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[B]A ARTE DA INVOCAÇÃO
O ato da invocação está presente em inúmeras culturas. Orações, cântico](https://image.staticox.com/?url=https%3A%2F%2Fpa1.aminoapps.vertvonline.info%2F9206%2Fe409af2157d7e090e269f583f4be11f49df418e1r1-500-712_hq.gif)
A ARTE DA INVOCAÇÃO
O ato da invocação está presente em inúmeras culturas. Orações, cânticos, mantras fazem parte da liturgia de diferentes religiões e são termos utilizados para expressar o ato de invocar.
A palavra invocar vem do latim invocare. Este termo pode ser dividido em in, significando para dentro e vocare que expressa a idéia de chamar.
Desta maneira, podemos concluir que quando invocamos uma força divina estamos atraindo os poderes e atributos de uma determinada divindade para dentro de nós ou ao nosso mundo. A terminologia invocar também tem sido usada amplamente para representar a idéia de chamar algo em auxílio.
O intuito das orações e cânticos sagrados das muitas religiões, em todo mundo, possui exatamente esta intenção: tornar o divino manifesto através de nós para nos ajudar.
Todas as religiões do mundo utilizam a oração como tentativa de comunicação com os seus Deuses. A oração é o ato da invocação na prática.
A arte da invocação pode ser compreendida como a capacidade de se comunicar com os Deuses, espíritos ou Outro mundo através de uma seqüência de palavras estruturadas de forma poética, repetitiva ou mântrica com a função de pedir auxilio, orientação ou transmitir e compartilhar emoções, pensamentos e sentimentos ao Divino.
Uma invocação pode ter a forma de um poema, ladainha, hino ou encantamento. Ela pode ser espontânea ou fazer parte de um conjunto invocatório usado ao longo do tempo e repetido continuamente por um grupo de fiéis.
A invocação com o intuito de alterar a realidade através da comunicação com Divino é tão antiga quanto o surgimento da própria vida.
Em caracteres rupestres nas paredes das cavernas podemos ver vestígios deixados pelas
primeiras civilizações da humanidade que dão indícios de que os povos primitivos já faziam uso desta arte há milênios.
Encontramos vestígios das primeiras manifestações mágicas e religiosas a partir de 120 000 AEC1
Estas primeiras formas de expressão religiosas atestam o culto aos mortos e uma prática espiritual xamanística-animista, cujos principais itens de veneração incluíam árvores, animais, pedras, locais de poder e objetos ritualísticos.
Já nessa época podemos vislumbrar o início do uso da arte da invocação em um contexto ritual e religioso em vestígios arqueológicos deixados no interior das cavernas e que trazem demonstrações de zooantropomorfismos.
Os homens aparecem nessas inscrições geralmente prestando alguma forma de reverência. Em muitas delas, eles são mostrados com as mãos para o alto em movimentos de dança, demonstrações claras da invocação dos poderes divinos para alteração de consciência e da física exterior.
Também são comuns caracteres rupestres com desenhos de homens cobertos com peles de animais, registrando os primeiros Xamãs da humanidade, os homens sábios que através da invocação de poderes extraordinários serviam como intermediários entre o mundo dos Deuses e espíritos.
O autor usa as atuais marcações de AEC (Antes da Era Comum) e EC (Era Comum) para representar as ultraadas formas antes e depois de Cristo, respectivamente.
Conforme as primeiras noções de religião foram evoluindo, as formas de invocação divina também aram por evoluções e sofisticações.
Em 30 000 AEC vemos os primeiros vestígios de rituais associados à caça e a
fecundidade, acompanhados de atos rituais invocatórios e propiciatórios.
Posteriormente, em 3000 AEC, as culturas megalíticas iniciam o desenvolvimento de suas primeiras crenças religiosas ligadas aos eventos astronômicos estabelecendo, assim, as primeiras idéias da relação entre os astros e humanidade, lançando luz a novos modelos de ritos invocatórios.
É também nesta mesma época que surgem no Crescente Fértil as divindades antropomórficas ligadas aos ciclos das estações agrícolas, relacionadas ao plantio e colheita dos alimentos.
A partir daqui, os homens aram a não mais depender exclusivamente da caça para a sua sobrevivência, mas principalmente de sua capacidade de saber lavrar a terra e prepará-la adequadamente para que as colheitas fossem fartas.
É nesse momento que os povos antigos am a desenvolver uma profunda relação com os Deuses de sua terra e a fortalecer estes laços por meio de rituais específicos para assegurar a fertilidade do solo.
Provavelmente as primeiras tradições rituais, repetidas geração após geração, surgem nesse momento da história pois os homens deixam de ser nômades para se tornar uma civilização de fixação.
Isto provavelmente exigiu que fossem deixados de lado os rituais mais espontâneos, dando lugar às cerimônias mais estruturadas e fixas o que inclui também um conjunto de orações e invocações que despertam a força mágica não mais pela espontaneidade dos ritos, mas pelo uso repetido dos mesmos rituais e sentenças durante as invocações.
Em antigas civilizações como a grega e a romana, as invocações utilizadas em rituais eram profundamente sofisticadas.
A religião helênica possui um conjunto próprio de invocações divinas, transmitidas geração após geração, que tinha a função de despertar a natureza e força dos Deuses.
As invocações mais sagradas e importantes estavam sob a guarda dos sacerdotes, que as recebiam ritualmente após serem iniciados no culto a determinadas divindades.
As mais famosas inscrições ritualísticas da língua umbra (um dos mais antigos idiomas itálicos) estão sobre um conjunto de sete folhas de bronze, conhecidas como Tábuas Iguvinas, procedentes de Gubbio e datadas de fins do século II AEC.
Elas contêm prescrições religiosas e súplicas como “Se alguma coisa foi dita impropriamente, se algo foi feito de maneira inapropriada, que isto seja aceito como se tivesse sido feito da forma apropriada”.
Muitas e muitas outras orientações sobre palavras, oferendas e atos rituais utilizadas pelos antigos romanos podem ser encontradas nessas tabuletas, o que demonstra a complexidade e riqueza de seu sistema religioso e invocatório.
A natureza formal e codificada dessas orientações e invocações demonstra que elas somente eram compreendidas por uma casta de iniciados, o que faz com que a nossa compreensão sobre seu verdadeiro significado e utilização tenha chegado a nós fragmentado.
O povo comum não era privado de conversar com os seus Deuses de devoção.
Porém, registros históricos demonstram que na maioria das vezes a comunicação entre o povo comum e seus Deuses se dava de maneira muito
mais espontânea e intuitiva, acompanhada de rituais simples realizados em
cada casa pelo chefe de família e sua esposa.
Muitas das invocações tradicionais greco-romanas sobreviveram até os dias atuais. Muitas delas foram redigidas em plaquetas e estão disponíveis em diversos museus ao redor do mundo.
A obra mais conhecida e que traz algumas das invocações usadas nos Mistérios Elêusis é o livro "Os Hinos Órficos".
Ele é um compêndio com os ensinamentos de Orfeu e muitos dos pensamentos religiosos greco-romanos.
Não se sabe ao certo quem redigiu o referido livro, apesar de sua beleza poética e sabedoria inestimáveis.
Entre os celtas o uso de invocações também era comum e amplamente praticado. Prova disso são as sobrevivências das orações preservadas através da sabedoria popular.
Alexander Carmichael, que viveu de 1832 a 1912, coletou diversos encantamentos, bênçãos, hinos e orações que eram ainda correntes nas regiões escocesas que falavam a língua gaélica.
Esta coleção resultou em uma obra de referência chamada Carmina Gadelica, uma extensa coletânea de 6 volumes, acompanhada de diversas notas de rodapé, lendas e conhecimentos folclóricos registrados entre 1855 e 1910.
Apesar de muitos dos textos lá encontrados fazerem referências cristãs, fica claro nas entrelinhas que as orações preservadas através da tradição oral vêm de um tempo onde a
Escócia era predominantemente Celta e Pagã.
Alguns autores modernos estão fazendo um trabalho de repaganização do Carmina Gadelica, eliminando os vestígios cristãos da obra para reaproximá-la dos seus conceitos Pagãos
originais. É uma obra de referência que vale a pena ser lida por todo Pagão sério em sua busca.
Nas religiões orientais, até hoje se coloca uma grande ênfase na prática da meditação que, em si, é uma forma de oração.
Tanto no Budismo quanto na religião Hindu, a oração é acompanhada da meditação.
Em certos ramos do Budismo a invocação é companheira frequente das meditações. Mesmo que o Budismo veja a oração como uma prática secundária em vista da meditação e estudo das escrituras sagradas, ainda assim a invocação é considerada uma poderosa prática psicoespiritual que pode amplificar os efeitos meditativos.
Nas primeiras Tradições do Budismo, invocações em forma de oração eram consideradas uma expressão ritual do desejo de auxílio aos outros seres e respeito e apreciação à figura de Buda.
O Budismo tibetano enfatiza uma relação devocional com divindades, que pode envolver práticas similares à oração, invocação e rituais para proteção, orientação e auxílio na busca da iluminação.
O Hinduísmo incorporou muitas formas de oração que vão desde a entoação repetitiva de mantras, até o uso de músicas filosóficas e devocionais que envolvem a meditação profunda sobre aspectos de uma deidade específica.
Nas religiões animísticas, xamanísticas e nas muitas formas de Paganismo, a invocação é geralmente endereçada às forças da natureza,
Deuses de um clã e Espíritos Ancestrais levando o invocador a um estado alterado de consciência através do qual ele ganha o ao Outro mundo, onde ele se comunica com “aquilo que não pode ser visto” para conhecer uma revelação, ganhar poderes, ser curado ou orientado em sua busca.
Assim percebemos que a oração não é característica de apenas uma ou outra religião, mas é um conceito universal inerente a todas elas e está presente, inclusive, no Paganismo.
Comments (1)
Muito bom. Parabéns.