A Princesa
O ferro a sufocou. Ele havia apagado o fogo em suas veias,tão certo como se as chamas tivessem sido extintas.
Ela podia ouvir a água,mesmo na caixa de ferro,mesmo com a máscara de ferro e as correntes adornando-a como fitas de seda. O rugido; a interminável corrente de água sobre a pedra. Esse som preencheu o ambiente entre seus gritos.
Um pedaço de ilha no coração de um rio coberto de névoa,pouco mais que uma laje lisa de rocha entre algumas corredeiras e quedas, é onde eles colocaram ela. Guardaram ela. Em um templo de pedra construído para algum deus esquecido.
Exatamente como ela provavelmente seria esquecida. Melhor que a outra alternativa: ser lembrada por seu completo fracasso. Se houvesse alguém para lembrar dela. Se houvesse alguém para se lembrar de tudo.
Ela não permitiria isso. Ela não lhes contaria o que desejavam saber.
Não importava quantas vezes seus gritos afogassem o rio caudaloso. Não importa quantas vezes o estalo de seus ossos se partisse pelas corredeiras.
Ela tentou acompanhar os dias.
Mas ela não sabia quanto tempo eles a mantiveram naquele caixão de ferro. Por quanto tempo eles a forçaram a dormir, um sono embalado no esquecimento por aquela fumaça doce que eles a colocaram sob o efeito enquanto viajavam para cá. Para esta ilha,este templo de dor.
Ela não sabia o espaço de tempo entre estar acordando ou gritando. O espaço de tempo entre a dor terminando e começando de novo.
Dias,meses,anos - eles sangram juntos,como seu próprio sangue,que muitas vezes deslizara até o chão de pedra e no próprio rio.
Uma princesa que viveria mil anos. Bem longos.
Esse havia sido seu presente. Agora era sua maldição.
Outra maldição para ar,tão pesada quanto aquela que foi imposta sobre ela muito antes de seu nascimento. Se sacrificar para corrigir um erro antigo. Para pagar a dívida dos de outro aos deuses que entraram em seu mundo, e acabaram presos.
Ela não sentiu a mão quente da deusa que a abençoou com um poder tão terrível. Ela se perguntava se aquela deusa de luz e chama sequer se importava que ela agora,estivesse presa naquele caixão de ferro - ou se a imortal tinha transferido suas atenções para outra. Para o rei que poderia se oferecer em seu lugar e entregar sua vida, poupar seu mundo.
Os deuses não se importavam com quem pagaria a dívida. Ela sabia que eles não iriam busca-lá, salvá-la. Então ela não se incomodou em rezar para eles.
Mas ela ainda contava a si mesma a história, ainda as vezes imaginava que o rio cantava para ela. Que a escuridão no caixão selado também cantava para ela.
![KINGDOM OF ASH (Part. The Princess)-[B]A Princesa
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Era uma vez, em uma terra há muito queimada, uma jovem princesa que amava seu reino...
Lá em baixo ela mergulharia profundamente naquela escuridão, no mar de chamas. Mais profundamente quanto o chicote a rachava, que o osso se separava, ela as vezes não o sentia.
Não o sentiu muitas vezes.
Foi durante aquelas horas infinitas que ela fixou o olhar em sua companheira.
Não o caçador da rainha, que a conseguia fazer sentir dor como um músico persuadido a melodia de um instrumento. Mas o enorme lobo branco, acorrentado por um juramento invisível. Forçado a testemunhar isso.
Houve dias que ela não aguentou olhar para o lobo. Quando ela chegou perto,perto de mais de se quebrar. E apenas a história a impediu de fazer isso.
Era uma vez uma terra há muito queimada até cinza,vivia uma jovem
Princesa que amava seu reino...
Palavras de uma história que ela contou para um príncipe. Uma vez há muito tempo.
Um príncipe de gelo e vento. Um príncipe que tinha sido dela e ela dele. Muito antes do vínculo entre suas almas se tornar conhecido por eles.
Foi sobre ele que a tarefa de proteger aquele reino outrora grandioso caiu agora.
Um príncipe cujo perfume foi beijado com pinho e neve, o cheiro daquele reino que ela amava com seu coração de fogo.
Mesmo quando a rainha negra presidia os cuidados do caçador. A Princesa falava nele. Mantido em sua memória como uma pedra contra a correnteza no rio abaixo.
A rainha negra com um sorriso de aranha tentou enpunha-lo contra ela. Nas teias de obsidiana que ela tecia, nas ilusões e nos sonhos que dava na culminação de cada ponto de ruptura, a rainha tentava torcer a lembrança dele como uma chave em sua mente.
Eles estavam borrando. As mentiras e verdades nas memórias. O sono e a escuridão no caixão de ferro. Os dias ligados ao altar de pedra no centro da sala, ou pendurada por correntes a parede de pedra. Tudo estava começando a borrar, como tinta na água.
Então ela disse a si mesma a história. A escuridão e a chama profunda dentro dela também sussurravam, e ela cantou de volta para elas. Trancada naquele caixão escondido em uma ilha do coração de um rio,a princesa recitou a história, repetidas vezes e permitiu que eles soltassem uma eternidade de dor em seu corpo.
Era uma vez uma terra há muito queimada,vivia uma jovem princesa que amava seu reino...
![KINGDOM OF ASH (Part. The Princess)-[B]A Princesa
[C]O ferro a sufocou. Ele havia apagado o fogo em suas veias,tão certo com](https://image.staticox.com/?url=http%3A%2F%2Fpm1.aminoapps.vertvonline.info%2F6970%2Fb84b926f596db7d36a19f6f2bbcd6b690eff8f3ar1-750-736v2_hq.jpg)
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Obs:Algumas palavras/trechos foram alterados para ter coerência mas sem alterar o sentido do texto.
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