Eusébio Amado era um homem satisfeito.
Tinha uma carreira sólida, um apartamento com vista para o parque, uma conta bancária invejável e uma esposa que parecia ter saído de uma propaganda de perfume.
Lídia. Bela, inteligente, sempre com uma palavra doce e um toque de delicadeza que fazia o mundo parecer um pouco mais justo. Todo mundo dizia que Eusébio tinha sorte. Ele concordava.
Lídia era carinhosa. Sabia a hora exata de lhe servir um café, de perguntar sobre o trabalho sem parecer entediada, de ajeitar a gravata dele antes das audiências como se estivesse colocando uma medalha no peito de um herói.
Às quintas, jantavam fora. Aos domingos, ficavam na cama até mais tarde lendo jornais e rindo das colunas sociais. Quando ela ria, ele esquecia da vida. Era o tipo de amor que parecia escrito com caneta de ouro.
Lídia era presente. Atenta. Tão doce que, às vezes, ele achava que não merecia tanto.
Tobias, seu melhor amigo desde os tempos de faculdade, também adorava Lídia. E quem não adoraria? Tobias era divertido, querido por todos, e mesmo com aquele jeito meio debochado, era fiel ao amigo como um cão de guarda.
Eusébio era feliz. Mas é assustadora a forma como a vida pode mudar drasticamente de uma hora para outra.
Saiu do trabalho mais cedo, um raro milagre. Comprou vinho. Pão fresco. Flores. Subiu as escadas pensando em surpresas e beijos.
A chave girou na porta. Silêncio.
Chamou por Lídia.
Ninguém respondeu.
Foi até o quarto. A porta entreaberta. O vinho escorregou da mão. A garrafa caiu de lado no tapete. Nem barulho fez.
Ali, sobre os lençóis que ele mesmo tinha trocado dois dias antes, estavam Lídia e Tobias.
Rindo.
Nus...

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