A Canção do Lago

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No vilarejo de São Lázaro, cercado por densas florestas e um lago de águas escuras, contava-se a lenda de Mariana, uma jovem que, há séculos, se afogara após ser traída pelo amante. Diziam que sua alma, incapaz de encontrar paz, vagava pelas margens do lago, seduzindo homens com sua beleza etérea e uma canção hipnótica que prometia amor eterno.

Lucas, um forasteiro cético, chegou ao vilarejo numa noite de lua cheia. Ele ria das histórias dos moradores, chamando-as de superstições tolas. Decidido a provar que não havia nada a temer, resolveu acampar às margens do lago, ignorando os avisos dos anciãos.

Ao cair da noite, o silêncio foi quebrado por um canto suave, como um sussurro carregado pelo vento. Era doce, quase irresistível, e parecia chamar Lucas pelo nome. Ele se levantou, hipnotizado, e seguiu a melodia até a beira do lago. Lá, sob a luz prateada da lua, viu uma figura: uma mulher de cabelos longos e negros, com um vestido que parecia flutuar como névoa. Seus olhos brilhavam como estrelas, mas havia algo errado — eles eram vazios, como poços sem fundo.

"Mariana?" — perguntou Lucas, com a voz trêmula, incapaz de desviar o olhar.

Ela sorriu, um sorriso que era ao mesmo tempo encantador e aterrorizante. "Venha comigo, meu amor", sussurrou, estendendo a mão. A voz dela era como mel, envolvendo a mente de Lucas, apagando qualquer traço de medo ou dúvida. Ele deu um o à frente, sentindo a água gelada tocar seus pés.

Mas algo o fez hesitar. Talvez fosse o frio cortante da água ou o leve cheiro de podridão que emanava dela. Por um instante, a ilusão se quebrou, e ele viu: a pele de Mariana estava pálida demais, quase translúcida, com veias escuras pulsando sob a superfície. Seus lábios, antes vermelhos, agora pareciam manchados de sangue. O canto parou, e um grito gutural ecoou, enquanto a figura dela tremeu, revelando um rosto esquelético e olhos que ardiam com ódio.

Lucas tentou correr, mas raízes invisíveis pareciam prendê-lo ao chão. A água do lago subiu, envolvendo suas pernas, puxando-o para baixo. Ele gritou, mas o vilarejo estava longe demais. A última coisa que viu foi o rosto de Mariana, agora grotesco, sorrindo enquanto o arrastava para as profundezas.

Na manhã seguinte, os moradores encontraram a barraca de Lucas vazia. No lago, a água estava calma, mas um leve canto ecoava ao longe, esperando a próxima alma a seduzir.

Fim.