Acordei com a sensação de que algo estava errado. O teto acima de mim parecia... ausente. Não havia textura, nem cor, apenas uma extensão vazia que não devolvia sombra alguma.
Levantei-me e fui até o espelho. Meu reflexo não me imitava de imediato — havia um atraso, como se estivesse decidindo quem deveria ser. Sorri, e ele hesitou antes de sorrir também. Tentei não pensar muito nisso.
Ao sair de casa, notei que as ruas estavam vazias. Nenhum ruído de os, nem de carros, nem do vento. Apenas o som dos meus próprios pés no chão — um som seco, como se ecoasse dentro de uma caixa vazia.
Encontrei uma mulher sentada num banco da praça. Ela me olhou com olhos intensos, quase aflitos.
— Você também sente? — perguntou.
— Sinto o quê?
— Que tudo isso é... frágil. Como se fosse feito de papel molhado. Como se o mundo só existisse enquanto alguém o observa.
Fiquei em silêncio. Ela continuou:
— Às vezes penso que sou o sonho de alguém. E que, se essa pessoa acordar, eu desapareço.
Olhei ao redor. A luz do sol parecia um pouco falsa. Como uma lâmpada escondida por trás de uma cortina.
— E se formos o mesmo sonho? — perguntei.
Ela sorriu, triste.
— Então temos que torcer para que ninguém desperte.
Naquele momento, um barulho se espalhou pelo céu. Um som profundo, crescente, como um trovão que se esqueceu de quando parar.
Ela se levantou, assustada. Tudo ao nosso redor começou a se dissolver — não desmoronar, mas esmaecer, como tinta lavada pela chuva.
E, por um instante, antes de tudo sumir, pensei: se eu deixo de existir quando ninguém mais pensa em mim... será que algum dia fui real?
![A realidade bateu em minha porta e eu abri, senhoras e senhores, o que é real?-[C]
[C]
[C]Acordei com a sensação de que algo](https://image.staticox.com/?url=http%3A%2F%2Fpm1.aminoapps.vertvonline.info%2F9397%2Fbccdf9b3c536cf89e152fd10b998e5cf1b3dea92r1-1280-1280_hq.jpg)
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