Sobrevivendo ao desânimo

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João 16:33 – “Eu disse essas coisas para que em mim vocês tenham paz. Neste mundo vocês terão aflições; contudo, tenham ânimo! Eu venci o mundo.”

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Introdução

Uma das maiores marcas que nossos dias têm deixado nos cristãos do mundo todo é uma profunda onda de desânimo espiritual. Sinto uma profunda tristeza ao ver a quantidade de pessoas que afirmavam ser crentes em Cristo e que hoje estão dentro de suas casas, vivendo como se o Salvador não existisse. Embora tenha consciência de que a profissão de fé da maior parte dos evangélicos brasileiros é deficitária e de que muitos mal conseguem conceituar biblicamente o que é a salvação, essa é uma realidade que precisamos combater para sobreviver. Sim, precisamos sobreviver ao desânimo.

Nessa reflexão, o desejo do meu coração é pontuar com vocês o que é o desânimo, como ele surge em nossas vidas e o que precisamos fazer para vencê-lo e prosseguir nossa caminhada até a Canaã Celestial. E vou exemplificar esse ensinamento acompanhando com vocês a história dos dois discípulos no caminho de Emaús. Espero sinceramente que o Senhor fale ao seu coração!

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O que é o desânimo?

O desânimo é um abatimento que enfrentamos diante de situações que nos amedrontam ou nos desgastam emocionalmente. Uma vez instalado em nosso coração, ele nos leva a desacreditar de nossa fé e das possibilidades que temos de crescer e frutificar diante do Senhor. Em ocasiões em que se mostra persistente, ele nos leva a abandonar projetos pessoais, ministérios e vocações, conduzindo-nos a uma condição de fracasso e apatia.

Biblicamente, o desânimo é a condição daqueles que perderam sua confiança em Deus e se veem mergulhados em um profundo mar de frustrações e inquietações. O primeiro personagem da Escritura a sentir-se desanimado foi Abraão, que não aguentava ar pela prova do tempo até que a promessa referente ao nascimento de Isaque se cumprisse. Jó enfrentou um desânimo profundo ao ter que lidar com a perda dos filhos e de suas propriedades (Jó 10.1). Elias se viu desanimado ao sentir-se sozinho na defesa da fé diante das atrocidades de Jezabel (1 Rs 19.4).

Diversos outros personagens sentiram na pele o que é desanimar, e isso deve nos conduzir naturalmente a duas reflexões.

A primeira: todo crente, por mais virtuoso que seja, está ível de desanimar vez ou outra. Não devemos tratar o fato de nos encontrarmos pontualmente desanimados como o fim do mundo ou da carreira espiritual. Levar a pesada cruz do discipulado nos ombros causa um desgaste natural. Por isso, ao nos convidar a obedecermos ao mandamento de congregarmos regularmente, Deus está nos dando um remédio eficaz para evitarmos o desânimo persistente, porque a fé vem pelo ouvir, e ouvir a Palavra de Deus.

A segunda: embora o desânimo possa chegar a nos atingir, ele deve ser tratado por nós com severidade, porque a Escritura afirma que, sem fé, é impossível agradar a Deus. A desesperança, que naturalmente acompanha esse esmorecimento, dificultará nossa percepção da graça de Deus e, paulatinamente, afrouxará nossas convicções e valores. O desânimo persistente, que se configura como uma forma de incredulidade, deve ser tratado como pecado, o que exige de nós arrependimento e mudança de coração.

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Dois discípulos no caminho de Emaús

No dia em que Jesus ressuscitou, dois dos seus discípulos estavam a caminho de uma aldeia chamada Emaús, que ficava a cerca de dez quilômetros de Jerusalém. Ambos estavam profundamente impactados pelos fatos que haviam ocorrido (a morte cruenta de Cristo na cruz) e entristecidos porque a esperança que haviam criado a respeito da obra do Messias havia se frustrado.

A primeira coisa que percebo aqui é o quanto o desânimo é contagioso e como os desanimados precisam desanimar mais alguém para se sentirem melhor. Ambos os discípulos estavam compartilhando suas frustrações, não para se ajudarem, pois o texto deixa claro que eles estavam entristecidos.

A segunda coisa que percebo é o tratamento especial que Cristo dedica a quem está desanimado. Podemos imaginar que o desanimado está sozinho, mas a Escritura nos mostra que Deus sente prazer em levantar o caído, e aqui não foi diferente: enquanto eles conversavam e discutiam, o próprio Cristo foi até eles e lhes perguntou: "O que é isso que vos preocupa à medida que vocês caminham?" (v.17). Apesar de o desânimo poder se configurar como um estado pecaminoso, Jesus não abandona o desanimado.

A terceira coisa que o texto deixa claro é que o desanimado sempre tem desculpas para a sua situação. Ao serem questionados por Jesus a respeito de suas tristezas, um deles respondeu que estavam daquela maneira pelos fatos que haviam acontecido com Jesus (até o momento, eles não o haviam reconhecido). Eles esperavam que Jesus fosse o libertador político de Israel (o que nunca foi o plano divino) e, ao perceberem que essa expectativa falhou, optaram por mergulhar novamente no profundo mar da desilusão. É, realmente, os discípulos às vezes não sabem lidar com os caminhos profundos do Senhor.

A quarta coisa que observo é que havia uma frustração em ambos porque alguns haviam alegado ter visto o Cristo ressuscitado, mas eles ainda não o haviam visto (e estavam diante d'Ele, sem perceber). Uma das fontes geradoras do desânimo é quando pensamos que Cristo está fazendo mais pelo nosso irmão do que por nós. Quando não entendemos o evangelho da graça, pensamos que Deus existe para nos satisfazer quando precisamos d'Ele. Contudo, ao sermos iluminados pelo Espírito e vermos o tamanho da nossa depravação espiritual, somos encorajados a perceber que o perdão dos pecados e a justificação são provas suficientes da bondade de Deus para conosco. Um crente que tem consciência dos seus pecados e do perdão que recebeu é capaz de se "alegrar com os que se alegram", sem perder seu ânimo espiritual.

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As lições do texto para sobrevivermos ao desânimo (continuação)

"E, começando por Moisés e todos os Profetas, explicou-lhes o que constava a respeito dele em todas as Escrituras."

A terceira coisa maravilhosa a ser observada no texto foi a mudança de atitude dos discípulos. Lembra que falei que o desânimo é contagioso? A fé é muito mais! Após algum tempo de conversa com Jesus, o coração deles ficou aquecido, a ponto de não quererem mais ficar sozinhos. Eles precisavam continuar ouvindo aquelas palavras de vida eterna, que lhes fizeram enxergar que, mesmo na tragédia da cruz, o Deus soberano estava cumprindo, de modo cabal, seu plano de levar pecadores ao arrependimento e atrair seus eleitos à fé pessoal em Jesus Cristo.

Se quisermos vencer o desânimo, precisamos estar perto de pessoas animadas. Observe os desanimados na igreja e perceba duas coisas: ou eles preferem ficar à parte do que Deus está fazendo na comunidade, ou se juntam a outros desanimados como eles. Agora, olhe para aqueles que têm dado frutos abundantes para o Reino: eles sempre estão ladeados por pessoas cheias de fé. Ande com pessoas cheias de fé, e sua incredulidade será vencida.

"Mas eles o convenceram a ficar, dizendo: — Fique conosco, porque é tarde, e o dia já está chegando ao fim. E entrou para ficar com eles."

Por fim, a lembrança dos sofrimentos do Messias lhes trouxe ânimo para continuar. Quando entraram para o repouso e foram fazer a refeição, Jesus tomou o pão e o partiu diante deles. Esse gesto era um costume judaico de dar graças pela refeição. No ato, o hospedeiro (que não era o caso de Jesus, pois Ele era o hóspede) levantava o pão ao céu, o partia e agradecia a Deus. Certamente, ao levantar suas mãos em oração, as feridas dos cravos ficaram evidentes; aquelas marcas de amor aguçaram suas memórias, e eles perceberam que diante deles estava o Amado e Bendito Salvador.

Precisamos, diariamente, trazer à memória as verdades eternas do evangelho. O Filho de Deus morreu na cruz não para provar o nosso valor, mas para demonstrar o tratamento severo que Deus tem com o pecado. A minha e a sua depravação custaram todo o sangue de Cristo na cruz. Para reunir o seu povo, aqueles que Ele escolheu para serem d'Ele antes da fundação do mundo, Deus enviou seu Filho para morrer por nós, pecadores indignos, e nos tornar seus herdeiros e coerdeiros com Cristo.

Imaginar que Cristo sofreu a ira que pertencia a mim e creditou em mim Sua justiça deve me inspirar a seguir em frente, levando, dia após dia, minha cruz, arrependendo-me dos meus pecados e crendo n'Ele para minha salvação.

"E aconteceu que, quando estavam à mesa, ele pegou o pão e o abençoou; depois, partiu o pão e o deu a eles. Então os olhos deles se abriram, e eles reconheceram Jesus; mas ele desapareceu da presença deles."

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Conclusão

Que Deus, por sua graça, avive nosso coração e nossa esperança, para que sigamos diante d'Ele com coragem e ousadia, cumprindo nossa vocação e não permitindo que o desânimo ocupe o lugar que pertence a Cristo em nossa vida. Que o sofrimento do Salvador para nos resgatar nos encoraje a, dia após dia, perseguirmos o objetivo de glorificar a Deus e sermos achados irrepreensíveis na ocasião da Sua vinda.

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