Nada Permanece Para Sempre
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"Não existe coroa que pese mais que a consciência de um coração dividido."
— Marco Aurélio
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Oi, tudo bem?
Antes de você mergulhar de cabeça neste livro, queria trocar uma palavrinha. Prometo que não vou dar spoilers — só algumas dicas e explicações que podem ajudar sua leitura a fluir melhor.
A Coroa e a Lâmina é uma história contada em três partes, como se fosse uma peça dividida em partes bem marcadas: começo, meio e fim. Cada ato tem um ritmo diferente. O primeiro é mais introdutório, com foco na construção do mundo, nos personagens e nos conflitos internos. O segundo acelera: mais tensão, decisões difíceis e consequências. Já o terceiro... bem, digamos que você vai sentir o peso de tudo que veio antes — e talvez fique com o coração um pouco machucado (mas espero que também cheio de esperança).
A narrativa é feita em pontos de vista alternados, principalmente entre Elenya (a protagonista) e Kael (o guarda real). Cada capítulo deixa bem claro quem está narrando. Isso é importante porque cada um vê o mundo de um jeito, com suas próprias dores, segredos e limitações. Às vezes, eles vão se cruzar e você vai perceber que estão enxergando a mesma situação de formas completamente diferentes — e isso faz parte da graça. Leia com calma, tentando entender não só o que acontece, mas o que cada personagem está sentindo no processo.
Você também vai notar que o livro mistura momentos mais densos e pesados com outros mais íntimos e sensíveis. Isso não é à toa: quis que os personagens respirassem, se conectassem, e que a história não fosse só sobre dor — mas também sobre o que a gente encontra mesmo quando tudo parece perdido.
Agora um ponto MEGA importante:
Este livro lida com temas sensíveis e intensos. Não escrevi nada de forma gratuita, mas achei justo te avisar logo de cara que aqui você pode encontrar:
Luto e funerais (temas de perda e sofrimento emocional)
Restrição de liberdade e controle familiar
Pressões de casamento forçado e expectativas sociais
Manipulação emocional e abuso de autoridade
Situações de assédio psicológico e desconforto físico (sem descrições explícitas)
Cenas de violência moderada (sem detalhamento gráfico)
Romance com tensão emocional e sensualidade leve (sem cenas explícitas)
Se algum desses temas for delicado pra você, recomendo ir no seu tempo, com cuidado. A ideia aqui não é romantizar o sofrimento, e sim mostrar como pessoas (especialmente mulheres) sobrevivem a sistemas que tentam apagá-las. Como resistem. Como (às vezes) vencem.
Ah, e um aviso prático: os capítulos serão publicados a cada duas semanas. Escolhi esse ritmo porque prefiro escrever com calma, sem pressa ou pressões, para garantir que cada parte da história receba o cuidado que merece.
A ambientação é de fantasia, sim, mas a magia aqui está mais nos detalhes e nos laços entre as pessoas do que em feitiços ou criaturas místicas. É um mundo fictício, mas os sentimentos são muito reais. Você pode chorar, ficar com raiva, suspirar, talvez até querer jogar o celular longe — e tá tudo bem. Eu mesma quis fazer isso várias vezes enquanto escrevia. :sweat_smile:
Ah, e se em algum momento você se sentir perdido entre nomes, lugares ou alianças políticas (acontece, viu?), volte algumas páginas, releia com calma ou só continue. As peças vão se encaixando aos poucos, prometo.
Enfim, obrigada por dar uma chance a este mundo. Espero que você se conecte, que viva tudo intensamente com os personagens e que, de alguma forma, essa história te marque.
Boa leitura — e prepare o coração.
Com carinho,
— Pamonha
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Sinopse
A COROA E A LÂMINA
Livro +12/ Romance proibido - Primeira Edição
Elenya nunca quis ser rainha.
Enquanto seu irmão mais velho, o príncipe Theron, era moldado para o trono, ela se escondia nos jardins do palácio, sonhando com uma vida longe das obrigações da corte. Mas tudo muda quando Theron é encontrado morto em circunstâncias misteriosas. De um dia para o outro, Elenya se torna a herdeira do reino de Avalaer - e alvo das mesmas intrigas que podem ter matado seu irmão.
Entre o luto sufocante e o peso de uma coroa que ela não pediu, Elenya precisa aprender a sobreviver num palácio cheio de máscaras, onde cada sorriso pode esconder uma faca. A rainha Isolde, sua mãe, exige perfeição. O Conselho pressiona por alianças. E como se não bastasse, a princesa é forçada a considerar um casamento político com um arquiduque que a enoja.
A única pessoa em quem ela sente que pode confiar é Kael, seu novo guarda pessoal - um guerreiro de ado obscuro, olhos atentos demais e um senso de lealdade que rapidamente se transforma em algo mais perigoso: desejo. Entre encontros furtivos, juras silenciosas e toques proibidos, nasce um romance que pode custar tudo.
Mas o coração não é o único em risco.
Fora dos muros do palácio, o reino começa a se agitar. Fome, injustiça e repressão alimentam a revolta do povo, e uma rebelião começa a ganhar força nas sombras. À medida que Elenya investiga a verdade por trás da morte de seu irmão, ela descobre conspirações muito maiores - traições dentro da própria família, acordos sujos com nobres e um plano que ameaça destruir Avalaer de dentro para fora.
Dividida entre o dever de governar e a vontade de fugir, entre a princesa que sempre foi e a mulher que está se tornando, Elenya vai precisar fazer escolhas dolorosas. Para proteger quem ama e salvar seu reino, talvez não baste usar a coroa.
Ela vai ter que empunhar a lâmina.
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CAPÍTULO 1
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”O FUNERAL DO PRINCIPE HERDEIRO”
— Vamos, Alteza. Não podemos nos atrasar para o funeral do Príncipe Theron — disse Lady Selyra, com sua voz suave ecoando pelo interior do saguão principal. Ela vestia um adorável vestido preto e longo que se arrastava até o chão, com bordados delicados em branco, cinza, e azul-marinho — as cores do luto de Avalaer — e um corpete que ressaltava seu corpo esguio.
Desvio o olhar, estava me sentindo nervosa demais sem motivo aparente.
— Já estou indo, Selyra. Só preciso de... Um minuto sozinha.
Ela me olhou por mais alguns segundos e apenas assentiu, caminhando até as grandes portas de madeira luxuosa do Palácio de Lórien e saindo de lá, aonde as carruagens estavam sendo preparadas para o funeral. Fiquei parada no topo da escadaria escutando os os dela se afastando pelo lugar.
Eram tempos difíceis para Avalaer. Quando alguém da realeza morre, parece que o reino inteiro apodrece junto. O povo diz que o sangue real, quando derramado, envenena a terra. Eu sempre achei exagero... Até agora.
Dizem que todo herdeiro que chega aos vinte e oito anos acaba morrendo — e com ele, vem a fome, a seca, a queda de tudo. Talvez seja coincidência, talvez seja algum tipo de castigo divino. Mas é estranho como o comércio parou, como as terras de Harveston estão vazias, como até o ar parece mais pesado. Desde que Theron se foi, é como se a própria terra tivesse começado a sangrar também.
O mármore sob meus pés parecia mais gélido do que o normal, me fazendo arrepiar por inteiro. Desci a grande escadaria, meus pés pareciam mais pesados a cada o que dava.
E assim que cheguei até o último degrau eu o vi.
Theron.
Um enorme autorretrato na base da escadaria, ladeado por estandartes negros e coroas de flores pálidas. Ele parecia quase vivo ali — o olhar firme, o sorriso confiante de sempre, mas que por trás disso carregava um grande peso. Ele vestia um manto cerimonial e a espada cerimonial que repousavam na cintura.
Meu peito se apertou ao lembrar daquele dia — o dia da coroação, quando ele tinha dezoito anos, e eu, apenas oito.
Meu irmão. Ele era a razão pela qual eu nunca me sentia realmente sozinha em Avalaer, mesmo com toda a atenção que ele recebia por ser herdeiro do trono, ele sempre, em todas as oportunidades que tinha, nunca me deixava de lado. Brincávamos quando podia, líamos livros — principalmente os de romances, eu amo romances — e quando incomodávamos o Conselho.
Sorrio ao lembrar, um sorrisinho bobo que logo se desfez no mesmo instante.
Doía saber que eu não teria mais ele, que não podia mais ver o sorriso dele, ouvir as palavras de conforto quando eu me machucava com meu jeito meio desengonçado ou ouvir o “Boa Noite” que ele me dava em todas as noites tempestuosas.
Aproximei-me do quadro devagar. Eu queria tocá-lo — estender a mão e desfazer aquela pintura absurda, arrancá-lo dali, trazê-lo de volta para o mundo onde ele pertencia. Mas me contive. A ponta dos meus dedos pairou a poucos centímetros da tela, e recuei como se isso pudesse queimá-los.
— Por que você? — perguntei num sussurro — Por que me deixou sozinha nesse maldito lugar?
Você me prometeu que eu conheceria as terras distantes de Avalaer, igual nas suas histórias, pensei.
Sabia que promessas eram fazias, feitas para serem quebradas. Mas... Era meu irmão, e eu acreditava nele, nas suas histórias de viagens a outros Reinos, outras terras fora do território de Avalaer. Ele me fez ter o mesmo desejo que o dele: conhecer o mundo. Eu sonhava com isso, todo dia, todo santo dia.
Talvez fosse ingenuidade da minha parte, mas como poderia me culpar? Eu era só uma criança. Acreditava que as promessas de irmãos duravam para sempre.
Suspiro finalmente olhando para trás, as portas principais do Palácio estavam abertas. O vento da manhã soprava para dentro, carregando consigo um cheiro de flores doces e incenso queimado.
Fechei os olhos, buscando algum tipo de coragem em mim mesma. Foi como prender a respiração antes de mergulhar num lago escuro — sem saber se haveria fundo, ou se eu simplesmente me afogaria na ausência de luz.
Alisei o vestido de veludo pesado, sentindo a textura macia e fria deslizar sob meus dedos gélidos. O cetim negro reluzia suavemente sob a luz do sol que filtrava pelas enormes janelas glamurosas, enquanto os detalhes em azul-marinho e prata, bordados a mão nas mangas e na barra, cintilavam como lágrimas escondidas.
Minhas mãos tremiam desobedientes, traindo o esforço de manter a compostura.
Acalma-se.
Inspirei novamente o cheiro do incenso, era um toque doce e ao mesmo tempo forte demais.
Olhei novamente para o quadro, como se ali tivesse todas as respostas que precisava. Então, me viro para sair do saguão principal.
O som dos meus saltos contra o mármore ressoava alto demais naquele silêncio todo.
Cruzei as portas abertas do Palácio, senti o ar frio da manhã beijar meu rosto, me fazendo encolher de frio.
As ruas estavam cobertas de tapeçarias negras e cinzas — o brasão de Avalaer bordado em prata sobre fundo azul-escuro, penduradas nas janelas e escadas das casas do povo. Cada esquina, cada beco, cada praça estava decorada com as flores de crisântemos — as favoritas de Theron — por toda parte, um contraste entre as vestes pretas de luto do povo com as cores vibrantes das flores.
Rosas brancas — o símbolo da Casa Real — também estavam espalhadas pelas calçadas, suas pétalas murchas misturando-se a poeira da rua.
E todo o povo de Avalaer estavam lá, homens, mulheres, crianças e idosos. Todos com semblantes tristes vestindo em tons escuros. Cada rosto parecia carregar a mesma pergunta muda: O que será de nós agora?
Pisco algumas vezes recusando-se á deixar minhas lágrimas caírem. Meu olhar percorreu a longa Avenida que levava até o Grande Templo, onde normalmente se faziam funerais lá. As carruagens dos nobres já estavam todas alinhadas.
Avisto Selyra, que já está sentada na carruagem, acenando levemente para que eu entre logo para assim iniciarem o funeral.
Não demoro mais nem um segundo e vou em direção a carruagem que me aguardava, puxada por dois cavalos de pelagem branca, enfeitados com plumas negras sobre as testas. O brasão imperial — uma águia de duas cabeças coroada com um cavaleiro no centro — havia sido coberta com um véu de tule escuro.
O cocheiro segurava firmemente às rédeas, aguardando que eu entrasse. Por um instante, hesitei na soleira da carruagem. A mesma sensação de nervosismo aparecendo de novo em meu peito.
Respire.
Subi os dois degraus de madeira com movimentos automáticos, e quando a porta se fechou atrás de mim, apenas pude ouvir o som abafado do mundo lá fora e suas lamentações.
Olhei ao meu lado onde Selyra estava sentada, com as mãos delicadamente pousadas sobre o colo, os olhos perdidos em algum ponto fixo além da janela. Sua expressão era suave, porém um pouco mais rígida, mesmo tendo a mesma idade que eu.
Desviei o olhar para o meu Conselheiro Lorde Gervais que ajeitava o manto pesado sobre os ombros, seus cabelos grisalhos brilhando sob a luz da manhã. Ele mantinha uma postura perfeita, como se nada pudesse abalá-lo.
Suspiro relaxando um pouco no acento aveludado quando a carruagem finalmente começou a andar, balançando levemente.
Enquanto avançávamos pela Avenida — uma enorme arela onde normalmente se vendia de tudo um pouco: vendedores gritando ofertas, crianças correndo entre carroças, cheiro de pão fresco misturado com o perfume das flores nas barras — agora tudo parecia... Triste demais.
As lojas estavam fechadas e toldos abaixados. Vi rostos se curvando, olhos baixos, gente jogando flores de crisântemos e rosas brancas no chão. Alguns fechavam os olhos e murmuravam orações baixas, quase como se falassem com os mortos. Mas o que me deixava mais angustiada era o olhar de vazio e tristeza deles.
Cruzei as mãos no colo para esconder o leve tremor dos meus dedos.
— Está pálida, Alteza — murmurou Selyra, ajeitando uma mecha de cabelo que escapou do meu penteado.
— Talvez devêssemos pedir para atrasar a cerimônia. Uma desculpa... Um mal-estar, talvez.
— Não — minha voz soou mais firme do que pretendia. — Eu tenho que ir nesse funeral.
Lorde Gervais limpou a garganta, todo pomposo como sempre. Ele me olhou daquele jeitão sério dele, como se estivesse prestes a me ar uma sentença.
— O povo está esperando, Alteza. Cada minuto de atraso vai parecer fraqueza. E, bem... Fraqueza custa caro, ainda mais agora.
— Que pensem o que quiserem — rebati, encarando a janela. — Que me chamem de fraca, de quebrada... É melhor isso do que fingir que está tudo bem, igual uma bonequinha para a corte.
Selyra soltou um suspiro meio triste, mas Lorde Gervais só deu aquele sorrisinho torto dele — seco, calculado.
— Infelizmente, Alteza... O mundo quer que você seja exatamente isso.
Engoli em seco. Ao longe dava para ver a Avenida se distanciando, ainda lotada de gente, tudo em silêncio. As pétalas no chão já estavam sendo pisoteadas, esmagadas pelo peso das rodas.
Quando a carruagem finalmente parou em frente ao Grande Templo, Lorde Gervais já se adiantou, ajeitando seu manto negro novamente e antes de sair, virou-se para mim com olhos rígidos.
— Quando sair desta carruagem sorria. Não muito. Apenas o suficiente para parecer forte. Mas não fria. O povo precisa acreditar que você aguenta.
— Entendi — murmurei, sentindo a boca seca.
— E mantém o queixo erguido. Costas retas. — ele desceu primeiro e estendeu a mão para mim.
Eu apenas assenti, recusando a mão dele, e desci sozinha. Logo atrás Selyra desceu e caminhou ao meu lado. Não esperei para que Lorde Gervais me acompanhasse.
O ar estava pesado, cada o até a escadaria do Grande Templo parecia ecoar nos degraus de mármore.
E assim que chego ao topo da escadaria, ainda nos portões, o caixão banhado a ouro de Theron já estava no centro do salão, rodeado por velas acesas dançantes sobre o ouro e a prata. Ele descansava ali, envolto por flores, dos mais variados tipos. As cortinas estavam puxadas, deixando o ambiente em uma penumbra dourada, e uma música suave, quase imperceptível, preenchia o ar. O salao era imenso, as paredes e o chão eram de mármore totalmente branco, tornando o lugar mais frio do que já era.
Um pouco mais à frente, estavam os nobres, todos em seus trajes formais. Alguns sentados nas cadeiras conversando e outros perto do caixão de Theron chorando e consolando-se entre si pela perda.
Selyra com seu olhar doce e suave, olhou para mim. Eu podia sentir a preocupação dela comigo, embora ela nunca demonstrasse. Ela colocou uma mão no meu ombro e de forma suave e baixa para que outros nobres que estavam entrando no Templo não escutassem nossa conversa, disse:
— Vai ficar tudo bem, Elenya. Você sabe disso, certo?
Eu virei levemente o rosto, tentando esboçar um sorriso, mas algo no fundo de mim se negava a acreditar. Ficar bem? Sério? Como se isso fosse fácil. Eu mal tinha começado a processar a perda de Theron, e agora estava a poucos os de distância do corpo morto dele.
— Claro — respondi, mas a palavra soou vazia demais até para mim. Se ela percebeu minha hesitação, não disse nada. E eu agradeci por isso.
Era de certa forma impressionante como ela sempre parecia tão calma e serena na maioria do tempo, enquanto eu apenas queria sentar em posição fetal num canto e chorar até desaparecer do mundo.
— Não se culpe, Elenya — disse ela em um tom baixo, seus dedos ainda em meu ombro, como se tentasse me ancorar no momento. — Você não controla isso. E Theron... Ele sabia, no fundo, o peso que carregava. Não é sua culpa.
Eu não sabia o que pensar. Theron... Ele sabia que estava em perigo? Ou a morte dele foi apenas um acidente trágico? Uma parte de mim queria acreditar que ele sabia.
Selyra não insistiu mais. Ela sabia que eu precisava de tempo, e ela sempre foi boa em dar isso. Talvez até melhor do que eu mesma sabia dar á mim.
Me assustei levemente ao sentir uma mão pesada em mim. Olho para trás rapidamente e vejo que era só o Gervais. Ele parecia meio ofegante, o rosto um pouco corado e cabelos levemente úmidos por ter subido tantos degraus.
— Você me assustou — murmúrio.
— Perdoe-me, Alteza — disse ofegante enquanto secava o rosto enrugado com um paninho do bolso dele. — Não fiquem paradas aqui fora, vamos entrar.
Ele levou eu e Selyra para dentro do lugar.
O interior do Templo era um mundo á parte. As grandes colunas de mármore pareciam se estender até o céu, desaparecendo na penumbra. As tochas distribuídas ao longo das colunas lançavam sombras trêmulas, fazendo as imagens dos santos antigos se moverem como se sussurrassem segredos entre si.
O chão sob meus pés ecoava meus os com um som oco, pesado. Selyra e eu andamos lado a lado, nossos ombros quase se tocando, enquanto os murmúrios da nobreza enchiam o espaço — pequenos sussurros de pena, política e falsas condolências misturadas em só ruído abafado. Eu mantinha os olhos fixos à frente, me recusando a dar atenção a qualquer um deles.
— Vamos para nossos lugares, Selyra — murmurei, deslizando os dedos pelo tecido do meu vestido antes de erguê-lo com cuidado. Avancei até o pequeno altar elevado, me sentando no trono aveludado vermelho. Selyra ficou logo atrás de mim, a direita, em silêncio.
Olho para o lado, o trono vazio do meu pai, o Rei, vazio como de costume. A saúde dele vinha se deteriorando há anos, e a cada estação parecia mais frágil. A maioria dos assuntos formais e cerimônias era conduzida em seu nome por Lorde Varran, seu conselheiro de confiança e porta-voz oficial. E lá estava ele, em pé ao lado do trono dele, com as mãos cruzadas á frente do corpo e o olhar neutro.
Gordo babaca.
Particularmente eu não gostava dele, quero dizer, seria um eufemismo eu dizer que “não gostava dele”, pois eu o odiava, com todas as minhas forças.
Desvio o olhar assim que os olhos dele se cruzam com os meus.
Volto a encarar o salão, aonde Duque Faenor (líder da Província de Valleshire, de Defesas militares e muralhas fortificadas), estava conversando com o Duque Mardain (Líder da Província Dravenmark que liderava o Treinamento Militar de Elite do Reino) como se nada estivesse acontecendo. A conversa deles parecia tão banal, tão longe do que estava acontecendo ao nosso redor.
— Sabia que as vendas de vinho caíram trinta por cento no mercado do Norte? — disse o Duque Faenor em voz baixa, mas o tom fazia parecer que estava discutindo assuntos vitais para o império. — Os nobres começam a ficar ansiosos. Se continuar assim, podemos ter um novo problema em mãos.
Mardain riu, mas era um riso amargo.
— Ora, se o vinho está em baixa, quem sabe o grande comércio do Duque Wessley não alavanca a economia de novo? E você, Faenor, já tem algum plano em mente para quando o trono mudar de mãos?
Eu congelei por um momento.
“Quando o trono mudar de mãos...”
Era como se alguém tivesse jogado um balde de água gelada na minha cara. Eu não tinha ideia se ia me acostumar com aquilo. Lembrei da última vez que meu pai me disse, com aquele sorriso bobo, que eu ainda tinha tempo para “aprender o ofício de rainha”. “É só seguir os os da mãe”, ele disse. E ali estava eu, no meio de um salão cheio de gente discutindo como “quando” eu assumiria. Nenhuma dúvida, nenhuma preparação. Só uma certeza de que as coisas iam continuar girando, e eu, no meio disso tudo, só tinha que seguir o ritmo.
Não podia ser assim tão simples, não é? Eu estava tão longe daquilo, não sabia nem por onde começar, e ainda tinha que lidar com essa pressão. Tudo o que eu queria era que as coisas voltassem a ser como eram antes, quando era só sobre meu irmão, Theron, correndo atrás de algo novo, fazendo piada e me arrastando atrás dele. A única coisa que mudava naquela época era a nossa posição em relação aos jantares. Agora... tudo parecia um palco de teatro, e eu, a atriz principal, não sabia nem o que estava acontecendo no ato seguinte.
Minha mãe, a Rainha Isolde, finalmente se sentou do outro lado do trono do meu pai depois de ter trocado palavras com meio salão de nobres. Ela ajeitou a saia longa — azul escura, bordada com fios prateados — e deu uma puxadinha discreta no colar de pérolas que usava sempre que queria parecer calma — mesmo quando claramente não estava.
— Se eu ouvir mais um Barão reclamando do vinho aguado, eu juro que viro o próprio barril — ela resmungou baixinho, só pra mim.
— Mãe... — murmurei, mas ela mal ouviu.
Ela soltou um suspiro dramático e deu aquele sorrisinho de canto que só ela sabia fazer.
— Se eu tivesse uma moeda pra cada vez que finjo gostar de gente inável... Já tinha construído outro castelo só pra fugir deles.
Revirei os olhos. Típico da minha mãe. Será que algum dia ela desenvolvera algum senso de noção? Ela esta no meio do funeral do próprio filho dela. Meu deus.
— Não é hora pra isso, mãe. — murmurei, encarando as mãos no colo — Não aqui.
Ela me lançou um olhar de lado, daqueles que parece um sorrisinho disfarçado, mas que no fundo só diz “você ainda vai me agradecer por manter a pose”.
— Ora, Elenya, as pessoas esperam que a realeza mantenha a compostura.
— As pessoas esperam que a mãe chore no funeral do filho.
Ela ficou em silêncio por uns segundos. Apenas ajeitou os brincos reluzentes e deu uma rápida olhada ao redor, como se quisesse checar se alguém estava ouvindo. E é claro que ninguém estava.
Eu me encolhi um pouco no trono de veludo. Eu não queria estar ali. Não daquele jeito. Não tão perto dela.
— Eu amava o Theron, de verdade — falei, quase sem voz. — E eu não consigo achar graça de nada hoje. Desculpa se eu não consigo virar uma estátua perfeita como você.
Ela manteve os olhos à frente, sem me encarar.
— Eu lamento pela sua dor, Elenya.
Não, você não lamenta. Na verdade, dúvido que realmente queira ficar aqui.
Suspiro tentando controlar os próprios pensamentos, mas era difícil. Ela dificultava as coisas. Apenas me lembro do que Gervais disse a mim, antes de sair da carruagem:
“Quando sair desta carruagem sorria. Não muito. Apenas o suficiente para parecer forte. Mas não fria. O povo precisa acreditar que você aguenta.”
E faço exatamente isso, ou pelo menos tento.
***
O som de os firmes e ritmados se aproximou. Os cavaleiros da guarda imperial tomaram suas posições, assim como os nobres foram para seus receptivos lugares.
Os sussurros se cessaram. E os sinos tocaram graves fazendo o ar vibrar entre as colunas do Grande Templo.
Então o sacerdote apareceu ficando até o centro do Templo perto do caixão, era uma figura severa com vestes bordadas de ouro, iniciou o cântico em uma língua antiga.
“Eliathar... O espírito que arde na eternidade, caminha entre os mundos e guia os justos. Vem, ó sombra da morte, abraça aquele que partiu, que sua alma encontre a paz nas águas tranquilas do além. Renasça na chama eterna, onde o ciclo nunca se quebra...”
Era difícil ignorar a solenidade do momento, mas a cada palavra dele, fazia eu querer chorar ali mesmo.
E antes que o sacerdote pudesse continua seu cântico o som pesado de uma carruagem rompeu o silêncio do lugar, ecoando em todo o salão. Os guardas postados junto às portas de madeira se entreolharam antes de abri-las lentamente.
— Mas que... — olho em direção para as grandes portas se abrindo vendo um homem alto, de ombros largos e postura impecável andando para dentro do salão como se o chão tivesse sido feito pra ele pisar. A capa de veludo preto arrastava atrás com um movimento lento, quase teatral. O cabelo escuro estava preso num rabo de cavalo baixo, preso com uma tira de couro. Para alguém tão alto ele parecia bem jovial.
— Quem é ele? — sussurrei para Selyra virando levemente o rosto para ela.
— Alaric, Alteza — sussurrou de volta, inclinando-se levemente para perto de mim. — Filho do Duque Arven.
Franzo o cenho, confusa. Não me recordava dele.
— Filho de quem...?
— Como não se lembra, Alteza? Ele é o filho do Líder de Blackspire, da Província de Inteligência militar e vigilância política. — explicou pacientemente. — E ex-soberanos.
— Ah, claro... — murmuro voltando a olhar para Alaric. Olhando melhor, lembrei de quando o vi pela primeira vez, aos dez anos, durante a cerimônia que o Conselho selou a aliança com o Reino de Marivent, agora, chamado por Blackspire e sendo uma das dezenoves Províncias de Avalaer.
Nós brincávamos até que bastante junto com meu irmão. Digamos que éramos amigos de infância, mas após a aliança de Marivent e Avalaer meio que nos distanciamos — não que eu me importe totalmente, ele era inável na época. Talvez ele ainda seja.
Porém, agora ele parecia diferente demais, tanto na aparência quanto na forma idiota que ele esta agindo agora no meio do funeral.
— E ele esta aqui para o quê, exatamente? — perguntei novamente.
— Para o funeral — respondeu —, acredito que seja isso.
— Não deveriam ter anunciado a chegada dele dias antes do funeral?
— Sem dúvida. Mas talvez possa ter algum motivo do por que não fizeram isso.
Assenti, ainda meio irritada. Havia algo na presença dele que me incomodava mais do que devia.
— Perdoem-me pelo meu atraso — disse Alaric, com sua voz clara e altiva, fazendo uma pequena reverência exagerada no meio do salão, como se estivesse se auto convidado para um baile, não em um funeral.
As palavras dele ecoavam como pedra quebrando o vitral.
— Pretensioso. — soltei entre dentes, mais baixo do que gostaria.
Selyra me cutucou discretamente na cintura, o toque firme, me avisando para não surtar aqui e agora na frente de todos.
— Ele não tem noção nenhuma... — sussurrei com o cenho franzido.
— Ou faz isso de propósito. — replicou Selyra.
— Incrível como certos homens confundem uma cerimônia com uma feira — comentou uma senhora de idade, um pouco mais longe do altar, abanando-se discretamente.
Reconheci a voz da mulher, ela é a Marquesa Tharven, líder da Província de Harveston, da agricultura e suprimento alimentar que vendia nos comércios de Goldmore do Duque Wessley.
— Esses jovens de hoje em dia, tão mal educados. Se fosse à minha época...
Não consegui de ouvir o resto já que ela cochichou para outro nobre ao lado.
— Não esperava mais do filho de Arven — sussurrou um jovem Lorde com sua acompanhante, ambos tentando não chamar a atenção.
Selyra balançou a cabeça desapontada, murmurando:
— Se fosse minha irmãzinha, minha mãe já teria arrastado ela pelas orelhas para fora do salão.
— Talvez devêssemos fazer isso nós mesmas — murmurei, sorrindo sutilmente.
— Você realmente está atrasado, Senhor Alaric — disse Lorde Varran com sua voz profunda e neutra, interrompendo o desconfortável silêncio que tomava conta do salão. — Está começando a se tornar um hábito.
Alaric deu um sorriso amarelo.
Sem noção, pensei revirando os olhos.
— Eu estava apenas tratando de alguns assuntos urgentes — disse ele, tentando se justificar do atraso de maneira vaga, sua voz perdida na quietude do salão.
— Assuntos urgentes? — respondeu Lorde Varran, um fio de ceticismo em sua voz. Ele lançou um olhar severo para Alaric, e minha mãe se virou levemente em sua direção, atenta. — Acredito que nada seja mais urgente do que a dignidade que este evento exige.
Alaric hesitou por um momento, sem saber como reagir. Ele parecia desconfortável, o que de certa forma me deixava um pouquinho feliz disso.
— Enfim, vou me sentar — disse ele, caminhando até encontrar um lugar junto aos outros nobres. Sentou-se como se estivesse em um banquete festivo, sem o menor traço de luto.
Os olhos dele me encontraram por um instante, me oferecendo um sorriso provocante. Apenas fechei a cara, sem dar muitos sinais de reação. Não queria me envolver mais do que o necessário.
O sacerdote posicionou-se em frente ao caixão dourado, pigarreou alto, tentando retomar o foco da cerimônia.
— Que Theron encontre a paz que a vida lhe negou... — entoou solenemente o sacerdote, levantando o báculo dourado. — Que a luz guie seu caminho além dos véus deste mundo.
As palavras pairaram no ar pesado. O som de tecido roçando e respirações contidas eram tudo que se ouvia.
Em algum ponto do salão, alguém soluçou baixinho. Não olhei para ver quem era. Em vez disso, mantive meus olhos fixos no caixão de Theron, sentindo uma dor atravessar meu peito. O vazio deixado por ele era impossível de ignorar.
— Ele merecia mais do que isso. — murmurei.
Selyra ouviu, mas nada disse. Apenas apertou minha mão discretamente, seu toque firme e reconfortante.
O sacerdote deu um o atrás, e então minha mãe avançou, erguendo uma pequena taça de cristal, — que só agora percebi —, onde o vinho da oferenda reluzia sob luz a dourada dos vitrais.
— Em memória do Príncipe Herdeiro, Theron Valendorn Marovell de Avalaer. — sua voz soou alta e firme. — Que sua partida marque não um fim, mas o renascimento de nossa esperança.
O funeral de Theron terminou sob o eco distante dos sinos. Todos ficaram em silencio enquanto o sacerdote realizava a bênção final, e colocava o sudário com o brasão de Avalaer sobre o corpo de Theron, e então, seis guardas reais foram em direção ao caixão erguendo sobre seus ombros.
A procissão seguiu pelos corredores internos do Grande Templo até o Mausoléu Imperial, onde a Chama Eterna aguardavam.
Todos se levantaram e andaram em silêncio, apenas o som cadenciado das botas ecoando nos corredores frios. À frente, as grandes portas do Mausoléu Imperial estavam abertas, revelando o interior mergulhado em luzes alaranjadas das tochas e o incenso denso. Era ali, entre os outros túmulos antigos de Reis e Rainhas, que Theron descansaria.
O sacerdote murmurou novas preces, enquanto os guardas conduzi o caixão ao centro Câmara Sagrada. A Chama Eterna queimava no altar principal, símbolo de linhagem que nunca deveria se apagar.
Atrás de mim, os nobres se retiraram, seguindo em direção ao Salão do Crepúsculo, onde teria o banquete fúnebre e a troca de cumprimentos aguardara.
Apenas a Família Real permaneceu — e Lorde Varra —, mantendo o luto íntimo e sagrado no Mausoléu.
Quando o ritual de deposição terminou e as portas da Câmara Sagrada começaram a se fechar, minha mãe foi a primeira a sair em silêncio assim como Lorde Varran e o sacerdote. E eu fiquei lá, sozinha, encarando aquele caixão sob as luzes tremeluzentes das tochas. Eu não pude deixar de pensar o porquê daquilo. Por que agora? Por que com ele?
Theron era... Era a melhor parte de tudo isso. Ele fazia parecer que dava para aguentar. A coroa, os títulos, as reuniões intermináveis com gente que só pensa em vinho, terras e ouro.
Ele ria das coisas certas, me protegia dos olhares tortos da corte, me chamava de “nossa bússola moral”, mesmo quando eu mesma me sentia perdida. E agora ele estava ali, deitado, preso dentro de uma caixa de ouro como se aquilo bastasse para segurar tudo o que ele foi.
Senti o nó na garganta. Respirei fundo, tentando não deixar as lágrimas caírem.
O silêncio era pesado. O tipo de silêncio que parecia gritar por dentro.
Apertei os dedos no tecido do vestido como se isso pudesse me ancorar em algo. Dei alguns os até o caixão. Só queria mais um momento. Só mais um.
— Você devia estar aqui, sabia? — murmurei, com a voz falha. — Não ali. Não... Assim.
Abaixei os olhos, e minha visão embaçou. Não tinha mais ninguém me olhando, ninguém esperando postura. Então eu deixei uma lágrima cair, depois outra. E mais uma. E eu nem tentei parar.
— Eu odeio isso. Odeio tudo isso.
Tentei enxugar as lágrimas que desciam como cachoeira, mas parecia ser impossível. Tudo estava tão difícil.
Eu sabia — ainda que apenas em parte — que o Conselho nunca havia simpatizado com Theron. Por ser diferente. Por não se curvar às máscaras da corte, por tratar o povo com gentileza genuína, como se todos fossem dignos de atenção. Para eles, ser bom era quase uma afronta. Como se a empatia fosse uma fraqueza imperdoável.
Talvez por isso tenham virado a cara tantas vezes. Talvez por isso ninguém tenha feito nada quando ele começou a se sentir cercado, pressionado. Talvez seja por isso que agora, com ele morto, eles pareçam... aliviados.
Malditos.
— Eu juro que encontrarei quem fez isso — murmuro baixo — Farei com ele sofra por isso. Como fosse sofreu.
Não sei quanto tempo se ou. Podiam ter sido minutos ou uma hora inteira. O tempo meio que... Parou ali dentro. Só as tochas tremulando, o ouro do caixão refletindo meu corpo e aquele cheiro de incenso que começava a me dar enjôo.
Ouvi um leve pigarro vindo da porta. Virei-me um pouco, sem pressa. Um dos guardas ainda estava lá — armadura polida, postura reta, mas o olhar... Hesitante.
— Alteza... — ele falou, com a voz baixa, quase como se estivesse com medo de quebrar alguma coisa — Deseja permanecer no Mausoléu ou devo acompanhá-la de volta?
Pisquei algumas vezes, tentando limpar o rosto sem chamar atenção. Dei uma última olhada pro caixão e suspirei fundo.
— Já estou indo — murmurei, sem olhar para ele.
Mas não me movi. Ainda não. Me obriguei a ficar só mais um segundo. Meu peito doía como se alguém tivesse cravado uma estaca e torcido devagar. Theron merecia que eu doesse por ele. Que pelo menos um de nós sentisse de verdade.
— Ele... Ele gostava de vir aqui quando criança, sabia? — falei de repente, sem saber por que. O guarda pareceu surpreso, mas assentiu, respeitoso. — Dizia que as estátuas dos anjos pareciam guardiões. Que ninguém podia mentir aqui dentro. Que o silêncio era mais honesto que os salões do castelo.
O guarda não respondeu. E eu nem esperava.
Respirei de novo. E dessa vez, me obriguei a dar o primeiro o. Depois o segundo.
Quando ei por ele, ele fez uma pequena reverência, como mandava o protocolo. Mas havia algo diferente no olhar dele. Um respeito que parecia vir de um lugar sincero, não só da hierarquia.
— Vamos — falei, com a voz ainda rouca. — Antes que minha mãe ache que fugi do reino.
Ele abriu caminho, sem dizer nada.
O guarda caminhava um o atrás de mim enquanto seguíamos pelo corredor estreito que conectava o Mausoléu ao Salão do Crepúsculo. A cada o, o som das vozes a frente ficava mais claro — risos abafados, copos tilintando, gente fingindo que a dor não estava ali.
Quando atravessei a entrada, o impacto foi imediato. O salão vasto e coberto por tapeçarias escuras engoliam a luz das velas, estava longe de ser silencioso. A chamada “recepção pós-funeral” já acontecia. Era isso que eles chamavam agora — uma forma educada de dar vinho pros nobres continuarem fofocando com um fundo de tristeza conveniente.
As conversas morreram por um segundo quando entrei. Um daqueles silêncios que parece um tapete puxado, todos os olhares voltaram-se para mim, como se esperassem que eu fizesse algo. Dissesse algo. Desabasse, talvez. Mas só mantive o queixo erguido e continuei andando, como me ensinaram. Como Theron odiava.
O guarda ficou na entrada, quieto, respeitando meu espaço. Caminhei entre grupos de vestidos luxuosos e túnicas pesadas, todos perfumados demais pro meu gosto. Alguns sussurravam palavras de conforto — vazias, sem peso. Outros apenas desviaram o olhar, como se a minha dor fosse contagiosa.
Fui em direção a grande mesa onde estava o banquete, vi Selyra em pé ao lado de meu trono acenando sutilmente para mim.
Assim que cheguei ao meu lugar na mesa aonde havia inúmeros tipos de comidas, doces, salgados e comidas agridoces.
Peguei um pedaço de fruta cristalizada e comi. Era doce demais. Me fez arrepiar os dentes, mas engoli mesmo assim.
Suspiro, triste. Entediada e Triste.
Selyra se inclinou levemente, me olhando com aqueles olhos grandes e expressivos, algumas mechas de seu cabelo cacheado caíram suavemente pelo rosto pálido.
— Você está bem, Elenya? — perguntou baixinho.
Só balancei a cabeça rapidamente sem olhar para ela, não queria que ela me fizesse uma enxurrada de perguntas como normalmente faz.
Pego um pedaço de pão fresco e quentinho e como.
— Tem certeza?
Assenti novamente, sem dizer nada.
Olhei de novo para o trono vazio ao meu lado. As flores de crisântemo e o veludo negro... Parecia uma piada. Theron teria odiado aquilo. Ele odiava qualquer coisa “chique demais”.
Do outro lado do salão, minha mãe continuava com a encenação dela, recebendo condolências como se estivesse assistindo a uma peça enfadonha. Quando nossos olhos se cruzaram, ela fez aquele mesmo olhar — o de “mantenha a postura” — e depois virou o rosto.
Revirei os olhos.
— Eles querem que você fale algumas palavras depois do vinho cerimonial — Selyra disse, meio hesitante. — Um discurso.
— Claro que querem — resmunguei de boca cheia, pegando outro pedaço de fruta cristalizada só para fazer algo com as mãos. — Querem que eu fique de pé e diga que ele foi uma luz que se apagou cedo demais, que vai viver para sempre em nossos corações e blá, blá, blá.
— Você não precisa mentir — disse ela.
Antes que eu pudesse responder, alguém pigarreou atrás de mim. Virei o rosto e dei de cara com Alaric.
Ótimo, só faltava essa para alegrar mais o meu dia. O manto escuro dele contrastava com o brilho da sala — e o olhar, bom... O olhar dele era direto como uma flecha.
— Alteza — disse Alaric, com aquele tom provocante que me tirava do sério.
Em algum momento ele vai conseguir me fazer socar alguma coisa. Provavelmente ele mesmo.
— O quê? — pergunto, irritada, mordendo outro pedaço da fruta cristalizada que peguei da bandeja.
Ele só sorri, como se minha irritação fosse entretenimento puro.
Idiota.
— Ora, nada demais. Só queria conversar um pouco.
Engulo a comida com força antes de encará-lo.
— Sobre como você foi um idiota completo no meio do funeral? Claro, vamos conversar.
O sorriso dele só aumenta.
— Nossa, não seja tão cruel comigo. Eu já expliquei por que me atrasei.
— Ah, sim. “Assuntos urgentes”. Que desculpa maravilhosa — digo, com sarcasmo. — E me explica uma coisa, então: o que você está fazendo aqui? Não era pra estar cuidando da política de Blackspire, sendo o filho do Duque Arven?
— Bem... tecnicamente sim. Mas meu pai me enviou pra cá. Você sabe, aquela velha desculpa de “representar Blackspire”.
Franzo os olhos, tentando ler qualquer mentira no rosto dele. Nada. Liso como sempre.
— Sei... — murmuro, já pegando outro docinho da mesa, torcendo pra que ele desistisse do assunto. Mas, claro, não desiste.
Ele segura meu pulso com delicadeza antes que eu leve o doce à boca.
— Espera... Eu preciso mesmo falar com você — ele lança um olhar hesitante para Selyra antes de continuar. — Sozinhos.
— E por que eu faria isso?
Ele bufa.
— É importante.
Desvio o olhar, penso por um segundo e suspiro.
— Onde?
— Na ala oeste. Onde os sacerdotes guardam aqueles instrumentos... religiosos.
Ah, sim. Lembro daquele lugar. Onde Theron e eu costumávamos nos esconder quando queríamos fugir das obrigações. Um aperto involuntário no peito me faz hesitar.
Me viro para Selyra, que nos observava em silêncio. Ela arqueia uma sobrancelha, claramente sem gostar da ideia, mas não diz nada.
— Eu já volto — digo a ela.
Selyra cruza os braços, ainda calada, mas seus olhos dizem “se ele fizer qualquer coisa, vai se arrepender amargamente.”
Então me levantei do meu acento e segui ele em direção a ala oeste. Atravessamos o salão em silêncio, daquele tipo de silêncio que consegue ser barulhento.
— Vai me dizer agora o que queria discutir... Ou só vamos fingir que é só um eio entre velhos conhecidos? — perguntei, segurando levemente o vestido para não tropeçar.
Alaric ficou em silêncio por alguns segundos, o que era surpreendente. Quando respondeu, foi num tom mais baixo, sincero:
— Você parece mais sozinha agora do que quando eu te vi pela primeira vez, com dez anos, tentando entender porque todo mundo sorria tanto num tratado de pós-guerra.
Não falo nada e andamos mas um pouco em silêncio até, sem querer, Alaric parar no meio do caminho fazendo eu bater o rosto e o tronco nas costas enormes dele.
— Aqui está bom.
— Aí, nossa... — murmuro dando alguns os para trás — Por que parou derrepente?
Percebo ele olhar parar trás, como se não tivesse sentindo eu bater com a cara nele.
— Ah, desculpe — disse se virando para mim.
— Não importa, o que você quer falar de tão importante que precisa ser conversado a sós? — falo novamente.
Ele me observa por um momento, como se ponderasse o que podia ou não dizer.
— Você sabe que as coisas não estão exatamente... calmas nos outros cantos do reino, certo?
— Nunca estão — resmungo.
— Mas agora é diferente — ele fala baixo. — Depois da morte do Theron, surgiram rumores. Uns falam de traição, outros de golpe, outros... de fraqueza no trono.
Meu estômago se revira com aquela palavra.
— E o que isso tem a ver com você?
— Tudo. Meu pai quer saber como estão as coisas por aqui. Se a corte vai se manter firme. Se você vai se manter firme.
— Então é isso — cruzo os braços. — Me espionar?
Ele ri, balançando a cabeça.
— Calma, não estou aqui pra te vigiar, Elenya. Mas você sabe como é meu pai... Ele não aposta em um barco afundando — ele se encostou na parede, cruzando os braços.
— Que ótimo — digo seca.
— Mas eu não vim só por ele. Vim porque me importo. Porque te conheço. E porque sei que você não vai aguentar isso tudo sozinha.
A gente ficou ali por um tempo, só ouvindo o som abafado do salão atrás. E pela primeira vez naquela noite, o ar parecia mais respirável. As tochas lançavam luzes trêmulas para a gente.
— Você não precisa fingir ser de ferro o tempo todo — disse ele, quebrando o silêncio. — Nem todo mundo aqui está contra você.
— Você não sabe de nada. — falo, meio frustrada.
Ele me encara mais sério do que antes.
— Não é por que não estive aqui nos últimos anos que eu não saiba. Isso está estampado no seu rosto.
Cruzo os braços, desconfortável com a intensidade do olhar dele.
— Se veio só pra me dizer o quanto estou quebrada, parabéns. Missão cumprida.
— Não. — Ele balança a cabeça. — Eu vim porque achei que você precisava de alguém que não estivesse tentando controlar você. Alguém que... te conhecesse de verdade.
— Engraçado. Você me conheceu quando éramos crianças. Muita coisa mudou.
— E outras não tanto — ele diz, dando um o mais próximo. — Você ainda odeia itir quando está com medo. Ainda tenta carregar tudo sozinha.
Recuo um pouco, ainda incerta sobre ele, mesm agindo de uma forma... Fofa comigo?
Alaric percebeu minha hesitação e não avançou.
— E você ainda acha que pode me ler como um livro.
Ele sorri, mas há algo mais frio nos olhos.
— Talvez eu consiga ler entre as linhas.
Fico em silêncio por um momento, desconfiada, mas cansada demais pra discutir.
— Então o que quer de mim, Alaric?
— Só quero que pense com cuidado antes de confiar em qualquer um aqui dentro. Até mesmo em quem parece estar do seu lado.
— Está falando de alguém específico?
Ele hesita por um instante, depois responde:
— Estou dizendo pra você não baixar a guarda. Nem por um segundo.
Nos encaramos por um tempo. Ele não diz mais nada. E talvez justamente por isso... aquilo me incomoda mais do que qualquer mentira descarada.
— E isso tem alguma coisa haver com a corte ou o que? — perguntei.
Ele deu de ombros, pensativo, com os olhos voltados para a janela. Instintivamente, meu olhar seguiu o dele. A noite lá fora parecia mais limpa, quase serena — a luz da lua escorria pelos telhados, prateando as pedras da Avenida. Dava para ver o Grande Comércio ainda aceso em alguns pontos, o contorno do Palácio de Lórien ao longe e as pequenas casas do povo alinhadas como peças de um jogo que eu nunca soube jogar direito.
— Não sei ao certo. Provavelmente.
Provavelmente? Ótimo.
— Então... — murmuro lentamente.
Ele se vira de novo para mim, com aquele meio sorriso que nunca revela tudo.
— Só... cuida de si, Elenya. Esse lugar pode engolir até os mais fortes se eles não prestarem atenção.
— E você se preocupa comigo agora?
— Sempre me preocupei. Só não sabia se devia demonstrar.
Reviro os olhos, cansada demais pra responder a isso.
— Vamos voltar. Selyra vai achar que você me jogou de uma torre.
— Ainda não tive motivo pra isso — ele diz, rindo baixinho.
Dou um olhar mortal em resposta, mas acabo soltando um leve sorriso, quase sem querer.
Caminhamos em silêncio pelos corredores de mármore, as tochas lançando sombras vacilantes à nossa frente. Quando nos aproximamos do Salão do Crepúsculo, o burburinho das vozes retorna como uma onda abafada.
***
A medida que a noite avançava, alguns dos nobres se despediram, se aglomerando entre si na saída.
Ótimo, minha deixa para sair daqui, pensei.
Me levantei do meu acento, sentindo o peso nos meus ombros das últimas horas começar a dissipar, ainda que um pouco. Dei uma olhada ao redor para ver se alguém notaria se eu saísse ou não dali. Selyra estava conversando com um nobre, Alaric com algumas meninas da nobreza e minha mãe... Nem preciso dizer, ainda estava rodeada por alguns Duques que cortejavam ela.
Caminhei devagar entre os nobres, tomando cuidado para não esbarrar em ninguém ou tropeçar no chão.
Quando finalmente cheguei ao corredor para sair dali — que era o mesmo corredor que dava ao Mausoléu — Sem querer esbarrei em um dos guardas reais — o mesmo que me levou até o Salão do Crepúsculo.
— Que droga! De novo? — resmungo fechando os olhos e dando alguns os para trás, massageando a testa onde foi atingida pela armadura de ferro do guarda.
Abro os olhos para encarar ele.
E. Meu. Deus.
Ele era um homem ou um titã?
Tive que dar mais alguns os pra trás para conseguir ver seu rosto melhor — o que não deu muito certo já que ele usava um capacete que cobria quase todo o rosto.
Ele era enorme, o tipo de gente grande que não se encontrava facilmente, e seus ombros... Eram largos, eu poderia facilmente me pendurar ali se quisesse.
Fico encarando ele por sei lá quando tempo, mal percebendo que ele estava falando comigo.
— Alteza? — disse profundamente o guarda, o que me fez arrepiar — Você está bem?
Nem lembrava mais do que aconteceu a poucos segundos atrás.
— Eu...ah... Eu... — respiro fundo tentando reorganizar as palavras — Claro... Estou ótima — sorrio.
O guarda me encarou por alguns segundos.
— Certo. Para onde está indo, Alteza?
Uau, nunca achei que seria sexy alguém me chamando de Alteza.
— Eu... Eu quero voltar para o Palácio, sabe, já estou ficando cansada. — desvio o olhar, por que estou ficando tão tímida perto de um guarda qualquer?
Ele apenas assentiu.
— Mas já está tarde demais para você ir sozinha.
Dou de ombros.
— Não tem problema, eu esperava ir sozinha mesmo.
— Precisa que eu acompanhe você?
Olho para ele, sem saber muito o que dizer
— N-nao precisa. Quero dizer, você já deve estar bem ocupado, hein? Observando tudo e tals.
Fico meio nervosa, com certeza ele esta me achando a maior esquisita agora.
— É meu trabalho protegê-la — ele respondeu com serenidade, mas havia um traço de gentileza no olhar.
Desviei o rosto rapidamente, sentindo meu rosto aquecer. Ridículo. Eu era a herdeira do trono, e ali estava eu, tropeçando nas palavras por causa de um guarda.
— Então... tudo bem — murmurei. — Podemos ir.
Ele apenas assentiu e liberou o espaço para que eu possa ar, andamos até a saída lateral do Grande Templo. O silêncio entre nós era confortável desta vez, preenchido apenas pelos ecos dos nossos os pela antiga escadaria de pedra que levava à base da colina.
A noite lá fora estava fria e coberta por névoa tênue, que se espalhava pelas ruas estreitas da Avenida como um véu. A carruagem já nos esperava no sopé da escadaria, flanqueada por dois guardas do palácio.
Descemos os degraus, eu tomava cuidado para não tropeçar com o vestido e cair no meio da escadaria.
Assim que chamou perto da carruagem o guarda abriu a portinhola para mim com cuidado e eu entrei, puxando o vestido para mais perto do corpo. Ele subiu logo depois, sentando-se diante de mim. Era engraçado o modo como ele estava sentado todo espremido. Suas pernas estavam levemente esticadas e abertas, com minhas pernas e entre as dele. Era engraçado e constrangedor ao mesmo tempo.
Então o cocheiro logo deu o sinal, e os cavalos começaram a se mover em direção ao palácio.
A carruagem balançava suavemente enquanto eu observava as luzes da cidade se afastando, ficando para trás, à medida que seguíamos para o palácio. O som das rodas sobre a estrada de pedra era um ritmo constante, quase hipnótico, e eu me permitia perder meus pensamentos nesse som repetitivo. Não sabia o que esperar do que vinha pela frente, mas sentia que algo estava diferente. Algo dentro de mim, algo em minha cabeça, gritava que a morte de meu irmão não fora acidental. Algo não se encaixava.
Quando os portões do palácio surgiram à frente, me dei conta de como tudo parecia diferente agora. Como se, ao sair do templo, eu tivesse atravessado mais do que a cidade — como se tivesse cruzado um limite invisível. E nada mais fosse seguro do mesmo jeito.
— Obrigada — murmurei, antes mesmo da carruagem parar por completo.
Ele apenas inclinou a cabeça levemente, sem sorrir, mas com um olhar que dizia que estava sempre atento.
Ele desceu primeiro estendendo a mão para me ajudar a descer o que fiz felizmente, quando atravessei os portões do palácio, uma parte de mim queria que ele dissesse algo. Qualquer coisa.
Mas ele apenas se afastou e deu uma reverência.
Assim que entrei no Palácio, alguns dos empregados que avam pelo saguão principal imediatamente chegara, mas não estava mais com paciência para isso.
— Vossa Alteza — disse uma das empregadas, com um sorriso nervoso.
— Não, está tudo bem. — Falei de forma firme, interrompendo a tentativa deles de me ajudar. — Preciso de um tempo sozinha.
Ela hesitou por um momento, olhando para mim com uma mistura de preocupação e receio.
— Mas, Alteza, podemos-
— Não, é melhor não. — Respirei fundo, tentando disfarçar a tensão crescente. — Vá fazer outra coisa.
Sem dar tempo para qualquer tipo de reação, virei e me afastei, os os ecoando pelos corredores vazios do Palácio. O som dos meus pés batendo no piso frio parecia amplificado na quietude, como se o próprio castelo estivesse em silêncio à espera de algo — ou de alguém. Não queria lidar com mais olhares, com mais perguntas disfarçadas de preocupação.
Caminhei pelos corredores silenciosos como se meus pés soubessem exatamente onde me levar. A cada o, o peso da noite e da ausência parecia mais denso. E quando dei por mim, estava diante da porta dos aposentos de Theron.
Até que finalmente fico parada em frente aos aposentos de Theron, fico alguns segundos encarando a porta, uma enxurrada de lembranças vieram a tona.
Não lembrava da última vez que ele a havia trancado. Mas mesmo assim, meus dedos foram direto para o velho esconderijo atrás da tapeçaria — onde ele sempre deixava a chave, quando eu tinha medo de dormir sozinha á noite.
Empurrei a porta com cuidado.
O quarto estava exatamente como eu lembrava, mas tudo ali parecia... errado. Como se as coisas estivessem fora de lugar, mas, ao mesmo tempo, no seu lugar mais certo. A luz fraca do luar entrava pela janela, iluminando o grande quarto.
Era como se ele ainda estivesse ali, de alguma forma, esperando que eu descobrisse o que ele tinha deixado para trás.
Fiquei parada no meio do quarto, sem saber exatamente o que fazer. O silêncio ali dentro era tão denso que parecia me envolver por completo, como um cobertor pesado demais para o corpo já cansado. Respirei fundo, tentando afastar a dor que insistia em subir pelo peito, aquela sensação amarga de que algo tinha sido arrancado de mim cedo demais.
— Ainda está aqui... — murmurei, quase sem perceber. Minha voz saiu baixa, rouca, como se tivesse medo de quebrar o clima que pairava no quarto. Ou talvez de ouvir minha própria dor em voz alta.
Tudo ali ainda era dele. O jeito como os livros estavam empilhados — nem organizados, nem bagunçados demais —, as roupas dobradas com descuido sobre a poltrona, o cheiro leve do perfume que ele usava e que ainda resistia no ar. Era como se ele fosse aparecer a qualquer momento, rindo de algo idiota ou me contando sobre mais uma de suas teorias absurdas que só ele conseguia levar a sério.
Olhei ao redor, devagar, absorvendo cada detalhe. Os livros na estante, empilhados como ele sempre deixava, como se tivesse parado no meio de uma leitura e fosse voltar a qualquer momento. A poltrona com a manta torta, a mesma que ele usava nas madrugadas frias. As botas encostadas ao lado da cama, alinhadas com descuido. Tudo tão familiar. Tão vivo. E, ao mesmo tempo, morto demais.
— Você odiaria ver tudo tão parado assim, sabia? — soltei, com uma tentativa fraca de sorriso. — Isso aqui... você sempre odiou o silêncio. Dizia que o barulho era prova de que ainda estávamos vivos.
Mas ele não ia aparecer. Nunca mais.
Me aproximei da cama, ando a mão pelo tecido esticado, engolindo o nó na garganta que insistia em crescer. Cada detalhe me empurrava para memórias que eu não queria revisitar agora. A risada dele. As piadas ruins. As brigas idiotas que sempre acabavam em abraços. Tudo isso me golpeava com força, como se meu corpo estivesse ali, mas minha mente ainda estivesse tentando entender como viver num mundo sem ele.
Sentei na beirada da cama e encarei o quarto como quem observa as ruínas de algo que já foi bonito. Eu não estava pronta para deixar tudo aquilo para trás. Mas, no fundo, sabia que havia algo me puxando para mais fundo. Algo que não era apenas luto, era inquietação. A morte dele tinha deixado um rastro estranho, uma sensação incômoda demais para ser ignorada.
— Eu não consigo entender, Theron... — falei, encarando o chão. — Você estava bem. Tava mesmo. A gente brigou, é verdade, mas... Você estava bem. E agora você... — a frase morreu antes de se completar. A garganta apertou.
Fiquei em silêncio por alguns segundos, tentando encontrar ar, tentando organizar tudo o que borbulhava por dentro, mas não havia ordem possível. Tudo doía, e tudo parecia confuso demais pra caber numa explicação lógica.
— E eu odeio isso, sabe? — continuei, agora olhando para o vazio, como se esperasse que ele estivesse ali, encostado na porta, com aquele sorriso torto, os braços cruzados, pronto pra soltar alguma piada idiota só pra me ver revirar os olhos. — Odeio que a gente tenha terminado naquele tom. Que você tenha saído do salão sem olhar pra mim. E agora... agora eu fico aqui me perguntando se você sabia. Se sentia que algo ia acontecer. Porque eu... — travei de novo, engolindo a dor. — Eu devia ter ido atrás de você.
Levantei devagar, caminhando pelo quarto como se ele fosse feito de vidro, como se qualquer movimento brusco pudesse quebrar o pouco que ainda restava dele ali. ei os dedos pelas lombadas dos livros, pelas gavetas fechadas, pela escrivaninha empoeirada. Tudo estava do jeito que ele deixou. Mas ao mesmo tempo, tudo gritava ausência.
— Você era o teimoso da família, e eu que fiquei aqui, tentando juntar os pedaços de algo que nem sei se consigo entender. — murmurei.
Encostei na parede e deslizei até o chão, sentindo o frio do mármore atravessar o tecido do vestido. Abracei os joelhos, encolhida ali, num canto qualquer do quarto que antes parecia tão vivo. O silêncio continuava me observando. E, por um instante, jurei sentir a presença dele ali. Não como um fantasma. Mas como um sussurro dentro da memória. Um aviso. Um pedido.
Não sabia exatamente o que esperar encontrar aqui. Talvez algum tipo de resposta que fizesse tudo doer um pouco menos. Ou talvez só a presença dele, mesmo que em lembrança.
Meus olhos vagaram até a escrivaninha, um móvel simples, mas que ele usava quase todos os dias. Sabia disso porque ele sempre deixava alguma coisa inacabada ali — uma carta, um desenho, uma ideia qualquer que jurava ser genial. Theron era assim: vivia com a cabeça cheia de planos que nem sempre faziam sentido, mas que ele acreditava com tanta força que a gente acabava acreditando também.
Me levantei devagar e fui até lá, mais por impulso do que por intenção real. Abri a primeira gaveta. Canetas, selos, algumas folhas em branco... nada demais. Segunda gaveta: mais papéis, bilhetes antigos, uma pedra colorida que ele jurava ser mágica.
Sorri fraco. Tudo dele. Tudo ainda tão dele.
Foi quando vi — meio enfiado sob uma pilha de folhas soltas — um pedaço de papel dobrado, amassado, e... rasgado. Franzi o cenho. Algo naquilo não parecia certo. Não era como as outras anotações. Aquilo parecia escondido. Não guardado — escondido.
Meu nome estava escrito na frente. A letra era dele.
“Para Elenya. Só leia se eu não voltar.”
Peguei com cuidado. A textura era áspera, como se tivesse sido manuseada com pressa ou raiva. A ponta estava rasgada, parte das palavras faltando, mas ainda dava pra ler alguns trechos. E o que estava ali me fez gelar.
O chão pareceu se afastar por um instante. Minha garganta se fechou, e o som ao redor se apagou.
Sentei de novo, com o papel entre as mãos. Respirei fundo uma, duas vezes, e então o abri.
![A Coroa e a Lâmina-[Ci]Nada Permanece Para Sempre
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As palavras dele queimavam nos meus dedos. Eu relia a carta, uma, duas vezes, como se alguma coisa fosse mudar. Como se, de repente, ele ainda estivesse ali — vivo, sorrindo, me chamando de “pirralha” e dizendo que era só mais uma das brincadeiras dele. Mas não era.
Theron sabia.
E eu... eu não vi nada.
A carta tremia na minha mão, e não era pelo frio. Era pela raiva. Pela dor. Pela culpa. Tudo misturado, embolado no peito, como um nó que eu não sabia desatar.
“Não confie em ninguém.”
Essas palavras ficavam martelando na minha cabeça. Como confiar? Em quem? Eu cresci cercada pelas mesmas pessoas. Comi na mesma mesa. Chorei com elas. E agora... tudo parece diferente. Tudo parece mentira.
Olhei pela sacada. A cidade brilhava lá embaixo como se nada tivesse acontecido. Como se o mundo não tivesse desabado junto com ele.
“Os nomes que faltam.”
O que ele queria dizer com isso? Quem mais estava envolvido? E por que, pelos Deuses, ele não me contou antes?
Eu fechei a carta com cuidado, como se estivesse tocando nele pela última vez. Depois escondi bem, perto do coração. Ninguém mais podia ver aquilo. Ainda não.
Não chorei. Ainda não.
Em vez disso, fiquei ali, em pé, sentindo o vento no rosto e o peso da escolha nas costas.
Se alguém matou meu irmão, então essa pessoa vai pagar.
E eu vou descobrir quem foi.
Nem que eu tenha que virar esse maldito reino do avesso.
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”Na luz, o Reino floresce”
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Oi, Oi galera! Espero que tenham gostado do capítulo 1. Tentei deixar o estilo de escrita mais informal, sem colocar muita palavras cultas e difíceis.
E sim, fiquei praticamente um dia inteiro fazendo e refazendo o mapa do Reino. Colocarei o mapa em todos os capítulos para que não precisem voltar aqui! Talvez futuramente eu vá muda um pouco o mapa. E não satisfeita só com o mapa, eu decidi fazer o brasão do Reino kkkk, amo fazer os mínimos detalhes.
Perdoem-me qualquer erro de ortografia.
Comments (4)
Ce usou Inkarnate pro mapa né? Nossa acho mó difícil usar
Eu usei pelo computador ai achei mais fácil. E de site pra fazer mapa de reinos,RPG e etc. Inkarnate é o mais completo(se tiver o PRO né)
Responder para: ┆ ▓ :cloud: ˚ : ﹫ Ꮲ.ᥲm᥆ᥒһᥲིྀ ⌧
Fiz meu mapa de RPG usando uma base uma vez, mas ainda assim foi complicado 🫠
Responder para: ⠀⠀𐴲🟢⠀٬⠀𝗗𝕚𝗇𝗻𝕚̶ǝ!⠀𝂅⠀𑄝͟𑇢
Eu peguei referência pelo pinterest