A morte precoce — Creepypasta

O luto tem fases difíceis e friamente previsíveis. Meus pais e eu amos por todas depois que minha irmã faleceu, e percebemos que nossa família tinha duas opções: se unir ou se afastar. Escolhemos assumir a dor, enfrentá-la — e isso nos uniu. Demorou meses, e nunca entendemos o que aconteceu com ela...

Naquela noite, minha mãe não gritou o nome dela. Não. Ela apenas pediu que eu fosse até seu quarto chamá-la para o jantar — e eu fui. Quando entrei, me deparei com uma escuridão inesperada, pois o quarto de Lara estava sempre iluminado. A única luz vinha da tela do computador, que falhava. A cabeça dela repousava contra o teclado, e eu fui em sua direção. Ela continuava imóvel, na mesma posição. Cheguei a pensar que estivesse dormindo. Mas naquela posição? Impossível.

— Vamos, Lara, acorde! — agitei seu corpo, e ela caiu no chão.

Foi o começo do desespero.

— Mãe! Pai!

Meu pai segurou o corpo adolescente da minha irmã e a levou para o carro. O mundo parou naquele momento. A casa ficou exatamente como estava, e nós corremos para o hospital mais próximo. Ela estava no meu colo, no banco de trás. Ainda lembro que seu corpo permanecia como estava lá em casa: frio e pálido. Lara parecia morta em meus braços... e estava. Foi confirmado no hospital quando chegamos, e nenhum médico, perito ou legista soube explicar a morte precoce e súbita da minha irmã. Uma adolescente de 16 anos, jovem e saudável.

A casa permaneceu a mesma por dois anos. O mundo parou para nós naquele dia, e seu quarto tornou-se um lugar sagrado, intocado. Dois anos se aram até tudo se tornar mais ável, até nossas vidas voltarem um pouco ao normal. E, pela primeira vez desde aquele dia, estávamos felizes. Era Natal, e decidimos esvaziar o quarto de Lara. Não seria fácil, mas era parte do processo de aceitação.

Quando meu pai abriu a porta naquela manhã, nós três sentimos o cheiro dela e vimos o brilho do quarto. Uma miragem dela pulando na cama ou diante de mim. Incrível como aquele cômodo trazia boas lembranças. Ríamos das histórias da minha mãe sobre o quanto ela era atrapalhada. Eu fiquei mais quieto depois de um tempo. Já não tinha 13 anos — agora tinha 15 — e comecei a pensar em coisas que nunca haviam me ocorrido.

A escuridão daquela noite me veio à mente. A cabeça dela contra o teclado. A imagem distorcida do computador. O que teria acontecido, afinal? Por que a tela estava daquele jeito? Lembrei da sensação de que algo estava muito errado assim que entrei no quarto naquela noite. Nunca tinha parado para pensar nesses detalhes, e acho que ninguém mais tinha. Mas aprendi que o segredo está nos detalhes. Mesmo assim, guardei os comentários para mim — meus pais estavam felizes, e eu não queria quebrar o clima.

Já era noite quando terminamos, e deixamos a parte mais difícil para o final. Eu fiquei responsável por mexer no computador onde ela morreu — onde, simplesmente, sua alma foi embora. Com medo, comecei a lidar com os fios enrolados e a mesa bagunçada. Foi nesse exato momento que aquela sensação de algo estar errado voltou. Como se fios percorressem minhas veias e se enrolassem em meu pescoço. Senti os pelos se arrepiando e acelerei o processo.

Foi quando a tela do computador ligou. Ligou mesmo sem estar conectada à tomada — e começou a falhar, como naquela maldita noite. Caí no chão com o susto. Antes que pudesse acender a luz, a tela ficou preta, e letras vermelhas, da cor do sangue, surgiram. Nelas estava escrito:

CAUÃ?

CAUÃ... ESTOU AQUI.

ESTOU AQUI DENTRO.

ME TIRA DAQUI.

ME TIRA DAQUI.

ME TIRA DAQUI.