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O barulho da porcelana estilhaçando no chão ecoou pela cozinha como um trovão. Pequeno, seco, definitivo. Eu não me movi. Ele também não. Apenas nos entreolhamos — e naquele segundo soubemos que não era sobre a xícara.
Era sobre o “nós”.
Fui eu. Eu fui o culpado. Não pelo que fiz, mas pelo que deixei de fazer. Fui me ausentando aos poucos, presente no corpo, longe em tudo o mais. Ele tentava: bilhetes deixados no espelho, cafés feitos do jeito que eu gostava, abraços longos demais para alguém que já não sabia abraçar de volta. E eu… apenas deixava ar.
Dizia que estava tudo bem. Sempre. Mas não estava. E eu sabia. Ele também.
No fim, ele desistiu. Não em um grito, não em um rompante. Ele apenas deixou a xícara escorregar dos dedos. E eu entendi. Tarde demais, como sempre.
O “nós” não quebrou ali. Aquilo foi só o som final. O estouro que ecoa quando o silêncio pesa demais.
Agora, olho os cacos no chão e penso: quantas vezes ele tentou me alcançar antes de desistir?
Agora eu tento colar os pedaços com fita, mas ainda assim a xícara não é mais a mesma. As rachaduras permanecem visíveis, como cicatrizes expostas. O café esfria rápido demais, escorrendo por frestas que eu não consegui vedar.
É assim também com a nossa história.
Mando mensagens que ele não responde. Escrevo longos textos e apago antes de enviar. Tento lembrá-lo de quem éramos — ou talvez convencer a mim mesmo de que ainda posso ser alguém que ele amaria.
o pelos lugares que ele gostava, escuto as músicas que ele deixava tocar baixinho enquanto cozinhava. Me torturo com memórias. Me afogo em culpa. O silêncio que antes era dele agora é meu.
Ele me deu mil chances antes de deixar cair a xícara. Eu, arrogante, achei que ele nunca soltaria. Agora sou eu quem segura os cacos, cortando os dedos, sangrando por um amor que talvez já tenha morrido no impacto.
E mesmo que eu junte tudo, mesmo que eu cole peça por peça… a verdade é que algumas coisas, quando quebram, só continuam de pé por teimosia. Nunca mais voltam a conter o que um dia abrigaram.
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Pura verdade