Mórbida Páscoa

Gostaria de convida-los a refletir sobre algumas questões pertinentes a todo o simbolismo existente sobre o solstício de primavera(Ostara), pessach ou páscoa. O texto ficou maior do que gostaria, porém espero que a leitura do mesmo seja feita com carinho, e que lhe agregue um pouco mais de conhecimento sobre o assunto.

Lembrando que aqui exponho meu ponto de vista, embasado pelo conhecimento que adquiri e vivenciei. Lembro também que não existe verdade absoluta, muito menos verdade que não possa ser questionada.

Para os povos antigos esse sabbat marcava a vitória da vida sobre a morte, o renascimento das plantações, a recuperação do solo outrora tornado infértil pelo inverno. A morte trazida pelo inverno não era somente simbólica, era real. Muitos dos mais velhos, doentes e pobres não aguentavam ar pelas noites frias e escassez de alimento e vinham a falecer.

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As tradições pagãs tem muito peso na construção de uma das religiões mais influentes no ocidente, essa que é uma derivação da crença judaica assimilou nosso conhecimento, porém perverteu o seu significado. Com a noção romana de se adaptar para vencer, esta fez uso da sabedoria de vários  sabbats para tornar mais suave a transição daqueles que muitas vezes nem mesmo poderiam se negar a tal acordo.

Agora gostaria de mostrar como é equívoca e sombria a visão lançada por esta religião sobre nosso evento de renascimento. Todos deveríamos estar cientes de algo que muitas vezes deixamos escapar: "Quem conta a história é sempre aquele que sobrevive". Faço uso dessa afirmativa para lembrar a meus leitores que aqueles que perdem as guerras, sempre são culpados, errados, usurpadores e vilões. Simplesmente pelo fato de como estão subjugados não ganham direito a fala. Mas por qual motivo esse argumento tem relevância  neste texto? Ora, é óbvio... a história por trás do mito da morte e ressureição da divindade cristã é contada pelo lado vencedor ou melhor, pelo lado cujo o interesse deveria ser conservado.

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Sou de família cristã, e por vezes ficava chocado com a violência de suas tradições, que em teoria pregam ao amor, perdão e aceitação. Mas que já é controversa pelo simples fato de ter sua fé baseada unicamente na ressurreição de um homem, que fora perseguido, entregue pelos seus, torturado, humilhado e morto.

Ano após ano esses fazem um ritual mórbido, o que não é alheio a sua prática já que seu maior símbolo é um instrumento de tortura, muitas vezes até com homem morto pregado a ele. Nessa época eles celebram e prestam culto a todo sofrimento vivido por um homem tido como 'santo'. Acima disso, creem que a morte e sofrimento deste os exonera de seus crimes e erros, por isso essa adoração do hediondo lhes parece tão aceitável.

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Peço a você meu leitor que olhe essa situação com outro olhar. Imagine que esse homem santo, é na verdade é um homem que é parte de uma divindade inerente a tudo que existe ou já existiu. Este se torna sagrado pela compreensão do sagrado que habita que em si, e assim tenta compartilhar este entendimento aos que estão ao seu redor. Esse ser ao se deparar com a situação precária de vida de muitos dos membros da sociedade onde está inserido acaba por atacar o sistema atuante na época, tanto ao religioso quando ao político.

Ideias revolucionárias causam obviamente revoluções e revoltas, então como é nos dias de hoje quando algo ameaça a soberania do sistema vigente este ataca a ameaça com todos os meios disponíveis. Neste caso, o caminho mais simples era humilhar e matar o homem que incitava o povo a se rebelar convertendo sua imagem em algo vergonhoso. Como provas desse fato podemos citar o modo da morte, a crucificação era um método de morte torturante, humilhante e demorada, que deixava um corpo exposto para intimidar e desencorajar a todos que pensassem se rebelar contra Roma. Bem como a inscrição sobre sua cabeça, que atribui sua morte por um crime político.

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O que eu quero que vocês reflitam é: Será mesmo que alguma divindade existente, realmente boa ficaria feliz em ver um ser humano ando por todo esse sofrimento? Ou ainda, gostaria que os homens vissem a esse episódio como uma vitória? Para mim isso tudo não a de puro e simples egoísmo e interesse. As classes dominantes fizeram seu melhor para manipular as massas e converter um crime em bênção para 'todos'. Com o movimento de revoltas crescente por parte dos cristãos primitivos, nada mais fácil que se livrar de uma execução do que ressuscitar o condenado (a ressureição não era consenso entre todas as seitas cristãs)... e nada mais dá mais prazer aos crentes que uma história de sofrimento que culmina em liberação para 'todos' os homens! Assim todas as culpas foram amenizadas, todas as dores transformadas em bênçãos e todos os crimes apagados.

Então meus caros, ao festejar tal evento na verdade exaltam ao que de pior existe no ser humano, exaltam a sua crueldade. Esse evento nada mais é que uma abominação aos olhos de qualquer ser! A morte de homem nunca deve ser glorificada, muito menos nesse caso onde fica clara toda a maldade humana. Não é certo, muito menos libertador conceber que sangue, sofrimento e morte sejam usados para confortar os corações pesados daqueles que não são capazes de lidar com suas próprias culpas.

Se existe uma deidade que se alegra com todo esse evento, tenho certeza que ela não é algo a que se deva seguir.

Conteúdo Original Caldeirão

Azvicknael Victorius