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[BIUC]O PODER MÁGICO DO CÍRCULO
[B]SIMBOLISMO, HISTÓRICO, FINALIDADES
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O PODER MÁGICO DO CÍRCULO
SIMBOLISMO, HISTÓRICO, FINALIDADES
Todas as manifestações de poder no mundo acontecem em círculos. O céu é redondo e ouvi falar que a Terra é redonda como uma bola e assim também são todas as estrelas. O vento rodopia em círculos. Os pássaros constroem seus ninhos em forma circular, pois a religião deles é a mesma que a nossa. O Sol gira em círculo. A Lua também e ambos são redondos.
Até mesmo as estações retornam sempre para o mesmo ponto.
"A vida dos seres humanos é o círculo de uma infância a outra e assim é em tudo onde o poder se manifesta." – Black Elk, chefe dos índios Oglala Sioux, citado por J. E. Brown em Madre Tierra, Padre Cielo
O círculo é um símbolo antigo e universal, que representa a unidade e a totalidade; tem uma forma perfeita e infinita, sem começo nem fim, que caracteriza a continuidade.
Ele é um dos padrões energéticos fundamentais do mundo natural, observado nos ciclos solares e lunares, na Roda do Ano, na mandala da vida e das encarnações, no movimento giratório dos centros de força do ser humano (cujo nome em sânscrito – chakra – significa “roda”), na eterna e permanente agem do tempo.
Nada é estático, tudo se movimenta e muda, a espiral contínua da transformação se reflete na vida cíclica do Todo, onde tudo renasce, se desenvolve, alcança a plenitude e diminui até desaparecer, para depois renascer.
O movimento dos corpos celestes; a dança das estações; as mudanças de luz e sombra, de
pressão e umidade, de calor e frio, de expansão e retração se refletem na vida cósmica e humana, no macro e no microcosmo.
Por ser o círculo a forma pela qual as energias universais se integram, ele se tornou o símbolo mais antigo e fundamental da humanidade.
Inúmeros mitos de criação descrevem a origem do mundo a partir do vazio primordial ou “o
grande redondo”: o ovo cósmico, o ventre da escuridão, a espiral ou a bolha de luz.
Combinando
as forças cósmicas com a forma feminina, o círculo torna-se uma imagem da Criadora, a Grande Mãe Universal, de cujo ventre (cósmico, telúrico ou aquático) originou-se a vida.
Os povos antigos usavam o círculo nas suas cerimônias e encontros comunitários para reverenciá-la e invocar sua proteção.
As culturas pré-históricas matrilocais (bem como sociedades tribais contemporâneas) construíam suas casas, altares e lareiras em formato arredondado. Os túmulos, os espaços de culto e celebração, os locais para guardar mantimentos e animais, as fontes e todas as vasilhas e cestas eram redondas.
As comunidades se agrupavam e cresciam a partir de um espaço central circular, que está presente no projeto urbanístico de grandes cidades, como Paris e Washington.
Os antigos templos, os círculos de menires, as rodas nativas e sagradas de cura, os círculos
mágicos e dos conselhos, as danças sagradas, as fortificações, os anéis e escudos de proteção, reproduziam a forma sagrada do círculo, que permeou durante milênios crenças e conceitos, cerimônias e rituais, bem como o pensamento filosófico e religioso.
A aplicação prática desse símbolo sagrado levou à criação da roda – da carroça, da moenda e do oleiro – que permitiu o progresso da civilização.
O significado linguístico do círculo é múltiplo, unindo o sagrado e o profano.
Em sânscrito, mandala significa “círculo, globo, redondo, anel, orbe, halo, grupo, coleção, multidão”.
O hieróglifo egípcio se refere ao “cosmos, ao Sol, ao dia, ao começo, à placenta, ao olho, ao deus solar, ao mundo”.
Em grego kirkos descreve “o voo em círculos do falcão, a pupila, o ciclope, o tambor, o escudo, a abóboda celeste, o lugar de assembleia”, e o latim circulus significa “anel, tempo”.
Devido ao seu perímetro ininterrupto e contínuo, o círculo representa o tempo, que não tem
começo, nem fim e se movimenta em ciclos.
O zodíaco – definido como o “cinturão da deusa Ishtar” é formado por doze constelações ao longo da trajetória elíptica do Sol. Ele foi criado em 3000 a.C. pelos sumérios em forma de círculo, e os mapas natais têm até hoje forma circular.
Os calendários hindus, chineses e astecas também eram circulares, assim como as rodas sagradas de cura, os círculos cerimoniais dos nativos norte-americanos (com 28 raios partindo de um totem central) e as formações de pedras sagradas dos povos celtas.
Ainda nos dias de hoje, alguns locais destinados a eventos sociais e recreativos reproduzem o formato arredondado das arenas romanas ou dos teatros gregos; e certas organizações religiosas e espirituais criam círculos mágicos de poder e proteção em seus encontros e rituais.
Apesar da presença evidente ou sutil do círculo na nossa vida e realidade, perdemos a
habilidade para o pensamento circular, pois na nossa cultura a linha reta é o modelo certo, o
próprio conceito judaico-cristão de tempo linear.
A história é vista como uma sequência de eventos, sem dar atenção aos ciclos do “eterno retorno”. Na percepção ocidental, o tempo corre para frente, por isso pensamos, planejamos e nos movimentamos apressadamente, sem prestar atenção naquilo que se a ao nosso redor, sem perceber os movimentos cíclicos da vida e da Natureza.
Somente aceitando e praticando a interação com o universo, tendo a percepção dos
processos cósmicos e telúricos, poderemos nos alinhar com as energias naturais e viver de uma maneira mais plena, saudável, harmônica e feliz.
A reunião em círculo de pessoas que compartilham os mesmos objetivos e interesses é uma
maneira ancestral e sagrada de provocar transformações pessoais e coletivas.
Desde o tempo em que as pessoas se reuniam ao redor das fogueiras tribais e nos círculos de conselho (conduzidos por matriarcas ou anciãos), foram criadas e desenvolvidas inúmeras
variantes.
Atualmente existem círculos de diferentes finalidades: diálogo; psicoterapia; dramatização; contação de histórias; estudos; ativismo (ecológico, social, cultural); expansão da consciência; cura; paz; danças; corais; arte; artesanato; cerimônias; rituais; ritos de agens; recuperação de vícios (como os baseados nos “doze os”); encontros de mulheres; adolescentes; homens; casais; entre outros mais.
Apesar de ter sido quase esquecida, a prática primitiva dos encontros comunitários circulares (para aconselhar, ensinar, curar, celebrar) voltou a ser adotada por pessoas do mundo inteiro, pertencentes a religiões e culturas diferentes.
Essas pessoas reunidas em círculos falam abertamente e ouvem com atenção, conversam e chegam a um consenso, cantam, dançam, meditam, tocam tambor, oram, ajudam umas às outras ou celebram.
O círculo tem o poder de coletar, concentrar e direcionar energias para efetuar mudanças e
ajudar nas transformações individuais e coletivas. É um meio de criar um espaço seguro para
praticar a comunicação aberta; compartilhar visões, alegrias e dores; definir objetivos; confiar;
construir uma comunidade solidária; curar feridas da alma e trocar experiências, reconhecendo a interdependência com o Todo e buscando uma comunhão de valores e objetivos.
Para fazer parte de um círculo, as condições necessárias são: conexão amorosa (de coração para coração); confiança e ousadia para falar a própria verdade; disposição para silenciar e ouvir o outro, respeitar e apoiar as outras companheiras; reconhecer, honrar e compartilhar dons e habilidades, medos e sonhos, aflições e esperanças.
O círculo deve possibilitar e incentivar a expressão da gratidão e do reconhecimento – a todos e ao Todo –, bem como criar tempo-espaço sagrado, para cada participante sentir e ampliar a sua conexão com o plano espiritual, com a Fonte Divina. Assim, o círculo a a ser um temenos (santuário, em grego), em que o ambiente exterior, as preocupações e a rotina diária irão se dissipando até desaparecer, permitindo a expansão de consciência.
Na Antiguidade, os sacerdotes e videntes intuíam quais eram os melhores lugares para os
cultos, fossem eles nas florestas, colinas, vales ou grutas. Sobre os antigos templos muitas igrejas cristãs foram construídas, aproveitando-se as linhas de força da Terra, que tornavam esses locais mais propícios para a introspecção e reverência. No nosso mundo moderno, sentimos falta de santuários naturais e nem sempre uma igreja ou templo nos oferece condições para sentirmos a unidade com toda a vida e superar o isolamento e o sentimento de separação.
Um círculo bem
estruturado, com um centro espiritual que dê condições para a união e a conexão (entre os
participantes, com a Fonte Divina e a plenitude da vida), poderá ser um temenos; mesmo que não seja um local na Natureza, ele abrirá “portais” para a comunhão com ela.
Quando expandimos o nosso senso de eu [self] para incluir o mundo natural e
participar conscientemente da teia da vida, criamos uma nova consciência chamada “ecológica” ou ecoself.
A “consciência ecológica” nos incentiva a assumir responsabilidades e participar ativamente da preservação da Natureza e de todos os seres que nela vivem.
Mesmo que a mudança da nossa consciência habitual seja difícil e requeira um aprendizado, para direcionarmos a atenção e energia para outros valores além dos interesses pessoais (ligados aos prazeres do consumismo, avanços tecnológicos, diversão ou trabalho), a energia de um círculo poderá auxiliar e transmitir novas maneiras de viver.
Poderemos reaprender novos valores como a simplicidade voluntária, a cooperação, a solidariedade, o respeito pela vida e a biodiversidade, o empenho para criar e viver a paz, o incentivo às iniciativas e contribuições dos participantes.
O círculo está reaparecendo na nossa cultura após séculos de egocentrismo e oferecendo
oportunidades para a conexão com o mundo natural.
Os esforços conjuntos das participantes do círculo são no sentido de servir à comunidade e oferecer atividades e ocasiões que façam bem à alma.
Existe entre as pessoas do mundo todo uma tendência cada vez maior para procurar “espíritos afins”, com interesses e missões comuns, e que expandam o nosso pequeno mundo individual para abranger uma família espiritual.
Sem medo de perder a identidade individual, as pessoas encontram dentro de um círculo
condições para reconhecer e usar melhor seu potencial e habilidades. Participando em conjunto de práticas de meditação ou celebração, elas vivenciam a livre expressão de pensamentos e emoções e reconhecem com mais confiança e segurança a sua própria voz interior.
Ao receber insights sobre questões pessoais ou transpessoais, elas se fortalecem e contribuem assim para a integração e coesão do círculo.
O grupo, assim como o indivíduo, tem uma energia própria, com características específicas em função da egrégora criada pelos participantes.
Ao ampliar a sua participação na teia da criação, elas expandem o Eu para o Nós.
Segundo a escritora Christina Baldwin, no livro Calling the Circle, o círculo irá recuperar seu
lugar de honra na “Terceira Cultura”; ela o define como: “uma prática interpessoal e global para agir com respeito com relação aos outros, aos recursos da Terra e aos valores espirituais”.
A “Terceira Cultura” será criada quando as pessoas modificarem suas ações e reações atuais, substituindo as acusações, a agressão, o julgamento, as diferenças, o isolamento, a ansiedade, a hierarquia piramidal por cooperação, compreensão, semelhanças, solidariedade, meditação, diálogos e conselhos circulares.
O círculo originou-se na “Primeira Cultura”, a época primeva da humanidade, quando as
pessoas viviam em comunidades baseadas nas formas e conceitos circulares e se sentiam como parte da teia de criação. Durante milênios, nossos ancestrais migraram e se adaptaram às variações climáticas, geográficas e aos recursos naturais, criando estruturas sociais e crenças religiosas que os sustentavam e protegiam.
Evidente em petróglifos, pinturas, mitos e construções é a constante presença dos círculos: de celebração, conselhos, comunitários, comunhão com a Natureza e reverência ao plano espiritual e aos espíritos ancestrais.
A “Segunda Cultura” é a atual, contemporânea, em que o círculo foi substituído pelo triângulo,
aplicado ao sistema de organização social e transformado em símbolo de hierarquia.
A hierarquia é uma estrutura triangular que posiciona os líderes no topo e lhes confere autoridade para governar os que estão abaixo deles.
O triângulo não nega o círculo, eles podem ser combinados, de maneira harmônica, assim como também a hierarquia é útil em vários setores da sociedade.
O que é nocivo no mundo moderno não é a presença do triângulo, mas a sua utilização
agressiva, como uma flecha que visa atacar sistematicamente as estruturas sociais e espirituais pré-existentes.
A Segunda Cultura foi imposta sobre a Primeira e o círculo foi negado como um modelo de governar, de interagir socialmente, de celebrar e ou de reverenciar.
A hierarquia, mal direcionada, tornou-se o modelo negativo do “mundo da máquina”, que funciona sem alma ou consciência, destruindo os ecossistemas do planeta do qual depende.
A “máquina” não permite tempo e espaços ociosos, condições para pensar, refletir, criar, viver, ser, celebrar, agradecer.
Mas se relembrarmos e resgatarmos a presença e o poder do círculo, iremos encontrar um oásis de paz, parceria e harmonia, que não será controlado pela “máquina” e que permitirá novas formas de percepção e ação, para restabelecer a conexão entre nós, a Natureza e o mundo espiritual.
O círculo é uma estrutura que dilui a liderança em torno da sua circunferência, oferecendo
meios inclusivos de delegar tarefas, consultar, orientar, auxiliar, agir, criar, aprender, servir,
reverenciar, planejar e alcançar objetivos, comemorar e orar, reconhecendo a importância de
cada participante e honrando sua contribuição.
E, acima de tudo e sempre, ele permite criar um centro sagrado nas nossas vidas, proporcionando e fortalecendo a conexão individual e grupal com a Fonte Divina, e celebrando em conjunto a diversidade, a beleza e a sabedoria de toda a existência.
Fonte: Círculos sagrados para mulheres contemporâneas / Mirella Faur.
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