✩̋·°✧̥͘*·˚⁺ˈ✩̋·°✧̥͘*·˚⁺┆ ┆ ┆ ┆ ┆ ┆ ┆જ ✾ ┆ ° ♡ • ➵

Dizem que a chuva lava o mundo. Mas há coisas que nem ela ousa tocar.
Na cidade esquecida pelos mapas, havia uma casa onde o tempo parecia suspenso. No sótão, em meio ao cheiro de madeira molhada, repousava um espelho antigo — oval, em moldura dourada lascada, coberto por um lençol manchado de poeira e silêncio.
A jovem Isadora, em uma noite em que a tempestade parecia conversar com as sombras, subiu até o sótão guiada por algo que ela não soube nomear. Talvez fosse tédio. Talvez fosse saudade. Talvez fosse o eco de si mesma.
Ao puxar o pano, o espelho cintilou com um brilho estranho. Ele não refletia exatamente o que estava diante dele — não a cadeira quebrada, nem as velas acesas, nem a janela trêmula. Refletia Isadora… mas com os olhos que ela escondia do mundo. Tristes, honestos. Vazios.
Ela se aproximou, como se o vidro pudesse devolver o que o tempo levou.
— “Por que você me olha assim?”, sussurrou.
O espelho respondeu com silêncio. E nesse silêncio, ela viu. Viu a si mesma quando parou de sonhar. Quando desistiu da carta que nunca enviou. Quando sorriu fingindo que não doía. Quando esqueceu o gosto de sua própria voz.
Chorou.
Mas não de tristeza — chorou porque, pela primeira vez, se reconheceu.
Ali, sob a chuva que batia no telhado como batidas de um coração esquecido, Isadora entendeu: o espelho não era mágico. A mágica era olhar para dentro sem desviar.
Desceu do sótão horas depois, deixando o espelho no escuro. Mas dentro dela, a luz havia se acendido.
“Refletir nem sempre é ver... às vezes, é voltar a enxergar.”
Comment