Ele não pensa nisso.

Ele não pensa nisso.

Ele não pensa nisso. Ele levanta cedo todas as manhãs. Ele aumenta o volume de suas músicas ao máximo, mesmo que o som ensurdecedor quase faz suas orelhas sangrarem. Ainda sim, ele não pensa nisso. Ele não toma mais café. Ele beija novas bocas. Ele visita novos bares. Ele arruma um emprego. Ele não pensa nisso. Ele não o dá mais carona para a escola. Ele não usa suas roupas favoritas. Ele não sente mais o cheiro de seu perfume. Ele não fuma mais aquele cigarro barato. Ele não bebe sua bebida favorita. Ele não assiste seus jogos de futebol. Ele não pensa nisso. Ele não joga seus jogos favoritos. Ele não pensa nisso. Ele dirige o mais rápido que pode. Ele não lê seus livros favoritos. Ele não pensa nisso. Ele se engana todos os dias. Ele teme olhar para o próprio reflexo no espelho. Ele silencia seus pensamentos. Mas então, as memórias retornam; o corpo dele sob o seu, as declarações, o cheiro forte de cigarro sendo quase a sua fragrância, a fisionomia andrógina, as palavras sujas, as promessas falsas. E então, ele pensa nisso. E se amaldiçoa por ter gastado todo seu tempo pensando em não pensar nisso.