#Destaque # Autoral
As horas am em um ritmo muito lento, o TIC TAC do relógio soa a noite tão devagar quanto as batidas do meu coração. As horas am e está quase na hora de dormir, porém, em meio a isso vem a apreensão: não durma, não sonhe, não fale, não pense... A noite a e adentra a madrugada, TIC TAC soa o relógio, ela está vindo, vai te machucar, vai te magoar e dizer o que você não quer ouvir.
Tomo café para não dormir, uma, duas, três xícaras, mas isso não ajuda muito. Mais um TIC, ela vem, amargurada, triste, com raiva, dizendo: "Você é imprestável, não serve para nada, não consegue nada, não faz falta, não merece o amor de ninguém." As horas am, já são 4 da manhã e ela continua implacável... "Você é feia, não merece amigos, todos dizem que gostam de você, mas na verdade sentem pena. Vai sempre ser sozinha, usada como papel e jogada no lixo." No lixo é jogada, no lixo vai se transformar. "Idiota, imbecil, mal amada, garota frustrada, decadente, incapaz de qualquer ato que preste ou mereça um pingo de atenção. Mereces a solidão, você não tem coragem nem de me enfrentar, quanto mais enfrentar os outros. Coitada, nem mesmo digna de pena você é. Por que não acaba com tudo de uma vez?"
"Você é importante", dizem eles, "mas não acredite, eles não estão sendo sinceros, têm pena de você. Pra quem eles correm quando precisam? Pra quem eles correm quando têm algo legal pra contar? Você é amiga da boca pra fora, alguém que podem aturar, aturam por enquanto, depois é só lembrança." TIC TAC, são 6 da manhã, ela fala mais baixo e quase inaudível. Em meu desespero, sem mais aguentar tanta dor e tristeza, corro para o banheiro e, lavando o rosto, me olho no espelho... Olhando no espelho, meu reflexo cansado por não dormir a dias começa a pesar com a voz que diz jamais irá me abandonar...
Após lavar o meu rosto, corro para o meu quarto, onde me escondo no cantinho da parede e começo a chorar, sem mais forças para segurar tudo que tenho guardado no peito. Mas sempre olhando o relógio, porque ela ainda está lá, lembrando que a noite ela volta para mostrar o quanto eu sou insignificante, pois ela é como minha carne ou o ar que respiro. Ela é meu reflexo, o gesto, a voz. Ela é e sempre será a minha sombra, ou será que eu que sou a dela?
Comment