um técnico também. Em seu primeiro dia, Ted cola um cartaz amarelo acima da porta do seu escritório com o dizer “believe”, que podemos traduzir para “acredite” ou “acreditar”, e fica mais do que óbvio que Ted está ali para ensinar cada um daqueles jogadores a acreditar: neles mesmos, uns nos outros, em boas soluções, em vencer e até mesmo em perder. A série, do início ao fim, nos mostra o verdadeiro ponto daquele cartaz na visão de um líder naquele vestiário e como o respeito de todos para com Ted é construído através da crença em suas forças e potenciais, e que ceder não significa desistir ou perder. Quando Ted a um dia inteiro com o jornalista Trent Crimm com o objetivo de escrever o “perfil de Ted Lasso”, Ted conta que seu objetivo ali não são as vitórias, e sim ensinar aqueles garotos a serem suas melhores versões dentro e fora do campo – isso é o que ele considera ter sucesso em seu trabalho como técnico. Não é preciso muito para concluir que a prioridade de Ted sempre será seus jogadores, suas saúdes mentais e seus bem-estares.

⠀⠀━ﾠTed Lasso é descrito por muitos como “aquele abraço quentinho que você precisava” e eu não poderia concordar mais com isso, não é à toa que é minha série favorita e se você me perguntar para que time eu torço, eu direi que é o AFC Richmond. Apesar de ser uma série esportiva, alguém que não sabe nada sobre futebol não se sentiria perdido, pois há muito além de campos e vestiários para te prender do início ao fim de cada episódio. Você começa a série esperando futebol e risadas e sai entendendo mais sobre a vida e as pessoas do que você jamais imaginou que seria possível. Essa série é o tipo de obra que você assiste e se lembra o quão belo e genuíno é o simples ato de ser humano; é um verdadeiro show de empatia e superação, companheirismo e amizade, e métodos não convencionais para resolver problemas com o toque de humor que te faz dar um sorriso verdadeiro em meio às lágrimas. Porque, acredite em mim, é impossível assistir Ted Lasso sem se emocionar! Cada personagem tem seu arco muito bem elaborado e são tão cativantes que, antes mesmo de perceber, você já decorou seus nomes e se apegou, com o desejo de pegá-los no colo e protegê-los de todo o mal que a vida pode oferecer. Eu não precisei sequer terminar a primeira temporada para sair recomendando a série e concluir que Ted Lasso é um verdadeiro achado, um em um milhão, que retrata a vida em todos os seus altos e baixos.

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⠀⠀━ﾠInicialmente apenas a ex-esposa de Rupert Mannion, que ficou com o clube após o divórcio, Rebecca Welton é, de longe, a personagem mais afetada pelo “Efeito Lasso” e tem uma das maiores viradas de chave da série. Foi ela quem contratou Ted, com o objetivo de que ele afundasse o time para afetar seu ex-marido, já que ele nunca se importou com nada além do Richmond e que o clube era a única coisa que ele já amou na vida. Ela, que deveria ser tida como vilã, acaba sendo mais uma vítima da empatia de Lasso, que começa a levar biscoitinhos para ela e tentar conhecê-la melhor. Ted é, também, um grande ponto de apoio quando o assunto é casamento e divórcio, já que ele próprio está enfrentando isso. Acompanhamos Rebecca não apenas se apegando a Ted, mas também aprendendo a gostar de seu cargo enquanto enfrenta todos os tablóides que ainda envolvem sua imagem nas notícias de Rupert, que a traiu incontáveis vezes e, ainda nos dias atuais, surge com novas traições descobertas da época do casamento, e a pressão de ser a única mulher no comando de um time de primeira divisão. Acredito que a grande virada de chave, ou o início dela, está no ritual de “limpeza de fantasmas” que Ted e os jogadores organizam quando descobrem que a sala da enfermaria é assombrada pelos espíritos dos jovens que lutaram na guerra, já que o estádio do Richmond foi usado como disfarce para contratar garotos para a guerra. Ted sugere que eles precisam deixar o ado no ado, então todos deveriam jogar algo importante do ado fora, para seguirem em frente. Rebecca é convidada a participar do ritual, e o item que ela se despede é o jornal do dia atual, dizendo que ali há algo que ela está tentando se livrar há muito tempo, e completa com “foda-se os haters”, dando a entender que esse “algo” é a própria mídia que a persegue. A atriz Hanna Waddingham confessou que sua personagem é inspirada em Karren Brady, atual vice-presidente do West Ham: “Eu acompanho o poder inabalável dela em um mundo masculino há anos. E, mesmo assim, ela nunca perde a feminilidade ou escolhe escondê-la por um segundo sequer. Acho que ela é um modelo maravilhoso para jovens mulheres que devem se cansar de crescer vendo mulheres excessivamente glamurosas e artificiais nas capas das revistas femininas.” Rebecca, embora um dos poucos ícones femininos da série, é sem dúvidas um dos mais importantes, com seu empoderamento e o grande ensinamento de que quem Rupert foi ou é, nunca a definiu e nunca irá.

⠀⠀━ﾠAinda além, em sua relação com o treinador, Ted possui formas criativas e não invasivas de defender Rebecca, algo que eu particularmente acho justo pontuar aqui, já que mesmo com personagens fortes, estamos sempre acostumados a vê-las sendo salvas por homens. Ted Lasso quebra um pouco desse triste clichê de forma não convencional. Uma cena memorável é quando Rebecca precisa se encontrar com dois acionistas e Ted a acompanha, mas, no lugar disso, eles encontram o ex-marido de Rebecca, que convenceu os acionistas a venderem suas ações do clube para Bex, a atual namorada dele. Rebecca fica nervosa e descontente com isso, mas Ted faz uma aposta com Rupert num jogo de dardos: se ele perder, Rupert poderá escolher a escalação do time pelas próximas duas temporadas, mas se vencer, Rupert e Bex nunca poderão entrar no camarote dos donos. Ted vence e zomba que Rupert deveria ter perguntado se ele já havia jogado dardos antes, que ele diria “sim, senhor”. Nada melhor do que defender a paz de espírito da sua chefe com um banquete de humilhação ao ex-marido dela para todo o bar que o conhece.

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⠀⠀━ﾠNão contente com todas as suas lições sobre relações pessoais, Ted Lasso vem, também, para nos mostrar como a saúde mental é um dos pontos mais importantes em nossas vidas. A Dr. Sharon é contratada quando Dani Rojas acaba, num terrível acidente, se responsabilizando pela morte de Earl, o cachorro mascote do time que, durante um pênalti decisivo de Dani, acaba correndo atrás de um pássaro na direção do gol e é acertado em cheio pela bola. Ele fica traumatizado e é aqui que vemos a Dr. Sharon em ação pela primeira vez. Dani é um personagem conhecido por sua frase “futebol é vida!”, mas após o acidente com Earl e as sessões com a doutora, aprende que futebol é vida, mas que pode ser morte também, e nos mostra que a culpa de um evento que não podíamos prever e nem impedir não é nossa. Collin, outro jogador, diz que Sharon o ajudou a recuperar a confiança em si mesmo e que também o ajudou a aceitar melhor sua sexualidade, algo que ele confessou a Trent, que também é gay. Ted, no entanto, fica relutante com a contratação de uma psicóloga, porque ele tem um histórico ruim com psicólogos; porém, as barreiras de Ted caem após abandonar um jogo no meio devido a um ataque de pânico, o que se torna recorrente na série. A primeira sessão é confusa, mas eventualmente Sharon consegue a confiança do treinador e ele a a se sentir mais confortável com aquela ideia. Sharon não só ajuda Ted e os jogadores, como também mostra a importância de fazer terapia e que ter alguém para conversar pode ser libertador.

⠀⠀━ﾠBilly Harris, ator de Colin, disse ao Out: “Eu acho que o que você está vendo, e estou falando mais sobre saúde mental aqui, é o poder de falar sobre seus problemas e falar sobre as questões que você tem. E agora ele [Colin] tem outra pessoa a quem recorrer.” A existência desse tópico é importantíssima para quebrar o tabu existente sobre saúde mental no esporte, principalmente no futebol, que é de um público majoritariamente masculino, de um pensamento conservador onde homens precisam ser fortes o tempo todo ou que homens não têm esses tipos de problemas, ou até mesmo o discurso de que “é frescura” e “eu estou bem, não preciso de terapia”, como no próprio caso de Ted, o que se mostra mentira. Fora da série, temos grandes exemplos de atletas que vêm trazendo o tópico “saúde mental” para a mesa, como Richarlison, atual jogador do Tottenham, que disse em uma entrevista para a ESPN que queria ir do treino para a cama: “Antes eu ia treinar e já queria voltar para casa, para o quarto, porque não sei o que estava dando na minha cabeça. Cheguei a falar para o meu pai que eu ia desistir. Dá até tristeza de falar, sabe?”. Publicado em abril de 2024, um levantamento feito pela reportagem do Uol diz que 50% dos times da Série A do Brasileirão masculino têm psicólogos em sua comissão técnica; Jhon Arias, do Fluminense, disse durante uma coletiva de imprensa: “Minha relação com a Emily [psicóloga do time] é ótima, uma pessoa que me ajudou muito desde a minha chegada. Toda vez que posso, tento enaltecer o trabalho dela. Aqui muita gente trabalha muito, talvez fora das câmeras, mas carregam o time em momentos importantes.”

⠀⠀━ﾠBrendan Hunt, co-criador da série e ator de Beard, falou para a RadioTimes: “Até certo ponto, a vulnerabilidade masculina ainda é um pouco tabu, especialmente nos esportes. [...] Se você tem coisas acontecendo que vão lhe trazer alguns sentimentos, não fuja dos sentimentos, apenas tenha-os. Você ainda pode ir ao pub depois – mas não vá ao pub em vez disso.” É muito responsável e corajoso dar o primeiro o em direção à melhora mental, não é algo do qual devemos nos envergonhar, esconder ou, ainda pior, nos privar. Rafael Veiga, do Palmeiras, por exemplo, nos diz: “Tudo começa na cabeça, não só no futebol, mas em todas as áreas da vida. O que pensamos é o que nos governa, por isso temos que cuidar dos nossos pensamentos e crenças. Faço terapia há três anos e acho muito importante.” Richarlison completou em sua entrevista: “Hoje a professora veio me agradecer por estar levando isso para o mundo do futebol, para o extracampo, porque é muito importante e, querendo ou não, salva vidas. Eu tinha esse preconceito antes, achava que era frescura, que estava doido. Minha família mesmo, há pessoas que acham que quem vai para o psicólogo é doido. Eu descobri isso e achei maravilhoso. Foi a melhor descoberta que tive na minha vida.”

Se você precisa de ajuda, procure terapia! Não caia no discurso de que cuidar da sua saúde mental é futilidade.

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⠀⠀━ﾠEssa é a parte ápice para os fãs médios de futebol: “começou a lacração”, pois vamos falar da representatividade LGBTQIA+ na série. Embora não seja o único personagem da comunidade, é impossível entrar nesse tópico sem falar de Colin Hughes. Esse tema é aberto no episódio “No Armário” da terceira temporada, onde conhecemos Michael, o namorado secreto do jogador, que na inauguração do restaurante de Sam é apresentado como “amigo”. Mais tarde, quando está acontecendo uma massa de vazamento de fotos íntimas de celebridades, os jogadores decidem apagar todas as fotos comprometedoras de seus celulares, mas Colin tenta fugir de ter que fazer isso. Isaac, atual capitão do Richmond, o segue e acaba olhando seu celular e descobrindo que Colin é gay. A série, a partir disso, nos faz acreditar que Isaac sente repulsa por Colin, evitando colocar a mão perto da dele e sequer olhando para ele. Durante um jogo, no entanto, Isaac se frustra com a torcida que grita fervorosamente diversos insultos homofóbicos e parte para cima de um dos torcedores; ele recebe um cartão vermelho e é expulso do jogo. No vestiário, quando Jamie diz que eles deveriam apenas ignorar os xingamentos, Isaac dispara que não é certo ignorar, porque pode haver uma pessoa gay no time. Ao contrário do que todos pensam, que Isaac é gay, Colin revela que na verdade é ele. Na série, Colin diz a Trent que não quer ser um porta-voz da comunidade LGBTQIA+; ele apenas quer levar uma vida normal e que, quando o time vencer, ele quer poder beijar seu namorado como os jogadores beijam suas namoradas.

⠀⠀━ﾠBrendan Hunt disse ao RadioTimes que eles decidiram, antes da segunda temporada, que queriam um jogador gay no time: “Podemos ser um clube de futebol falso, mas estamos tentando mostrar um pouco da realidade do futebol aqui.” Ele diz também que estavam na dúvida de quem escalar para o papel, mas que, no fim, a escolha de encaixar a ideia em um personagem que já existia ajudava ainda mais a ar a mensagem que eles queriam: um jogador que esconde tão bem seu segredo por medo que nunca chegaríamos a essa conclusão sozinhos; “Quando as pessoas voltarem e assistirem ao show agora, depois dessa revelação, elas vão ficar tipo, 'Uau, ele escondeu isso por tanto tempo. Colin tem que ar tanto tempo sem ser quem ele é.' Acho que isso ajuda a contar a história melhor.” Billy Harris, ator que dá vida ao Colin, também falou sobre para o Out: “Desde o início, vi que Ted Lasso não era apenas uma comédia sobre futebol, era sobre o mundo. Foi um pensamento meu que colocariam um jogador de futebol gay, porque é um assunto tão grande no esporte e no atletismo como um todo. [...] Vemos todos os jogadores de futebol como estrelas e não vemos quem realmente são.”

⠀⠀━ﾠAs sáficas também não ficam de fora do assunto, embora sua representação tenha causado opiniões divergentes nos telespectadores. Keeley Jones, ex-namorada de Jamie e de Roy, que vivia um triângulo amoroso com os dois jogadores, finalmente tem sua bissexualidade explorada em um relacionamento sáfico com sua chefe, Jack. No entanto, o relacionamento até então fofo das duas começa a decair após um vídeo adulto de Keeley ser vazado na internet. Keeley diz não se arrepender de tê-lo gravado, por mais abalada e sensível que ela esteja naquele momento, e Jack diz que ela deveria se desculpar publicamente por ter feito o vídeo – ainda que a vítima ali seja Keeley. Muitos fãs pintam Jack como uma personagem que se tornou rapidamente uma bandeira vermelha ambulante. A atriz, Jodi Balfour, contou ao TvInsider sobre os acontecimentos: ”É devastador o que acontece com ela e a maneira como Jack responde. Na minha mente e para entrar no ponto de vista de Jack e habitá-lo e não julgá-lo, eu realmente acredito que você está assistindo alguém reagir de um lugar de condicionamento. Eu quero acreditar que há uma versão mais evoluída dela esperando para emergir e em uma realidade alternativa, elas não se separam disso. Jack tem muito a aprender com Keeley.” Jodi Balfour também ao TvInsider quando foi questionada sobre como é viver um personagem da comunidade, algo que não foi realmente explorado até a atual temporada: “Sabe, não me ou despercebido o quão ampla é a audiência desse programa. E então eu suponho que silenciosamente, sem nenhuma expectativa, a esperança é sempre que as pessoas que assistem ao programa, que podem não assistir a nenhum outro programa que tenha algum tipo de representação queer, sejam expostas a isso de uma forma que mude seu interesse, compreensão ou compaixão, que nos aproxime mais do que nos afaste. O melhor cenário é um impacto realmente gradual, mas positivo, em alguém.”

⠀⠀━ﾠFora do mundo de Ted Lasso, em 2021, Josh Cavallo se assumiu gay através de um vídeo postado nas redes sociais: “Eu espero que, compartilhando quem eu sou, eu possa mostrar a outros que se identificam como LGBTQ+ que eles são bem-vindos na comunidade do futebol.” disse no vídeo. Robbie Rogers, em 2013, também assumiu que era gay, mas se aposentou cedo por medo da repercussão – hoje, ele é casado com Greg Berlanti, e o casal é pai de um garotinho. Em território brasileiro, não podemos deixar Richarlyson de fora! Ex-jogador do São Paulo e do Atlético-MG, Richarlyson revelou que é bissexual durante o podcast “Nos Armários dos Vestiários”: “A vida inteira me perguntaram se sou gay. Eu já me relacionei com homem e já me relacionei com mulher também. Só que aí eu falo hoje aqui e, daqui a pouco, estará estampada a notícia: ‘Richarlyson é bissexual’. E o meme já vem pronto. Dirão: ‘Nossa, mas jura? Eu nem imaginava’. Cara, eu sou normal, eu tenho vontades e desejos. Já namorei homem, já namorei mulher, mas e aí? Vai fazer o quê? Nada. Vai pintar uma manchete que o Richarlyson falou em um podcast que é bissexual. Legal. E aí vai chover de reportagens, e o mais importante, que é pauta, não vai mudar, que é a questão da homofobia. Infelizmente, o mundo não está preparado para ter essa discussão e lidar com naturalidade com isso”, disse.

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⠀⠀━ﾠMaior do que todos os problemas que os personagens enfrentaram ao decorrer das três temporadas, é seguro assumir uma coisa: eles estavam juntos como uma família. Esse é o “Efeito Lasso” tão presente nessa história; a nobreza de aceitar e acolher, de ensinar e não julgar, de focar nas coisas boas mesmo rodeado de coisas ruins, de fazer o que você ama e de estar com quem você ama. Ted Lasso é, sem dúvidas, uma obra de arte humana. O que vi essa série fazer, eu dificilmente vou achar em outro lugar. O AFC Richmond, mais do que um clube, se transformou numa casa que funciona à base de respeito mútuo. Mais do que tudo, Ted Lasso nos mostra temas extremamente importantes de se falar sobre, principalmente no esporte como o futebol, temas considerados tabus enormes e que, todos sabemos, continuarão ali, existindo ano após ano, temporada após temporada, falemos disso ou não. Um treinador que não podia conceber qualquer pensamento coerente sobre futebol, no fim, mostra que a série, em seu núcleo, não é sobre futebol. Ted nos ensina o amor, o respeito, a cooperação e o trabalho em equipe. Para mim, Ted Lasso surgiu num momento extremamente sensível da minha vida e eu senti cada frase de efeito me marcar como nunca havia visto acontecer antes. A série é confortável, faz parecer que a vida é melhor do que imaginamos e que o sol, apesar dos pesares, ainda vai nascer para nós depois do frio da noite. É sobre acreditar que dias melhores virão, sobre confiar naqueles que te cercam, sobre amar e ser amado sem medo, sobre ser nós mesmos sem se importar com o que as pessoas dirão ou deixarão de dizer. “Todas as pessoas são pessoas diferentes” é uma das frases de Ted Lasso e não poderia estar mais certa. Todas as pessoas, na série, são pessoas diferentes, com problemas diferentes e visões de mundo diferentes, mas todas elas funcionam em harmonia graças ao amor e respeito umas pelas outras. E eu acredito que há muito disso faltando no futebol: amor e respeito. Ted Lasso não é para as mentes fechadas que acompanham o esporte, é para aqueles que buscam aprender e se permitem ser ensinados enquanto ainda desfrutam de alguns caras jogando bola. Eu me despeço por aqui, fellas, e como já diria meu grande amigo: “be a nice guy, a vida cobra!”.

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Richmond till we die!

We know we are, we sure we are,

We're Richmond till we die. ♡

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