O Crepitar das Asas 🦋 | Ausência e Desapego

#MAA 🦋

Sinto ainda o peso da ausência dele, como se tivesse sido imposta à minha pele de uma forma tão lenta e constante que já nem consigo lembrar de quando começou. Não há um dia em que não sinta o espaço vazio entre mim e o que éramos. Algo se quebrou, e ainda não sei bem quando nem por que razão. A dor é um fio invisível que me liga a ele, a um ado que, de repente, não faz mais sentido. Mas o que mais me dói não é só a perda dele, é a falta de entendimento. Ele está lá, parece estar bem, como se o fim fosse apenas uma página virada. E eu fico aqui, perdida, tentando entender onde me perdi, tentando juntar os pedaços que sobraram de nós.

A verdade é que, por mais que tente, não consigo deixar de me perguntar: Por que ele não sente o que eu sinto? Ele parece já ter deixado ir, como se fosse fácil, como se a nossa história fosse uma coisa pequena, que não pesa. E eu, eu não sei deixar ir. Eu sou feita de lembranças, de sentimentos que não se apagam, de uma necessidade que me arrasta para o ado, para o que poderia ter sido. O fim para ele foi como fechar a porta sem olhar para trás, enquanto eu ainda fico, tentando entender o que aconteceu. Não sei se ele realmente sofreu ou se, de alguma forma, sempre foi mais fácil para ele manter-se afastado, protegido.

Eu sei que sou intensa. Eu sei que, quando me entrego a alguém, faço-o com tudo o que sou, sem medir as consequências, sem pensar no que pode acontecer. Ele não era assim. Ele sempre foi o contrário de mim: distante, mais cauteloso, com medo de se perder em algo que não podia controlar. Eu queria que ele se entregasse, que deixasse a dor de lado e vivesse o amor de uma forma completa, sem medos. Mas ele não podia. E eu... eu fui criando esse amor em mim, esperando que ele fosse como eu, esperando que o que eu dava fosse suficiente para ele se abrir também. Mas ele não se abriu. E, com o tempo, percebi que não podia forçar isso.

Agora, ele parece estar bem. Vê-lo sorrir nas fotos, seguir em frente com a vida, quase sem se dar conta de que a nossa história foi parte de algo muito importante para mim, mas que, para ele, foi apenas mais um capítulo a ser virado. Como ele consegue ser tão leve, tão descomplicado? Como consegue parecer que nada aconteceu? Eu sou a que fica, a que não sabe se pode respirar sem o peso do que nos uniu. Eu sou a que sente, que sofre, que tenta entender por que razão tudo isso me afeta de uma forma tão profunda. E, enquanto ele segue o seu caminho, com a serenidade de quem não se perdeu, eu fico aqui, a tentar recolher os pedaços de mim que ele deixou para trás.

A dor que sinto é como uma tempestade que não acalma, uma dor que vai crescendo, crescendo, sem dar espaço para nada mais. Ele está lá, sorrindo, vivendo, como se nada tivesse mudado. E eu, em casa, sem conseguir sair da cama, me pergunto o que há de errado comigo. Por que sou assim? Por que sou tão afetada, tão perdida em algo que já não existe? Ele segue em frente, eu fico, como quem espera por algo que não vai voltar.

A parte mais difícil é a sensação de que ele não me entende. Ele nunca me entendeu. E eu nunca consegui entender o jeito dele de ser. Às vezes, penso que, se eu fosse mais como ele, talvez tudo fosse diferente. Talvez eu também conseguisse afastar a dor assim, de forma natural. Talvez eu não tivesse me perdido em um relacionamento que parecia ser tudo para mim e que, para ele, talvez tenha sido apenas uma parte de um caminho maior que ele estava a percorrer. E, em algum lugar dentro de mim, sinto que ele nunca precisou de mim como eu precisei dele. Ele sempre teve uma forma própria de lidar com tudo, uma calma que me parecia tão distante, mas que ele sempre manteve. Eu sou a tempestade e ele, a calma que nunca se mexe.

Agora, ele parece ter encontrado a sua paz, enquanto eu sou o furacão que não pára. Ele seguiu, e eu fico. Fico tentando entender por que é que, para ele, tudo foi tão simples. E, ao mesmo tempo, sei que nunca vou encontrar a resposta. Ele não soube dar-me o que eu queria, nem soube pedir o que eu não sabia dar. Não nos entendemos. E, mesmo assim, a dor está aqui, cravada em mim, como um espinho que não sai.

Eu tento seguir em frente. Tento. Estou a buscar ajuda, estou a tentar ser mais forte, estou a tentar fazer as pazes comigo mesma. Mas não é fácil. Às vezes, fico a pensar se algum dia vou conseguir deixar de sentir tanto. Se algum dia a saudade vai parar de me consumir. Se, algum dia, vou conseguir ver a vida de uma forma mais leve, como ele fez. Talvez, no fundo, o que eu precise seja de aprender a deixar ir também. A aceitar que as coisas não vão voltar atrás, que o amor que tivemos não vai voltar, que a nossa história chegou ao fim. E talvez, só talvez, essa dor toda seja a forma que o meu coração encontrou para aprender a libertar-se.

E enquanto ele está bem, sorrindo e vivendo, eu fico aqui, a tentar encontrar um pedaço de mim mesma que ainda me faça sentir viva. Ele já se foi. E eu, por mais que tente, ainda estou à espera que algo aconteça. Que ele volte. Que as coisas se consertem. Que eu consiga entender por que razão o amor não foi suficiente para manter o que construímos. Mas o fim chegou, e eu tenho que aprender a deixá-lo ser, a aceitar que, mesmo com toda a dor, ele é agora apenas uma parte daquilo que fui. Uma parte que, com o tempo, talvez se torne mais leve. Mas, por enquanto, é difícil. Por enquanto, ainda dói. E tudo o que eu posso fazer é viver com essa dor, até que, algum dia, ela se transforme em algo que me permita respirar novamente.