Na penumbra em que as horas morriam,
Veio o frio com os de vidro.
Não falava — os olhos rugiam —
Como um anjo caído e lívido.
Sobre a laje onde os sonhos apodrecem,
Sentei-me a costurar memórias.
Mas os nomes? Já não me reconhecem —
São apenas sombras sem histórias.
Um espelho, em moldura mordida,
Chamou-me com lábios partidos.
“Quem és?”, perguntei à ferida,
Mas vi só reflexos vencidos.
A casa sorriu — com ranger e lamento —
E as paredes sussurraram meu fim.
Pois o tempo, em fúnebre intento,
Costurava um sudário pra mim.
Agora, calado, existo no meio
De um nada que sonha acordado.
A Morte — velando no espelho —
Me observa com rosto arrancado.


Comments (4)
Belíssimo
Obrigada!
Ficou um belo soneto
Obrigada! :tulip: