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Vocal percussion on a whole 'nother level.
Prefácio.
ⓘ Este blog é a segunda metade de um conjunto; caso queira ler a primeira, ela se encontra aqui.
Pretendo comentar apenas sobre as obras em mangá (com exceção da parte 5), já que mais de metade delas não têm adaptação ainda.
Não estarei mencionando a parte 9 por ainda estar em desenvolvimento, mas obviamente o texto conterá spoilers da parte 5 até a 8.
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Golden Wind.
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Uma das partes mais controversas de JoJo inteiro (por um bom motivo). Após a imensa explosão que foi a parte 4, tanto em desenvolvimento da história, stands e outros conceitos que receberam grande louvor por parte do público, seu sucessor tinha expectativas altas para carregar em suas costas. De início, funcionou bem, porém ao decorrer da história, algumas coisas ocorreram que acabaram por dificultar Golden Wind a alcançar seu potencial máximo como obra, coisa que pretendo explicar melhor adiante.
O início é bem promissor, com o novo protagonista sendo filho do Dio, com o DNA dos Joestar, graças ao corpo do Jonathan. Devido a isso, Giorno carrega os dois opostos em um único corpo, algo que é levemente demonstrado através de suas ações iniciais, protegendo turistas de serem roubadas por completo, ao mesmo tempo que rouba um pouco delas. Outros quadros e cenas exemplificam esse caráter dele, que é malandro, mas bondoso ao mesmo tempo. Enquanto ele não parece se importar muito em devolver qualquer tipo de mal que direcionam a ele — algo representado também pelo o seu stand —, Giorno tende a agir tranquilamente em relação a boas pessoas. Essa dualidade mostrada de início é certamente interessante e teria criado momentos cativantes durante a obra, a palavra chave sendo "teria". Um dos maiores problemas desse mangá são os dois personagens que eram para ser os mais impactantes da obra: o protagonista, Giorno e o antagonista, Diavolo.
Antes de comentar mais sobre o elefante na sala, quero falar sobre as coisas boas que a obra proporciona. A gangue principal a qual nosso protagonista participa, formada por Bruno, é majoritariamente composta por bons personagens, as estrelas sendo o próprio Bruno e Mista. Apesar de alguns personagens serem meio "nada", como o Fugo, eles ainda têm um lugar no mangá e (na maioria das vezes) possuem um propósito, seja ele diretamente ligado a história dessa pessoa ou algo que a obra tem.

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Vento Aureo contém similaridades na jornada com Stardust Crusaders, tanto que ambas são comparadas diretamente e frequentemente. As duas se tratam de um grupo de companheiros com um objetivo similar, se aventurando por diversos lugares e encontrando obstáculos na forma de usuários de stand. Eu diria que, de longe, Golden Wind faz um trabalho muito melhor que a parte 3 fez, já que os stands são muito bem trabalhados e, durante essa viagem, é contada a história de cada personagem que acompanhamos individualmente. Ao mesmo tempo que isso dá profundidade e motivo à obra, também abusa muito do tempo que ela toma, o que resulta no protagonista ficando de lado. Alguns não consideram isso um problema, mas eu diria que é por dois grandes motivos: Giorno é um JoJo, ele é quem está no título da criação de Araki, não que eu esteja usando isso de argumento, mas é ele quem dá motivação ao Bruno, assim como quem tem a maior força ideológica da obra, pelo menos da forma que é retradada. Com o protagonista deixado de lado, nós não conseguimos acompanhar seus pensamentos, seus desenvolvimentos e, além disso, ele perde completamente a parte que havia puxado de seu pai, Dio. Nós nunca mais vemos aquela malandragem, aquela falta de empatia com aqueles que ele não tem consideração, como o Lucca. Isso torna a parte 5 a mais única no senso de que é a que menos vemos o nosso próprio campeão, e, quando vemos, ele não é nada mais do que uma cópia do Jonathan, alguém extremamente básico e certinho. É certamente uma troca e poderia ter funcionado, não me entenda errado, todavia eles não dão mais espaço para isso. Araki acaba priorizando a mensagem filosófica que a obra tenta ar, mensagem essa que considero muito boa, porém que vem a troco de sacrifícios desnecessários.

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Mesmo com o ruim sendo uma proporção grande, o todo dessa parte é bom. O motivo disso é porque Giorno, apesar de medíocre, tem pouca aparição num todo, atrapalhando menos partes do anime e mangá como as lutas e a jornada em si.
Definitivamente, o que faz eu mais gostar da obra foi o que o próprio Araki colocou no centro dela: a ideologia da busca pela verdade e, por cima disso, uma procura honesta, sem atalhos baratos que arruinam o propósito da jornada. O vilão é exatamente a antítese disso, algo que se encaixa perfeitamente no mangá e anime, "ué, mas você não tinha dito que o antagonista é a parte ruim?". É aí que as coisas se complicam um pouco. Em meu ver, existem 3 antagonistas principais: Diavolo, Doppio e King Crimson. Diavolo é o chefe da máfia que é supostamente inteligente, intimidador e poderoso, porém ele não poderia ser mais diferente disso. Ele é seco, um tanto burro — especialmente com os parâmetros de JoJo em mente — e não assusta uma formiga. Todo o poder vem de seu stand, King Crimson, que, tirando o Doppio, é a única coisa que importa. A habilidade de navegar livremente em um período de tempo que é predestinado para os outros (e que eles não conseguem notar) durante 10 segundos é exatamente a antítese da "verdade", algo que é mencionado esporadicamente durante Golden Wind. Ao invés de seguir seu próprio caminho, King Crimson busca atalhos e escapa de tudo impune graças a essa sua habilidade absurda, e é o trabalho dos nossos protagonistas trazerem o destino que ele desviou de volta à ele. Esse conceito é minha parte favorita, especialmente na morte de Abbacchio, em que ele chega no céu de ônibus e se depara com seu antigo amigo policial, coletando centenas de cacos de vidro no propósito de achar o DNA de um criminoso. Sem saber que ele é seu antigo companheiro, Abbacchio diz que será inútil pois o sistema é corrupto e ele vai escapar de qualquer jeito, algo que o policial discorda, mostrando seu rosto e dizendo que sempre deve-se caçar a verdade. É nesse momento que a obra deixa claro duas coisas: uma é que, Diavolo, pegando atalhos e fugindo como está, eventualmente irá cair. A outra é a mensagem em si, dizendo que devemos nos manter verdadeiros com nós mesmos e seguir o caminho correto, que tende a ser o com mais sacrifícios (algo também exemplificado no último episódio do anime).

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Enfim, creio que essa parte tenha valores diferentes dependendo do tipo de pessoa que você é. Se acha que a jornada é o importante e gosta de mensagens valiosas bem implementadas, tá aí uma ótima obra, agora, caso goste de finais bons, protagonistas para se apegar e vilões espertos, provavelmente vai se decepcionar um pouco. No meu caso, apreciei muito a jornada e a mensagem forte inclusa. 6-7/10. Recomendo se você for o primeiro tipo de pessoa mencionada acima.
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Stone Ocean.
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Posso assegurar que daqui para frente não existe nada de ruim, Araki começa a escrever com as mãos pegando fogo e não para nunca mais.
Em contraste com a casca relativamente vazia que era Giorno, Jolyne Cujoh é uma personagem bem-desenvolvida, com complexidade, charme e aquela determinação clássica dos Joestar, porém ela é exibida aos poucos na forma de uma evolução, devido ao choque que recebeu no início do mangá. Sendo filha de Jotaro, você imaginaria que ela teria uma atitude rebelde e indomável na idade dela, mas não é bem assim. Por mais que ela se prove capaz de ser vingativa e forte logo quando adquire seu stand, não deixa de demonstrar fraquezas do início até o fim da obra. Seu stand, diferentemente de todos os outros protagonistas (com exceção de Joseph), é relativamente fraco, apesar de versátil. Isso cria situações diferentes da parte 3, 4, ou até em certo ponto, a 5, em que se o protagonista está frente a frente com o oponente, você sabe que o stand dele vai vencer por força bruta e velocidade. Jolyne precisa trabalhar mais com a cabeça — ao menos grande parte das vezes — e usar seu stand de forma criativa e efetiva para sobreviver na prisão onde o mangá se a.
Com uma personagem tão promissora e um stand relativamente complexo e divertido, a obra começa bem, demonstrando os problemas com seu pai, Jotaro e, também, o trama com seu namorado, que colocou a culpa de um assassinato nela através de seu advogado. É a partir daí que tudo começa a se desenvolver e, tenho que dizer, essa história, para mim, tem a dinâmica mais interessante de qualquer outro JoJo (talvez tirando a parte 8). O desenrolar do enredo e acontecimentos são extremamente bem-feitos e fica claro que o Araki planejou tudo meticulosamente.

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O trio principal é dinâmico e divertido de acompanhar, com cada uma das 3 garotas tendo um propósito diferente, porém mantendo uma amizade forte. Esse relacionamento vai se intensificando a cada batalha que elas lutam arriscando tudo e confiando a vida uma à outra. A progressão não tem uma divisão forte como em outras partes quando um grande evento acontece, ao invés disso, diria que Stone Ocean funciona através de "degraus". Quero dizer que existem conflitos interligados, porém interesses individuais. Um exemplo disso é o disco de memória e o de stand do pai de Jolyne. Enrico Pucci precisa desesperadamente disso para executar seu plano, baseado numa conversa que teve com Dio muitos anos atrás, porém ele só necessita das memórias e não dos discos em si, enquanto Jolyne precisa de ambos para trazer seu pai de volta do coma. Isso cria uma dinâmica em que o antagonista pode usar o que tem de influência para lidar com quem quer parar os planos dele, sem ter o risco de perder o progresso. Argumentavelmente, é devido a isso que Pucci acaba sucedendo, já que, para nossa protagonista, seu pai sempre foi a prioridade e parar os planos do vilão ficou em segundo plano.
Não são só as personagens femininas que brilham nessa parte. Weather Report, como é chamado pela a maioria da obra, é alguém incrível, tanto em caráter quanto em habilidades. Um dos aliados mais confiáveis de Jolyne até antes de ele recuperar sua memória, lembrando-se de que é Wes Blumarine, irmão de Pucci, ativando o efeito destrutivo de seu stand automaticamente. Wes acaba tendo um final tão trágico quanto o resto de sua vida, mas isso não o impede de deixar uma marca.
Narciso Anasui é outro personagem interessante da parte 6, apesar que não diria que ele necessariamente adiciona tanto fora do seu papel principal de proteger Jolyne a qualquer custo. Seu stand, Diver Down, tem usos que acabam por ser importantes durante o mangá, além de ser decentemente poderoso.
Emporio é o "G.O.A.T" dessa parte. Ele já ajudou nossa protagonista desde o início, sabendo do que acontecia na prisão sem ser descoberto, devido a seu stand, Burning Down the House. Mesmo tendo apenas 11 anos, ele é inteligente e ligeiro, além de ser quem acaba derrotando o antagonista no final por causa de um plano genial, através do que Wes deixou para trás. Ele é o que sobrevive do universo que foi a antiga era de JoJo.

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Como mencionei anteriormente, o enredo funciona através de degraus, contudo, esta escadaria não é para a nossa protagonista subir, e sim, Enrico Pucci. Por mais que ele não esteja em uma posição tão desvantajosa quanto o Kira estava, ele ainda tem muito trabalho que consegue executar graças a ter se preparado por diversos anos, obtendo controle da prisão inteira, assim como uma quantidade absurda de recursos. Por conta disso, não fica aquela "vibe" de o Enrico ser só um vilão foda e muito poderoso (apesar de ele ser), mas a uma sensação de que ele é extremamente inteligente e calculado — até porque é —, dando dimensão para essa parte, similar ao que o Kira foi para Diamond is Unbreakable, só que de forma diferente. Graças a isso, a saga do vilão torna a experiência muito enriquecidora (trocadilho intencional).
Seguindo os descobrimentos proibidos através da memória de Jotaro, Pucci trabalha aos poucos para chegar até o ponto que quer, esse sendo uma versão da humanidade na qual todo mundo sabe exatamente todos os acontecimentos futuros, com a única exceção sendo que; quem morreu antes da mudança do universo através de seu stand aprimorado após a fusão e evolução com o bebê verde. Em seu ver, esse universo é perfeito, especialmente quando removendo os Joestar da história. Isso é interessante, exceto que, aquilo que mais chama atenção é a habilidade de seu stand de avançar o tempo drasticamente, enquanto ele é capaz de se manter no fluxo de tempo padrão. Isso faz com que o stand dele seja um dos mais poderosos que já apareceram em JoJo.
Graças ao fato da habilidade ficar gradualmente mais potente, com o tempo acelerando cada vez mais, em conjunto com a capacidade de manter o stand ativo por uma infinidade de tempo, Enrico é capaz de derrotar até mesmo Jotaro, que pode parar o tempo por alguns segundos.

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Por mais que ele tenha chegado em seu objetivo, ele queria se livrar de quaisquer aliados que poderiam ter sobrevivido. Quando o universo avançou o bastante para ser recriado completamente, nosso amado padre foi caçar o único sobrevivente do conflito, Emporio.
Após finalmente localizar ele e dar um pequeno discurso, Emporio entrou em ação contra o vilão que tinha destruído todos seus amigos na sua frente, utilizando o disco do Weather Report e executando Pucci com... ar. Até mesmo o oxigênio que respiramos pode ser tóxico caso se encontre em quantidades extremas em lugares que não eram para ele estar.
Depois dessa resolução chocante, vemos Emporio ver a nova versão desse universo, sem a mesma versão do nosso elenco amado, um quadro que dita uma nova era para JoJo. 8-9/10, uma das histórias mais charmosas de toda a obra.
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Steel Ball Run.
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imagem
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JoJolion.
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Finalmente chegamos na parte final (que está finalizada) e também, minha favorita.
Aqui o Araki não só usa tudo que aprendeu esses anos todos fazendo um mangá do mesmo tamanho de One Piece, como também inova com conceitos que são brilhantes. A obra funciona tanto como um mistério investigativo quanto um mangá de batalha, e tudo flui perfeitamente. O maior risco que o autor tomou foi fazer com que o protagonista tivesse amnésia e não se lembrasse de nenhum aspecto de sua vida antiga. É já aí que começa o primeiro mistério da história.
Na tentativa de descobrir quem ele é, recebe ajuda de Yasuho Hirose, que acaba encontrando o corpo despido dele, apenas com um chapéu de marinheiro, perto da "Wall Eyes", que é o local criado a partir de uma benção e estruturalmente formado após um terremoto e tsunami.
Não existem dicas tão óbvias para você chegar em uma conclusão imediata, mesmo que elas estejam lá. O protagonista dessa parte não se lembra de seu próprio nome, então acaba sendo chamado de "Josuke" por Yasuho, pois diz que ele lembra o cachorro dela com o mesmo nome. Curiosamente, JoJolion se a em Morioh, igual a Diamond is Unbreakable, só que, nessa versão, a cidade ou por desastres, refletindo o que aconteceu na terra natal do Araki. Com um protagonista de mesmo nome, se descobrindo na mesma cidade da parte 4, não tem como ser ruim.

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Existem diversos paralelos entre a parte 8 e a 4, até porque são universos alternativos um do outro. O autor cria essas conexões da forma mais "Araki" possível, soltando algumas maluquices incompreensíveis que serão esclarecidas ao decorrer da jornada. Caso você tenha a esperança de que, infelizmente para você, esse mundo e o original possuem algo mais que situações paralelas não relacionadas, creio que JoJolion enterre esse pensamento definitivamente. Em vez do desenvolvimento utilizando a construção ada, Araki usufrui mais da parte 7, usando-a como base para a maior parte da congruência. Isso é algo que JoJo precisava necessariamente se quisesse se levar o mínimo possível a sério em qualquer momento, já que a obra nasceu, parcialmente, de uma comédia ligeiramente ultraada. É triste vermos personagens adoráveis indo embora para sempre, ao mesmo tempo, era algo necessário devido à inconsistência anteriormente criada. JoJo pode ser uma obra absurda e ilimitada, mas não traz uma experiência satisfatória para o leitor caso seja muito volátil. Foi por esse mesmo motivo que Golden Wind foi controversa para os fãs. A escolha final, apesar de dolorida, foi a correta.

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A melhor maneira a qual posso expressar os personagens dessa parte é dizer que eles são coloridos e vêm em todos os sabores. Isso parece simplório, mas esse mundo não é monocromático. Imagine todos desse mundo como comidas de camadas complexas e de sabores extraordinários ou, se preferir, pinturas exóticas com sentimentos e pensamentos profundos embutidos pelo o autor. Talvez essa explicação seja um tanto vaga, porém lendo essa maravilha, você provavelmente entenderia do que estou falando. Isso não é só visto nos personagens, mas, também, no mundo inteiro. Desde stands "naturais" que funcionam sem dono e criam uma comunidade e cultura em volta de um pequeno bairro da cidade, até os gostos exóticos e complexos de um dos vilões em relação a besouros, JoJolion não deixa nada de lado.
Essa parte do mangá não é um caso sobre "tudo estar nos detalhes", é mais sobre tudo ser extremamente complexo — na questão de profundidade — e detalhado, não deixando pontas soltas ou espaço para qualquer tipo de coisa desinteressante. Algo que acaba ironicamente beneficiando a obra é a falta da comédia que já foi muito constante na obra. Por comédia ser um fator mais subjetivo (especialmente em JJBA), tudo é selado a vácuo pelo o Araki. Acho realmente difícil apontar erros na obra, no máximo alguns desgostos pessoais podem ser citados, contudo, desafiaria até a pessoa mais convincente do mundo a fazer um caso falando sobre a obra ser ruim.

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Existem dois focos extremos nessa parte que eu diria serem os aspectos definitivos do mangá:
Descobrimento.
Desastre.


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