Fazer terapia ninguém quer

⠀

⠀

𝘄.𝖾𝗅𝖼𖹭𝗆𝖾

──────── ───

⋯  ⋯  ⋯  ⋯  ⋯  ⋯  ⋯  ⋯  ⋯

⠀

⠀

ര 𝐈𝗇𝗍𝗋𝗈𝖽𝗎𝖼̧𝖺𝗈 ｡⎯⎯

⎯⎯⎯⎯⎯⎯⎯⎯⎯⎯⎯⎯⎯⎯⎯⎯⎯⎯⎯⎯⎯

───────    .    ────

⠀

Lá estava eu, mexendo no Pinterest e procurando renders para as minhas edições, quando me deparei com algumas fanarts de Uchiha Madara e, sinceramente, não consegui deixar de irar sua figura imponente, robusta e vigorosa. Que homem! Não é à toa que ele é o meu maior crush dos animes. Ah, vai me dizer que vocês também não têm uma quedinha por algum personagem 2D? Eu tenho e não nego! iro muito o Madara, além de lindo, ele também é muito forte e tem uma história bem comovente, mas este conteúdo não é relacionado ao meu amor por ele. Na verdade, tem a ver sim um pouquinho, porém não é esse o ponto que quero chegar. Enquanto eu babava pelo Madara no Pinterest, acabei sendo pega de surpresa por uma reflexão que me deixou um pouco curiosa: por que eu classifiquei um dos piores vilões de Naruto como o meu personagem favorito de todos os animes? Porque assim, pensando racionalmente, não faz o menor sentido levando em conta principalmente as atrocidades que ele cometeu. O cara, simplesmente, manipulou seu próprio clã, tentou matar o Primeiro Hokage (que foi seu melhor amigo), quis dominar Konoha, usou Uchiha Obito e iniciou uma guerra contra a Aliança Shinobi; só uma pequena lista de atrocidades que anula completamente qualquer honra que ele já tenha tido. Mas foi aí que a minha reflexão chegou ao ápice e me questionei novamente: por que gostamos tanto de vilões? Pode ser de qualquer obra conhecida, o antagonista sempre ganha popularidade e uma quantidade impressionante de fãs. Ok, eu compreendo que nem todo ser nasce vilão; acontecimentos marcantes em suas trajetórias de vida nos ajudam a entender melhor o porquê de eles acabarem se tornando a pessoa desprezível que nós conhecemos. Mas este ainda não é o ponto principal do blog. Atualmente, a minha maior intriga está sendo o porquê de nos atrairmos mais por personagens com índoles duvidosas, o que nos leva a ter essa iração distorcida por figuras que, em teoria, deveriam ser desprezadas? Pensando nisso, resolvi escrever este conteúdo para poder explorar melhor esse fascínio peculiar que muitos de nós temos por antagonistas tão complexos quanto Madara. Vamos tentar entender o que há por trás desse paradoxo emocional e discernir se isso não nos torna tão ruins quanto esses personagens.

⠀

ര 𝗩𝗂𝗅𝖺̃𝗈 ｡⎯⎯

⎯⎯⎯⎯⎯⎯⎯⎯⎯⎯⎯⎯⎯⎯⎯⎯⎯⎯⎯⎯⎯

───────    .    ────

⠀

Decidi fazer algumas pesquisas na internet na tentativa de entender melhor o que é necessário para moldar um vilão e segundo diversos artigos científicos que encontrei, os antagonistas são geralmente construídos a partir de uma combinação complexa de fatores psicológicos, sociais e contextuais que ajudam a explicar melhor suas motivações e ações, obviamente. A começar temos os traumas de infância, que são frequentemente o ponto de partida; nos filmes é sempre retratado o (até então, não vilão) personagem ando por experiências caóticas como perdas, abusos ou rejeição e depois disso, eles acabam formando uma autodefesa extrema que os faz crescer buscando vingança ou poder. Outra coisa que li em um dos artigos e achei muito interessante foi a Teoria do Apego, ela sugere que a ausência de vínculos emocionais durante a juventude gera desconfiança e dificuldade em construir relações afetivas, fazendo a criança desenvolver uma visão egoísta e distorcida do mundo. Outros fatores que achei extremamente relevantes são a psicopatologia e a personalidade, ambos indicam que na maioria das vezes, os vilões possuem traços como narcisismo, psicopatia ou transtornos antissociais; antagonistas com essas características costumam ignorar completamente normas sociais e de bom senso, justificando suas ações hostis com base em suas próprias crenças, sem se importar com as consequências negativas para outras pessoas. Não podemos esquecer que os cenários sociais também desempenham um papel importante no desenvolvimento da personalidade de um antagonista, discriminação, exclusão e ambientes marcados por conflitos e guerras são exemplos disso; ando por essas experiências, o vilão acaba desenvolvendo uma visão distorcida de justiça e alimentando um senso de vingança perigoso. Como consequência, após tantos episódios traumáticos, muitos vilões começam a buscar propósitos extremos e desenvolvem uma necessidade obsessiva de corrigir injustiças (reais ou imaginárias), mesmo que isso sacrifique o bem-estar dos outros. Esses fatores juntos acabam criando personagens extremamente complexos cujas ações, por mais terríveis que sejam, são reflexos das experiências marcantes que eles viveram. Talvez seja exatamente essa complexidade que nos faz sentir um misto de fascínio e, às vezes, até mesmo uma pontinha de empatia. No entanto, isso não significa que devemos usar essas justificativas para aceitar as maldades dos vilões ou chegar ao ponto de endeusá-los. Acredito que muito disso também depende do caráter e da personalidade do personagem, caso contrário, o próprio Naruto teria motivos de sobra para ser o pior dos vilões.

⠀

ര 𝐎𝗋𝗈𝖼𝗁𝗂𝗆𝖺𝗋𝗎 ｡⎯⎯

⎯⎯⎯⎯⎯⎯⎯⎯⎯⎯⎯⎯⎯⎯⎯⎯⎯⎯⎯⎯⎯

───────    .    ────

⠀

Vamos falar dos vilões de Naruto, começando pelo icônico e lendário Orochimaru, o visionário incompreendido de Konoha e principal antagonista da era clássica. Sua primeira aparição foi um susto para todo mundo: aquele visual andrógino, a voz aveludada e os jutsus mais estranhos e assustadores; até a trilha sonora dele conseguia dar medo, deixando claro que Orochimaru não foi apenas um simples vilão, mas sim O Vilão! Reconhecido como um dos Sannin, Orochimaru não se contentou em ser apenas brilhante e preferiu brincar de cientista louco também; fundou sua própria vila, manipulou meio mundo ninja e perseguiu corpos alheios (literalmente) em busca da imortalidade e, principalmente, do Sharingan de Uchiha Sasuke. Embora aparentasse ser apenas cruel, suas ações também tinham raízes em traumas, assim como qualquer outro antagonista. Tudo começou quando ele encontrou uma cobra branca ao visitar o túmulo de seus pais, o significado dela despertou em Orochimaru o início de sua obsessão por renascimento e poder absoluto. Esse foco o levou, no futuro, a abandonar os ideais de Konoha, realizar experimentos proibidos e, mais tarde, orquestrar um ataque à vila, que culminou na morte de seu antigo mentor, o Terceiro Hokage. Atualmente em Boruto, Orochimaru é praticamente irreconhecível em relação ao ser desprezível que ele já foi, vive em paz (ou assim parece) focado em pesquisas supervisionadas e até criou Mitsuki, um experimento que ou a ser considerado seu “filho”; tudo isso enquanto mantém uma relação curiosamente tranquila com Konoha. Mas ele continua tão intrigante quanto sempre foi, só que agora um pouco mais controlado.

⠀

ര 𝗡𝖺𝗀𝖺𝗍𝗈/𝖯𝖺𝗂𝗇 ｡⎯⎯

⎯⎯⎯⎯⎯⎯⎯⎯⎯⎯⎯⎯⎯⎯⎯⎯⎯⎯⎯⎯⎯

───────    .    ────

⠀

Nagato, também conhecido como Pain, é um daqueles vilões que mexem com a gente, sabe? Acredito que tenha sido o mais dramático do anime, ele não era simplesmente mau, destruindo as coisas só por pura diversão; Nagato tinha uma história comovente por trás de suas ações. As tragédias já marcaram sua vida logo cedo: perdeu os pais durante a guerra e, mais à frente, foi forçado a participar da morte de seu melhor amigo, Yahiko. Já podemos imaginar o quanto isso pode moldar alguém, né? Com esse acúmulo de dores, Nagato concluiu que o único jeito de acabar com o sofrimento do mundo era fazer com que todos assem pela mesma aflição que ele. Foi assim que nasceu Pain, líder da Akatsuki, trazendo consigo um forte discurso sobre dor e paz e um aspecto quase divino; sua determinação foi tão fria que ele destruiu Konoha como se fosse nada. Mas podemos compreender que no fundo, tudo o que Nagato queria era um mundo melhor, o problema foi que ele escolheu seguir o caminho errado para chegar lá, às vezes me questiono se ele era realmente mau ou apenas um idealista perdido. Porém, no fim, Naruto, com sua teimosia em acreditar nas pessoas (mais o famoso “Discurso no Jutsu”), conseguiu abrir os olhos de Nagato e mostrar a ele que havia outras formas de lutar pela paz sem praticar iniquidades. Pain foi derrotado, mas Nagato conseguiu encontrar redenção ao usar suas últimas forças para trazer de volta à vida as pessoas que haviam morrido durante seu ataque a Konoha.

⠀

ര 𝐎𝖻𝗂𝗍𝗈 ｡⎯⎯

⎯⎯⎯⎯⎯⎯⎯⎯⎯⎯⎯⎯⎯⎯⎯⎯⎯⎯⎯⎯⎯

───────    .    ────

⠀

Uchiha Obito é outro personagem de Naruto que teve uma das transições mais trágicas para a vilania, marcada principalmente pela perda e manipulação; sua vida mudou completamente durante uma missão na Terceira Guerra Mundial Ninja quando, após salvar Kakashi, ficou preso sob escombros e foi dado como morto. No entanto, Obito sobreviveu e foi resgatado por Uchiha Madara, que aproveitou sua vulnerabilidade para plantar a ideia de que o mundo era dominado por sofrimento e injustiças. Inicialmente, Obito relutou em aceitar os ideais de Madara, mas seu momento de ruptura ocorreu ao testemunhar Rin, a pessoa que ele mais amava, ser morta por Kakashi em um cenário cuidadosamente arquitetado. Devastado e consumido pela dor, Obito abraçou a visão de Madara sobre o Tsukuyomi Infinito, uma utopia ilusória da qual não haveria sofrimento ou perdas; ele assumiu a identidade de Madara e se tornou o principal manipulador nos bastidores da Akatsuki, antes de se apresentar como Tobi. Também foi responsável por grandes tragédias, como o ataque da Nove-Caudas a Konoha (que resultou na morte de Kushina e Minato, seu antigo sensei) e a Quarta Guerra Mundial Ninja, onde quase conseguiu realizar o plano do Tsukuyomi Infinito. No entanto, ao ser confrontado por Naruto e enxergar nele a lembrança do garoto cheio de sonhos que um dia foi, Obito conseguiu olhar além do ódio e da dor que o consumiram por tantos anos, percebendo o quanto havia se desviado de quem realmente era e num ato de coragem e arrependimento genuíno, sacrificou sua vida para proteger uma pessoa que já havia sido importante para ele. Apesar de um pouco tarde, Obito conseguiu encontrar redenção em honrar os ideias que um dia ele tanto acreditou.

⠀

ര 𝗠𝖺𝖽𝖺𝗋𝖺 ｡⎯⎯

⎯⎯⎯⎯⎯⎯⎯⎯⎯⎯⎯⎯⎯⎯⎯⎯⎯⎯⎯⎯⎯

───────    .    ────

⠀

O vilão mais emblemático de Naruto com certeza foi Uchiha Madara, o personagem que marcou o anime como um dos maiores antagonistas, principalmente por ter atuado em duas vidas. Originalmente, Madara foi um dos fundadores de Konoha ao lado de Senju Hashirama, conquistando a paz entre seus clãs, que até então eram rivais. No entanto, após a construção da vila, Madara percebeu que os Uchihas eram marginalizados e tratados com desconfiança pelo novo sistema, que parecia favorecer apenas os Senjus. Seu ressentimento aumentou quando os membros de seu clã se recusaram a apoiar suas ideias, por temerem uma nova rivalidade entre clãs, especialmente após a eleição de Hashirama como Hokage, uma decisão que para Madara simbolizou que ele e os Uchihas jamais teriam um lugar de destaque em Konoha. Alimentando as mágoas e se isolando cada vez mais, Madara concluiu que a paz verdadeira não seria alcançada no sistema de Konoha e decidido a criar um mundo sem conflitos, rebelou-se contra a vila; mas após sua derrota para Hashirama, Madara forjou a própria morte e dedicou sua vida a implementar seu plano ambicioso, o Tsukuyomi Infinito. Durante seu tempo na escuridão, encontrou e manipulou Obito para avançar com seus objetivos e mesmo após sua morte, foi ressuscitado durante a Quarta Guerra Mundial Ninja, onde massacrou incontáveis ninjas, quase matou os cinco Kages e descartou Obito para obter o Rinnegan e o controle da Dez-Caudas, dando início ao Tsukuyomi Infinito. Porém, o fim de Madara foi tão trágico quanto sua vida: ele foi traído por Zetsu Negro, que o manipulou para trazer Kaguya Ōtsutsuki de volta à vida; usado como um peão em um plano muito maior do que ele imaginava. Madara morreu após a derrota de Kaguya pelas mãos de Naruto, Sasuke e companhia. Durante seus momentos finais, teve uma reflexão melancólica em uma conversa com Hashirama, onde itiu que, no fundo, queria ter acreditado nos ideais que ambos compartilharam na juventude, mas se perdeu ao alimentar sua obsessão por uma paz distorcida. Madara morreu reconhecendo que sua busca por controle absoluto e desconfiança apenas destruíram aquilo que um dia ele tentou proteger.

⠀

ര 𝐒𝗂𝗆𝗉𝖺𝗍𝗂𝗓𝖺𝗇𝖽𝗈 ｡⎯⎯

⎯⎯⎯⎯⎯⎯⎯⎯⎯⎯⎯⎯⎯⎯⎯⎯⎯⎯⎯⎯⎯

───────    .    ────

⠀

Bom, agora vamos entender um pouquinho do porquê gostamos tanto dos vilões, pois acredite se quiser, todos os antagonistas citados acima possuem suas legiões de fãs (eu mesma sou uma iradora assídua de Uchiha Madara, mas acho que já mencionei isso). Uma coisa que percebi é que esse fascínio por vilões surge, principalmente, no modo como são retratados pelas mídias, além disso nossos sentimentos por eles têm raízes na nossa psicologia humana, as narrativas frequentemente nos mostram que esses personagens possuem vulnerabilidades e traumas que os tornam mais humanos e isso nos faz sentir conectados a eles, pois suas motivações vão além da pura maldade. Por exemplo, Uchiha Obito tem uma história trágica que explica, mas não justifica suas ações, o que nos provoca empatia. Segundo Carl Jung, existem partes ocultas na nossa psique que preferimos não expor e isso refere-se ao conceito de “sombra” na psicologia analítica; muitos vilões refletem esses aspectos sombrios representando conflitos internos que reprimimos em nós mesmos, enquanto eles os externalizam, explorando medos, desejos e frustrações, mesmo que de forma trágica. Além disso, características como estilo, presença, perseverança, determinação, inteligência, carisma, imponência e rebeldia são traços que iramos, pois os vilões desafiam normas e regras, representando uma liberdade distorcida que não ousamos buscar em nós, mas que em algum nível desejamos encontrar; a psicologia chama essa atração de “Efeito Halo”, que faz com que tenhamos uma percepção geral positiva sobre eles. Outro ponto é que, nas narrativas modernas, os antagonistas são frequentemente mais detalhados e complexos do que os mocinhos, o que os tornam mais interessantes e memoráveis; as motivações dos vilões também nos atraem, pois em essência, podem ser compreensíveis ou até nobres, embora distorcidas por métodos extremos e por conta disso, o público tende a entender suas razões, mesmo sem concordar com suas ações. Vamos para um exemplo fora do universo de Naruto: no MCU temos Thano que em Vingadores: Guerra Infinita ele apresentou um ideal distorcido de equilíbrio universal, analisando sua motivação parece até uma preocupação ecológica e social, o que é compreensível, mas ainda assim não justifica os métodos extremos que ele usou para concluir seus planos. Então, essa simpatia que sentimos por vilões e que desafiam os limites da moralidade, é fruto de uma combinação de empatia, fascínio psicológico e iração; isso nos faz enxergar eles como pessoas complexas que são movidas por ideais aparentemente humanos, apesar de corrompidos.

⠀

ര 𝐂𝗈𝗇𝖼𝗅𝗎𝗌𝖺̃𝗈 ｡⎯⎯

⎯⎯⎯⎯⎯⎯⎯⎯⎯⎯⎯⎯⎯⎯⎯⎯⎯⎯⎯⎯⎯

───────    .    ────

⠀

Uau, confesso que estou bastante surpresa por ter conseguido concluir este conteúdo, especialmente considerando o tempo que ei afastada do Amino e meu retorno recente; é óbvio que estou um pouco enferrujada, até porque nunca fui uma pessoa que se dedicava tanto a criar blogs ou outros tipos de postagens com frequência, mas eu realmente fiquei satisfeita com o resultado, principalmente pelo tema escolhido. É curioso como às vezes nossa iração por vilões nos faz até concordar um pouco com algumas de suas ações, mesmo as mais cruéis, mas o problema também surge quando começamos a nos identificar com seus ideais distorcidos, porém não há mal algum em gostar dos personagens. Eles são movidos por ambições que os levam a ignorar os limites morais, escondendo qualquer resquício de empatia e, por mais fascinante que seja, é importante lembrar que essas escolhas refletem drasticamente na vida de outras pessoas. Acredito que nossa atração por antagonistas ocorre porque eles expõem nossas próprias fraquezas e o desejo reprimido de termos uma personalidade ousada, forte e sem temor como as deles, mas isso não justifica romantizar ou validar suas ações, já que o impacto de suas histórias está justamente nas lições que aprendemos sobre as consequências das escolhas erradas. irar a complexidade dos vilões não é o mesmo que endossar suas ações.

⠀

﹫ 𝖺𝖾𝗌

⠀

#EscritorNSO